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Participantes da Etapa Regional CE/RN/PI falam sobre experiências e desafios na construção da política indigenista
Julivan Veríssimo Rosa, de 25 anos, é professor na Escola Indígena Brolhos da Terra, situada na Terra Indígena Barra do Mundaú, em Itapipoca (CE). Ele é um dos dois delegados que representam os Tremembé de Itapipoca, na Etapa Regional CE/RN/PI da I Conferência Nacional de Política Indigenista, que acontece em Fortaleza, de 28 a 30 de setembro.
Para ele, a experiência tem sido bastante produtiva. "Esse é um momento que temos para fazer nossas próprias políticas públicas e reivindicar o que precisamos. É importante para a gente dizer o que estamos pensando. É um momento para estar com os parentes dos outros povos e até dos outros estados, para a gente se unificar e, na Conferência Nacional, falar uma só voz."
Uma das mais importantes propostas a ser levada à Etapa Nacional, na opinião do Tremembé, é o fortalecimento da Funai e de outras instituições "que têm o dever de nos ajudar." Avaliou que a falta de servidores, recursos e infraestrutura tem prejudicado a atuação do órgão indigenista junto aos povos indígenas da sua região.
Também indígena do Ceará, Francisco Climério Lima, pertence à etnia Anacé e tem 17 anos. Apesar da pouca idade, já participa, há algum tempo, de diferentes espaços do movimento indígena. Para ele, um ganho importante nesse processo de discussão promovido pela Conferência Indigenista é "a possibilidade de construir diretrizes para as próprias instituições que atuam com os povos indígenas, porque, às vezes, nem elas mesmas sabem como lidar com a gente, não têm conhecimento sobre nossos modos de vida."
Climério Anacé ainda destacou a importância das discussões sobre o direito à memória e à verdade para o resgate e a afirmação das identidades dos povos indígenas. "Se a gente não discute o passado, não vai poder construir o futuro."
Delegado pelo estado do Rio Grande do Norte, o agricultor Francisco Ismael de Souza, do povo Potyguara, é natural da comunidade Mendonças do Amarelão, no município de João Câmara. Ismael avaliou a experiência em participar do processo de Conferência como bastante positiva pela possibilidade de diálogo, troca de experiências e integração entre os povos dos três estados participantes.
Ele exemplificou sua fala contando que, na sua comunidade, cerca de 90% das famílias sobrevivem do beneficiamento e da comercialização da castanha do caju. Como não possuem terras demarcadas, não conseguem plantar e precisam comprar o produto. Em conversa com indígenas do Ceará, que produzem o fruto, já planeja uma troca produtiva entre os parentes com o objetivo de firmar parcerias.
No entanto, o aspecto mais relevante para os povos do Rio Grande do Norte é a possibilidade de ocupar espaços e afirmar suas identidades étnicas, uma vez que as reivindicações indígenas no estado são recentes, com início por volta do ano 2000. "A expectativa para a Conferência Nacional é de poder dar visibilidade aos povos do Rio Grande do Norte, vistos ainda com muito preconceito. Nossa necessidade é da gente se fazer presente e afirmar que o nosso estado tem indígenas sim", ressaltou. Participam da Etapa Regional 10 delegados do RN.
O mesmo ocorre com os povos do estado do Piauí. Leila Adriana Sousa Lima é da etnia Tabajara e mora na área urbana da cidade de Piripiri, onde vivem cerca de 50 famílias indígenas. Ela é presidente da Associação Itacoatiara de Remanescentes Indígenas de Piripiri e uma das cinco representantes indígenas do Piauí, na Etapa Regional.
"A gente está num processo de resgate da nossa cultura, das nossas raízes, porque a gente vive em aldeia em contexto urbano. Há 10 anos que estamos nos organizando, estamos ainda engatinhando e a realização dessa Conferência, tanto a local como a regional, foi essencial para a nossa comunidade." Ela ressalta como um ganho desses processos de discussão "a possibilidade de fazer o povo indígena falar e não apenas escutar, como a gente está acostumado."
A Etapa Regional CE/RN/PI reúne 280 delegados, sendo 188 representantes indígenas, 84 de órgãos governamentais e oito de não-governamentais, além de observadores. Anteriormente à Etapa Regional, foram realizadas sete etapas locais: cinco no Ceará, uma no Rio Grande do Norte e uma no Piauí.