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"Cinema nas Aldeias Xavante" leva filmes, lazer e reflexão para a Terra Indígena Parabubure (MT)
A terceira etapa do "Cinema nas Aldeias Xavante: Ver, Ouvir e Debater" passou pelas aldeias do povo Xavante de Santa Clara, São Felipe e Bom Jesus da Lapa, na Terra Indígena (TI) Parabubure, em Campinápolis, Mato Grosso.
Um grande pano branco fez a vez de telão armado no centro da aldeia, usando como suporte os pilares da varanda da escola ou até mesmo as traves do campo de futebol da aldeia. A comunidade já estava acomodada ao escurecer em carteiras escolares, esteiras no chão e bancos de madeira, quando começavam as sessões. A lua estava crescente, mas, naquelas aldeias, ela brilhava já com muita intensidade iluminando as casas de palha em semicírculo.
Na aldeia Santa Clara, os jovens professores da escola indígena organizaram as atividades, coordenando a preparação do lanche, escolhendo a sequência dos filmes a serem exibidos e convidando a comunidade. Foram exibidos os filmes "PiõHöimanazé – A mulher Xavante em sua arte" de Cristina Flória, "Índio Cidadão" de Rodrigo Siqueira, "Vale dos Esquecidos" de Maria Raduan e "ÖdzéNhimiWamnari" de Aquilino Tsi'rui'a. Na manhã seguinte, as crianças fizeram desenhos coletivos sobre os filmes exibidos e depois apresentaram para todos em atividade junto à escola. Nas cartolinas, foram retratados muitos desenhos do cacique Damião. Essa importante liderança Xavante de Marãiwatsédé aparece no filme "Vale dos Esquecidos" e sua presença ficou na memória das crianças.
Na noite seguinte, foi a vez da aldeia São Felipe. Essa exibição contou com mais de cem pessoas. A aldeia gostou muito do filme "PiõHöimanazé", no qual as mulheres Xavante da aldeia Etehiritipá, da TI Pimentel Barbosa, contam como é sua vida, seu trabalho e seus costumes. O professor Norberto Tseredawa comentou: "Esse filme é muito bom! Não sei se na nossa aldeia as mulheres falariam assim, elas têm muita vergonha".
A última aldeia por onde passou o cinema itinerante foi Bom Jesus da Lapa. Foram exibidos os filmes "ÖdzéNhimiWamnari", "PiõHöimanazé – A mulher Xavante em sua arte", "Uma Casa Uma Vida" de Raiz das Imagens e "A Grande Caçada" de Adalbert Heidi, todos sobre o povo Xavante. Mesmo com a idade avançada, o cacique Cipriano era um dos mais animados e pediu a palavra após as exibições, refletindo sobre o que os caciques falavam nos filmes e sobre as mudanças culturais que vêm ocorrendo na sua aldeia. Já era tarde e as pessoas voltavam para suas casas.
Ao final da fala do cacique, um jovem pediu: "estamos em poucas pessoas aqui, mas a gente quer ver mais filme, queremos ver o filme do Congresso Nacional". Ele se referia ao filme "Índio Cidadão" que aborda a mobilização indígena desde a Constituinte até a ocupação do Congresso em 2013. A exibição prosseguiu e algumas pessoas voltaram para continuar assistindo. Na manhã seguinte, a aldeia se reuniu com a equipe da Funai na escola, onde aconteceram atividades com as crianças e discussão com os adultos.
Esta terceira etapa aconteceu de 22 a 25 de setembro e contou com o apoio dos servidores da Funai Maíra Ribeiro e Hélio Sereparan para sua realização.
Em agosto, o Cinema nas Aldeias Xavante passou pelas aldeias Etepore, Campinas e Dzepá. Na aldeia Etepore, a atividade aconteceu junto com a Feira da Cultura da escola da aldeia. Essa etapa foi desenvolvida pelos servidores Mirian Tserebodowapré, Hélio Sereparan, da CTL Campinápolis e Indiana Petsirei'õ, da CTL Nova Xavantina, e contou com o apoio de Josué Rodrigues Nogueira Júnior, diretor da Escola Estadual Indígena David Aireró da Aldeia Etepore.
Desde julho deste ano, o projeto faz incursões mensais de exibição ao ar livre de documentários produzidos sobre ou com o povo Xavante nas aldeias da TI Parabubure. O projeto se estenderá até outubro visitando doze aldeias no total. É uma forma de divulgar as produções audiovisuais dentro das aldeias que, apesar de serem as mais interessadas, muitas vezes não tem acesso a elas. Através da exibição dos filmes, a comunidade tem a oportunidade de refletir e discutir sobre o passado, o presente e o futuro de seu povo. O projeto cultural tem apoio do Programa de Promoção do Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas do Museu do Índio e é desenvolvido pelas Coordenações Técnicas Locais de Campinápolis e Xavantina da Funai.
DOCUMENTÁRIOS EXIBIDOS NAS ALDEIAS
· Uma Casa Uma Vida de Raiz das Imagens (24 minutos, 2013)
Sinopse: O filme debate sobre a moradia Xavante e os programas de habitação do governo enquanto registra as oficinas de construção ecológica nas aldeias Santa Cruz e Belém, TI Pimentel Barbosa, no projeto Tiba´uwe.
· Vale dos Esquecidos de Maria Raduan (72 minutos, 2011)
Sinopse: Retrato do conflito por terras na região do Araguaia em Mato Grosso, onde grupos rivais defendem seus interesses, entre eles os Xavante de Marãiwatsédé, posseiros, grileiros, sem-terra e fazendeiros.
· Pi'õ Höimanadzé - A Mulher Xavante Em Sua Arte de Cristina Flória (45 minutos, 2008)
Sinopse: O universo feminino Xavante é revelado pelas mulheres da Aldeia Etehiritipá, TI Pimentel Barbosa, através da sua arte, suas raízes culturais e seus conhecimentos, mantidos e transmitidos de geração a geração até os dias atuais.
· A Grande Caçada de Adalberto Heidi / Missão Salesiana (65 minutos, 1978)
Sinopse: Registro de uma caçada tradicional xavante na década de 70, em meio a cenas do cotidiano desse povo, como a vida das famílias nas aldeias, os rios e paisagens da TI São Marcos.
· Ödzé Nhimi Wamnari - Os efeitos do álcool nos Xavante de Aquilino Tsi'rui'a/ Missão Salesiana (17 minutos, 2015) Sinopse: O cinegrafista Xavante Divino e o padre Xavante Aquilino visitam cidades, como Campinápolis, e aldeias em busca de compreender porque os Xavante estão se entregando ao vício do álcool.
· Índio Cidadão de Rodrigo Siqueira (52 minutos, 2014)
Sinopse: Filme mostra o movimento indígena desde a mobilização coordenada pela União das Nações Indígenas pela participação popular na Constituinte em 1987/88, até a ocupação indígena da Câmara dos Deputados 25 anos depois, na Mobilização Nacional em Defesa dos Direitos Constitucionais.
Colaboração: Maíra Ribeiro