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Faleceu no último dia 31 de julho o Professor Ney Land
Diretor do Museu do Índio de 1972 a 1981, Ney Land esteve à frente da transferência do museu, em 1978, para o casarão de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde está localizado até hoje. Anteriormente, a instituição se situava no bairro do Maracanã.
Apaixonado pelas culturas indígenas, o Professor Ney Land apoiou intensamente projetos voltados para a difusão desses conhecimentos. Educador dinâmico e entusiasmado, organizou, no Museu do Índio, os cursos de férias denominados, inicialmente, de "Noções de Museologia e Antropologia", hoje Dimensões das Culturas Indígenas. Com boa repercussão junto ao público universitário, a iniciativa vem contribuindo na formação de inúmeros profissionais, interessados em aperfeiçoar seus estudos na área da Etnologia.
Conheça um pouco da história de Ney Land
Aluno da antropóloga Heloísa Alberto Torres na antiga sede da Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ), localizada no Instituto Lafayette, na Tijuca, Ney Land aí se tornou Bacharel (1957) e depois Licenciado (1958) em Geografia e História. Lecionou em alguns colégios, ainda como serventuário da Justiça do Estado da Guanabara, onde entrara em 1953. Em agosto de 1964, Ney foi colocado à disposição do Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI), presidido pela mesma Heloísa Alberto Torres, para colaborar no levantamento da situação dos índios e efetuar um censo indígena em várias regiões do Brasil.
Ney Land chefiou as equipes que visitaram os índios Guarani, Terena, Xokleng e Kaingang, de São Paulo ao Rio Grande do Sul (1964); Potiguara, Fulni-ô, Kariri-Xocó, Kiriri, Xukuru, Atikum, Kaimbé, Pankararé, Pankararu, Truká, Tuxá e Pataxó, da Paraíba à Bahia (1965); Kadiwéu, Terena, Kinikinau, Guarani Nandeva e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul (1966); Maxacali, Guarani e Krenak, em Minas Gerais (1967); Baniwa, Tukano-Betoya, Maku, Tariana, Desana, Piratapuyo, Hohodene, Wanana e Kobewa, no Noroeste da Amazônia (1968).
Com a extinção do CNPI em dezembro de 1967, Ney ainda voltaria a realizar alguns levantamentos sobre a situação de determinados grupos indígenas para a FUNAI, onde foi contratado como antropólogo–auxiliar do Departamento de Estudos e Pesquisas (DEP) em 1968. Assim, ocorreu, em 1970, com os Xacriabá de Minas Gerais; em 1971, com os Kambiwá de Pernambuco; em 1974, com os Macuxi, Wapixana e Taulipang de Roraima.
Esta última pesquisa de campo foi realizada já como Diretor do Museu do Índio, para o qual foi nomeado em agosto de 1972. Heloísa Alberto Torres, responsável pelo museu em 1969, havia aí criado um curso de Noções de Museologia e Antropologia. Inicialmente, Ney foi professor do curso (1969, 1970, 1972), enquanto era antropólogo-chefe da Divisão de Planejamento de Comunidades e posteriormente Diretor do DEP (então DGEP) da FUNAI, em Brasília. Como Diretor do Museu, expandiu o curso de Museologia e Antropologia, atraindo estudantes de várias regiões do Brasil.
Durante o período em que trabalhou em Brasília, Ney teve oportunidade de influenciar favoravelmente a demarcação de várias áreas indígenas na Amazônia. No Museu do Índio, possibilitou o trabalho de recolhimento da documentação existente sobre o SPI, dispersa pelo Brasil, e criou o Centro de Documentação Etnológica, fonte da documentação primária que garantiria a demarcação de inúmeras terras indígenas no Brasil.
A construção da linha 2 do metrô do Rio de Janeiro expulsou o museu de sua velha sede no Maracanã em dezembro de 1977. Irmanados com Ney Land no comando das ações, servidores, estagiários, estudantes e profissionais diversos, amigos dos índios, criaram um grande mutirão que possibilitou a mudança e instalação do museu na nova sede de Botafogo. Em menos de um ano, Ney e sua equipe reabriram o museu.
Além da trajetória institucional, o antropólogo Ney deixou inúmeros artigos publicados em revistas científicas. Faleceu no início de agosto, de infecção generalizada, aos 84 anos de idade. Deixa o exemplo de resistência às adversidades que sempre caracteriza a luta indígena contemporânea.