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Memórias, desafios e expectativas de futuro compõem as discussões na Conferência Regional de Dourados
O caminho das águas de um rio foi utilizado pelos Guarani Kaiowá para descrever o tempo passado e o presente, e para nortear suas propostas para a I Conferência Nacional de Política Indigenista. A época sem cercas relembrada pelos mais velhos, a Guerra do Paraguai, a criação das reservas, a presença dos Terena para trabalhar na construção de ferrovias e plantio da erva-mate, estes e outros marcos são águas que passaram por esse rio simbólico, de muitas perdas, resistência e crença no bem viver.
No movimento constante das águas está o sarambi, o tempo das remoções com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e de reservas indígenas, a chegada dos "brancos" e dos missionários católicos e evangélicos, a criação das Colônias Agrícolas Nacionais e os limites impostos pelas cercas.
Um novo tempo de enfrentamento, Jevy Je'y Tekoape, de retorno, retomada e ocupação se refere ao período de 1970 aos dias de hoje, com as retomadas dos territórios tradicionais de Ñanderu Marangatu, Pacurity, Potrero Guasu, Arroio Korá, Guayviry, Sombrerito, Cerro'i, Kurusu Amba, de Ypoi. Os marcos também passam pela criação das associações indígenas, da Aty Guasu, a implementação da educação escolar indígena, a formação de professores e a criação da Comissão Nacional de Política Indigenista. Essas e outras conquistas foram pontuadas no caminho das águas do rio da vida dos Guarani Kaiowá.
A luta permanente na busca do Teko Porá, o bem viver, surge nos debates da Conferência Regional de Dourados. Alguns desafios apontados foram de tornar públicos os resultados das discussões voltadas às políticas indigenistas e colocá-los em prática, de concluir a demarcação de terras e assegurar a posse plena aos indígenas, de garantir a segurança e cessar as mortes das lideranças, além de fazer com que o Judiciário entenda as questões territoriais indígenas na região.
Para os povos do Cone Sul do MS, a demarcação dos territórios representa assegurar às comunidades terras produtivas, diminuindo também o confinamento em que vivem hoje as famílias. Tudo isso alinhado à valorização da cultura tradicional, dos rezadores, das crenças e do modo de vida próprio indígena. Esses e outros desafios têm sido compartilhados nas discussões dos grupos de trabalho e serão levados à Conferência Nacional, que acontecerá em dezembro, em Brasília-DF.
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