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O primeiro indígena Kamayurá doutor em Linguística na história do Xingu e no estado de Mato Grosso
Depois de 54 anos do primeiro contato definitivo dos índios xinguanos com a sociedade envolvente, um professor Kamayurá, Aisanain Páltu Kamaiwrá, conclui um doutorado em Linguística e recebe, com louvor, o título de Doutor pela Universidade Brasília, no dia de 28 de maio de 2015. Sua tese de doutorado tem como título "O Kwarýp de Kanutari: uma abordagem Linguística e Etnográfica".
Aisanain Páltu Kamaiwrá iniciou seus estudos no projeto Formação de Professores Indígenas do Xingu, promovido pelo projeto ISA. Fez graduação em Ciências Sociais pela UNEMAT, no âmbito projeto de 3º Grau Indígena, e mestrado em Linguística, na UnB. Foi orientado, tanto no mestrado quanto no doutorado, pela professora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. Desde 2008, é membro pesquisador do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da Universidade de Brasília (LALLI/UnB).
A tese é uma descrição linguística e etnográfica de um ciclo do ritual do Kwaryp, em que o autor da tese foi, ao mesmo tempo, o pesquisador e o "dono do morto", Kanutari Kamayurá. Na tese são descritas estratégias retóricas usadas nos discursos do Kwaryp que os tornam tão eloquentes e didáticos, e apresenta o ritual como um instrumento de renovação da tradição cultural e identidade do povo Kamayurá, assim como de fortalecimento das alianças dos Kamayurá com os outros povos alto xinguanos.
As estratégias retóricas correspondem ao uso de expressões de modalidade, de aspecto, de interjeições, assim como do uso intenso de simbolismo sonoro característico dos seus ideofones, os quais, juntos, perfilam também o modo respeitoso e poético por meio do qual os Kamayurá se comunicam uns com os outros em momentos solenes de sua história.
Aisanain Páltu Kamaiwrá é o primeiro indígena do Alto Xingu a receber o título de Doutor. Ele, agora, retorna à sua aldeia para atuar na nova geração de professores Kamayurá, tendo como perspectiva a documentação de sua língua e cultura junto aos sábios Kamayurá e às novas gerações de professores, em uma prática que acentua a autoria indígena e que tem em vista resultados que contribuam para o fortalecimento da identidade étnica e linguística do povo Kamayurá.