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2ª Feira Nacional de Agricultura Tradicional Indígena apresenta 13 expositores de diversas regiões do país
Eudes Batista, do povo Sateré-Mawé, levou guaraná em pó e em bastão, óleo de copaíba e andiroba, extrato de própolis, mel de abelha, entre outros produtos, para a 2ª Feira Nacional de Agricultura Tradicional Indígena (Fenati), que acontece em Palmas (TO), de 24 a 31 de outubro, no âmbito dos Jogos Mundiais Indígenas.
O guaraná, que na língua materna é chamado de waraná , é o principal produto comercializado pelos Sateré-Mawé, das Terras Indígenas Andirá-Marau e Coatá-Laranjal, no Amazonas. Antes comercializado sem nenhum controle, o produto agora é vendido por meio do Consórcio dos Produtores Sateré-Mawé, que tem cerca de 450 associados, sendo que 250 trabalham diretamente com o guaraná. O consórcio tem como principais compradores duas empresas estrangeiras, uma italiana e outra francesa, por meio das quais o guaraná é distribuído para mais de 20 países.
"Nas grandes decisões do nosso povo, o guaraná está sempre presente. É a nossa bebida tradicional", explica Eudes. O processo de produção do guaraná é todo baseado no modo tradicional Sateré-Mawé, o que implica, por exemplo, na forma de retirada da casca, em que o fruto não pode ser pisado, mas manipulado manualmente. Ao ano, os Sateré produzem de seis a sete toneladas do produto.
"Esse é um processo que envolve as famílias, num projeto que tem um sentido muito forte porque está associado a toda uma mitologia e uma história do povo Sateré-Mawé. É isso que está por trás desse comércio que se transformou, hoje, num projeto de etnodesenvolvimento do nosso povo", comemora Eudes.
Também participam da feira, produtores das etnias Coripaco, Baniwa e Arapaso, do Alto Rio Negro (AM); Apurinã, que vive às margens do rio Purus (AM); Wai Wai, da Terra Indígena (TI) Trombetas Mapuera (RR); Wapichana, das TIs Tabalascada e Serra da Moça (RR); Tupinambá de Olivença, da Bahia; Kariri-Xocó, da região do baixo São Francisco (SE); Kiriri, da TI Banzaê (BA); Potiguara, da Paraíba; Munduruku, Apiaká, Kaiabi e Cinta Larga, das TIs Apiaká-Cayabi e Cinta Larga (PA, AM e MT); Rikbatsa, da bacia do rio Juruena (MT); Kalapalo, do Parque Indígena do Xingu (MT); e Kaingang e Guarani, da TI Guarita (RS).
Espaço próprio
A história dos Sateré-Mawé é uma das que ilustram a força da produção tradicional indígena. A intenção é que com a experiência acumulada nas duas edições da Feira Nacional de Agricultura Indígena, realizadas juntamente com os Jogos Indígenas, se possa caminhar para a realização de um evento próprio.
"Precisamos pensar de forma ousada e realizar um grande evento que divulgue e apoie a produção indígena. Essa feira tem o papel de quebrar paradigmas e preconceitos quanto à produção indígena e apresentar a riqueza da diversidade cultural e do trabalho dos povos indígenas em todo o Brasil", destacou o presidente da Funai, João Pedro, durante a abertura da 2ª Fenati.
A ideia foi reforçada pela secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Maria Fernanda Coelho. "A feira é um momento de valorização da agricultura tradicional indígena e, quando a gente pensa em agricultura indígena, estamos pensando em sustentabilidade. Esse é um momento de afirmar a autonomia dos povos e comunidades tradicionais e de preservar toda essa cultura", disse.
Jogos Indígenas
O primeiro Jogos Mundiais dos Povos Indígenas acontece de 23 a 31 de outubro, em Palmas (TO). Participam do evento delegações de mais de 20 povos do Brasil e 20 de outros países. A abertura contou com a presença da presidenta da República, Dilma Rousseff, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do presidente da Funai, João Pedro, além de outras autoridades e lideranças indígenas.
Durante da cerimônia de abertura, a liderança do povo Xavante, Jeremias Tsibodowapre, fez um apelo à presidenta Dilma. Ele pediu a atenção da presidenta para a PEC 215, que tramita no Congresso Nacional e ameaça os direitos indígenas, e para a situação do povo Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.
O debate político permeia toda a programação dos Jogos Mundiais Indígenas. Sobre o assunto, a secretária executiva do MDA, Maria Fernanda Coelho, acrescentou durante a 2ª Fenati: "há não só o compromisso, mas o posicionamento muito claro da presidenta Dilma Rousseff e do governo federal: o governo federal é contra a PEC 215".
A 2ª Fenati ocorre e espaço paralelo aos jogos e é realizado pelo MDA, em parceria com a Funai. Para o coordenador-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, Juan Negret, "essa é uma oportunidade de dar visibilidade à produção indígena, mas também de promover um espaço de debate sobre as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável das comunidades, além de propiciar uma oportunidade de geração de renda direta aos produtores".