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Mulheres xinguanas realizam assembleia e fortalecem a participação feminina
A III Assembleia da Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas foi realizada, entre os dias 1 e 7 de outubro, na aldeia Pyulaga, do povo Waurá, com o objetivo de promover o empoderamento das mulheres que vivem no Parque Indígena do Xingu.
Na abertura, ocorreu a realização da cerimônia tradicional kajatapa, que faz parte do processo de formação de uma liderança tradicional feminina. "Fomos convidadas para a cerimônia tradicional e em seguida fizemos a nossa assembleia", explicou Kaiulu Yawalapíti, presidente da Associação.
A kajatapa é uma cerimônia de formação da menina como liderança tradicional. Ela fica reclusa desde sua primeira menstruação, sendo orientada e educada pelas outras mulheres que já vivenciaram esse processo e preparam a menina com remédio, raízes, e também transmitindo cantos e conhecimentos tradicionais. O período de reclusão varia de dois a três anos.
A Assembleia também debateu temas polêmicos e considerados importantes pelas mulheres, tais como, prostituição, alcoolismo e lixo nas aldeias. Esses temas foram abordados para atender à reivindicação das mulheres apresentadas durante as rodas de conversa, realizadas em 2014. "Este é um momento de diálogo, onde podemos colocar nossa preocupação com o futuro das meninas e da nossa comunidade", resumiu a presidente.
Durante o evento, foram apresentadas propostas que apontam o caminho para um bem viver comum e soluções para amenizar problemas e orientar os próximos passos, junto aos parceiros e gestores. Com a intensão de dialogar com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que foram lançados, em setembro, na Conferência das Nações Unidas (ONU), a representante do Pnud, Ana Paula Sabino, esteve presente e destacou a importância do empoderamento da mulher indígena.
"Fizemos diversos encaminhamentos, que vão nortear os gestores e direcionar as atividades futuras da associação", avaliou Kaiulu.
O evento foi finalizado com a eleição da nova diretoria da Associação Yamurikumã e a realização do moitará, momento em que as mulheres trocaram produtos como artesanatos, alimentos, roupas, linhas, miçangas, entre outros.
Participaram 130 mulheres indígenas, dos povos Kamayura, Matipu, Kawaiwete, Nafukua, Kalapalo, Kuikuro, Waurá, Ikpeng, Yawalapiti, Aweti e Mehinaku. O encontro também contou com a participação de professores, agentes indígenas de saúde e saneamento, lideranças tradicionais, representantes da Funai, do Instituto Catitu e do Programa das Ações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
"Acreditamos no trabalho sério que elas vêm desenvolvendo. Os temas vão ao encontro das políticas indigenistas de proteção dos direitos indígenas e da própria Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial (PNGATI)", afirmou a representante da Funai, Mariléia Peruare.
Yamurikumã, que dá nome à associação, é a manifestação das mulheres xinguanas, praticada por diversos povos (Aweti, Kalapalo, Mehinako, Waurá, Matipu, Nafukua, Kamayura, Kuikuro e Yawalapiti) que habitam o Parque Indígena do Xingu. São mulheres poderosas que se manifestam de diversas formas, realizam cerimônias, fazem roças, constroem casas, enfrentam qualquer desafio. São mulheres cantoras que promovem o bem viver da comunidade.
Diz a lenda que um dia os homens foram pescar e ficaram acampados, não retornaram no dia esperado e as mulheres se revoltaram e resolveram assumir as atividades masculinas. Fizeram cerimônias, casas, roças, construíram um universo feminino independente dos homens. Foi um momento do despertar da força feminina, o verdadeiro empoderamento da mulher, quando elas perceberam que podem tudo.