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Etapa Regional do Acre
Uma mesa composta por representas de 12 organizações indígenas foi o destaque da abertura da Etapa Regional do Acre, da I Conferência Nacional de Politica Indigenista, reunindo representantes de 18 povos indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia.
O Acre é considerado o estado da vanguarda do movimento indígena, com a criação da UNI – União dos Povos Indígenas, em 1973, congregando lideranças indígenas de várias regiões do país, com atuação aguerrida na garantia dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988.
Após a formação da mesa, um novo momento marcou a resistência cultural desses povos, com a apresentação de um ancião de 105 anos, Bruno Shanenawa, entoando o canto Mariri. Uma grande roda se formou, e os pajés Apurinã, Hunikuî, Kaxinawá, Kaxarari, Jamamadi e Manchinery prosseguiram com seus cantos, dando boas vindas e pedindo luz para os delegados apresentarem boas propostas.
"É no Acre que os indígenas são autoridades" comenta Manoel Gomes da Silva, da Organização dos Povos Indígenas do Rio Tarauacá - Opitar, destacando, em sua fala, os jovens líderes da década de 80, entre eles, Antônio Ferreira da Silva Apurinã, ex diretor de Assistência da Fundação Nacional do Índio, Sebastião Manchinery e "outros que já estão descansando", segundo ele.
A Governadora do Acre em exercício, Nazaré Araújo Lambert, chamou a atenção para as ameaças aos direitos dos povos indígenas com as Propostas de Emendas Constitucionais - PECs que tramitam na Câmara Federal. "No Acre, não construímos políticas públicas sozinhos, construímos juntos, e isso é a matriz de um governo popular", ressaltou, destacando o compromisso do Governador Tião Viana com as populações indígenas do Acre.
Pedro Igor Mantoã, assessor do Ministro da Justiça, também falou sobre as políticas públicas, salientando que não se pode fazê-las em gabinetes, e alertou os delegados indígenas sobre a importância desse momento de Conferência – "Esse espaço é para analisar tudo que não está funcionando, pensar na ampliação dos direitos e acesso à saúde e educação indígena".
O fortalecimento imediato do órgão indigenista foi pedido por Antônio José Brana Muniz, coordenador do Programa Terra Legal, aos parlamentares comprometidos com os povos indígenas. Esse pedido soou bem para a Coordenadora Regional da Funai do Alto Purus, Maria Evanizia Nascimento dos Santos Poyanawa. Ela vê na Conferência a possibilidade de avaliar todas as vertentes da política indigenista, discutindo os eixos temáticos, propostos na metodologia do evento, e acredita na possibilidade de reconstruir e construir um pacto com a sociedade brasileira.
Evanizia fez questão de destacar o isolamento voluntário de povos indígenas do Acre que não fazem questão de manter contato com a sociedade nacional, pedindo a garantia de seus territórios. A Funai mantém Frentes de Proteção Etnoambiental em áreas onde foi confirmada a presença de indígenas sem contato.
O reitor da Universidade Federal do Acre, Minoro Martins Kimpara, reafirmou o compromisso da UFAC com a capacitação dos povos indígenas nas áreas de saúde, educação, direitos e meio ambiente, destacando a formação da primeira turma de professores indígenas.
Durante os dois próximos dias, 154 delegados indígenas se dedicarão a debater e propor novos rumos para a política indigenista brasileira, e elegerão os representantes da I Conferência Nacional de Política Indigenista, que defenderão as propostas dos indígenas do Acre, sul do Amazonas e noroeste de Rondônia.