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Índios ganham cartilha para prevenir AIDS na Amazônia
Com abordagem inovadora, publicação destinada ao povo Kanamari trata de prevenção, diagnóstico e tratamento sob a perspectiva da cultura indígena
Os índios Kanamari, que vivem no Vale do Javari, no Amazonas, junto à fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, terão à sua disposição cartilha com orientações sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de DST (doenças sexualmente transmissíveis), aids e hepatites virais. O lançamento da cartilha será realizado nesta segunda-feira (17/08/2015), no município de Atalaia do Norte, no Amazonas.
Dirigida a profissionais de educação e saúde indígenas, a publicação bilíngue foi elaborada em língua indígena e traduzida para o português. A ideia é fornecer informações de forma clara e didática.
Com abordagem inovadora, a publicação leva em conta a cultura e os saberes tradicionais dos povos indígenas. Assim enfrenta o desafio de levar informação e conscientizar essa população sobre temas como sexo desprotegido e uso de álcool e outras drogas, além de hábitos que aumentam o risco de infecção pelo vírus HIV.
A cartilha "Falando sobre Prevenção às DST/Aids e Hepatites Virais – Kanamari" é a quarta da Série Javari, uma coleção elaborada pela UNESCO no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e pelo UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids), em parceria com o Ministério da Saúde e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Os outros três volumes da série - dirigidos aos índios Matis, Mayoruna (Matsés) e Marubo – já foram lançados e estão disponíveis no site da UNESCO no Brasil.
A série foi concebida a partir de oficinas de prevenção realizadas no Vale do Javari, com a participação de antropólogos, professores, agentes indígenas de saúde, pajés, curandeiros, parteiros e lideranças de diferentes povos da região.
O volume dedicado aos índios Kanamari atendeu a uma demanda da própria comunidade. A publicação apresenta o chamado "Plano de prevenção Kanamari", elaborado pelos próprios indígenas, com recomendações como "não beber nem levar bebida alcoólica para a aldeia" e "respeitar, resguardar e não transar quando bebe Ramih", em uma referência a uma bebida típica indígena. Outras orientações são reveladoras dos desafios que cercam a convivência de indígenas e não indígenas. Uma delas é "não comprar aparelho de som", pois os Kanamari vêm nesse tipo de aparelho uma ameaça à própria cultura; outra é "não aceitar estrangeiros (peruanos, brasileiros) e outros desconhecidos em nossas aldeias", já que doenças como aids e hepatites chegaram aos indígenas pelo contato com não indígenas.
A UNESCO no Brasil e o UNAIDS estão empenhados em cooperar com políticas públicas que assegurem os direitos diferenciados dos povos indígenas, por meio da educação e da saúde. A metodologia utilizada para a construção do material bilíngue é o diálogo intercultural, que busca promover uma troca de conhecimentos entre as culturas, respeitando e reconhecendo práticas, conhecimentos e hábitos indígenas.
Nesse contexto, indígenas e profissionais não indígenas da área de saúde podem construir juntos estratégias de prevenção adequadas a padrões socioculturais específicos. O que se busca é ajudar a reduzir o estigma e o preconceito enfrentados por esses povos, colaborando com sua permanência no Vale do Javari.