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“A morte dos indígenas nos envergonha como sociedade”
A declaração foi feita pelo Presidente do Peru, Ollanta Humala Tasso, que determinou a abertura de investigações sobre a morte de quatro Ashaninka, assassinados na região de fronteira com o Brasil. A suspeita é de que as mortes dos índios Edwin Chota Valera, Leoncio Quinticima Melendez, Jorge Rios Perez, e Francisco Pinedo, estejam relacionadas à ação de madeireiros ilegais na região.
Ollanta Humala falou da urgência em realizar a captura dos criminosos que, segundo ele, "acreditam que a vida de uma pessoa, de uma comunidade nativa Ashaninkka e, sobretudo, de uma pessoa que defende nossas florestas, não merece, não tem valor."
O presidente disse, ainda, que essas mortes envergonham o povo como sociedade, e todos devem rejeitar esses tipos de ações. "E dizer a esses bárbaros, a esses criminosos, que não é assim que se resolvem as coisas não, que, às vezes, essa gente acredita que seus interesses econômicos, comerciais, para desmatar nossas florestas, para retirar um pouco de madeira, vale mais do que manter nossas florestas primárias e lutar contra as mudanças climáticas.", completou Ollanta Humala.
A notícia da morte dos Ashaninka foi comunicada à Funai no último domingo, 7 de setembro. Imediatamente a Fundação informou à Polícia Federal e ao Ministério da Justiça, uma vez que os crimes foram praticados na região de fronteira Brasil-Peru, e encaminhou servidores para compor a equipe formada por Polícia e Ministério Público Federal, e Consulado do Peru, que estáo em campo para investigar o caso.
Segundo relatos, o assassinato das quatro lideranças Ashaninka da Aldeia Saweto, aconteceu no dia 1 de setembro, quando eles se deslocavam pela mata para participar de uma reunião no Brasil, com o objetivo de discutir estratégias de vigilância na fronteira dos dois países, para impedir o corte ilegal de árvores e o desmatamento naquela região, além do tráfico de drogas.
Os quatro indígenas assassinados faziam parte do Grupo de Trabalho trasfronteiriço, composto por organizações indígenas, ambientalistas e indígenas; pela proteção dos povos indígenas contactados e sem contatos naquela fronteira do Acre e lutavam para demarcar sua terra no Rio Tamya.
Em nota encaminhada à Funai, o povo Ashaninka do Amônia e a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável de Fronteira (CTDS), o Grupo Regional de Monitoreso de Megaproyectos de Ucayali (GRMMU) e o Grupo de Trabalho para Proteção Transfronteiriça (GTT) da Serra do Divisor e Alto Juruá - Brasil/Peru (GTT) cobram das autoridades brasileira e peruana a imediata apuração do caso, além de solicitarem urgência nos serviços de vigilância.
Desde que tomou conhecimento das mortes das lideranças, a Funai tem dialogado com outros órgãos e buscado oferecer apoio aos Ashaninka que vivem em território brasileiro.
Os conflitos entre indígenas e madeireiros que exploram ilicitamente recursos naturais no interior de terras indígenas tem se intensificado nos últimos anos. Em consequência da exploração ilegal de madeira, decorre um conjunto de outras violências, crimes e violações de direitos, como a prática de trabalho escravo.
Nos últimos cinco anos, a Funai vem buscando intensificar as ações de fiscalização na região, por meio de operações realizadas em conjunto com órgãos ambientais e de segurança pública.
Recentemente, um grupo de índios isolados na região do Xinane optou por realizar contato com os servidores da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira e indígenas do Povo Ashaninka, na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa, e Isolados do Alto Rio Envira, estado do Acre.
Nos diálogos com o grupo indígena, por meio dos intérpretes, eles relataram que sofreram atos de violência praticados por não índios nas cabeceiras do rio Envira, que se localiza em território Peruano, possivelmente por ação de madeireiros ilegais e narcotraficantes que agem naquela região.
A fim de favorecer a troca de informações e metodologias de proteção de povos indígenas isolados que vivem na região de fronteira entre os países, a Funai formalizou, em março deste ano, um termo de cooperação técnica com o Ministério de Cultura do Peru, órgão responsável pela política indigenista daquele país. O memorando de entendimento entre as instituições define as linhas gerais dos esforços que têm sido planejados e executados pelas instituições com vistas ao desenvolvimento de ações coordenadas de proteção dos territórios indígenas onde haja referências e informações sobre a presença de povos indígenas isolados e de recente contato que vivem no Acre, no Vale do Rio Javari (AM), e nos departamentos de Madre de Dios, Ucayali e Loreto, no Peru.
Com isso, equipes binacionais especializadas no tema deverão realizar sobrevoos e expedições terrestres conjuntas nessas regiões ainda este ano, a fim de sistematizar informações que permitam compreender as dinâmicas territoriais desses povos, bem como as pressões externas e vulnerabilidades a que estão sujeitos.