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Funai modera diálogos indígenas durante a I Feira Nacional da Agricultura Tradicional Indígena
Durante três dias representantes da FUNAI, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Embrapa, se reuniram com representantes agroextrativistas indígenas das etnias Kayabi, Matupu, Kayapó, Zoró, Sateré-Maué, Terena, Macuxi, Wassu, Xocó, Xavante, Tupinambá, Umutina e Krahô para tratar de questões ligadas a agricultura tradicional indígena. O encontro ocorreu durante o XII Jogos dos Povos Indígenas, entre os dias 9 e 11 de novembro, na Região Sucuri em Cuiabá.
Para o coordenador geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento (CGETNO) da FUNAI, Julio Araújo,“dos diálogos indígenas é possível propor uma qualificação de políticas públicas às especificidades sociais, ambientais e econômicas indígenas”.
A proposta dos diálogos indígenas é fazer com que cada representante agroextrativista apresente as limitações, potenciais e desafios a serem superadas para a produção destinada a alimentar as suas comunidades e também à geração de renda. A isto, integra-se o intercambio sobre as realidades do outro e o norteamento das políticas públicas ao ajustamento das necessidades indígenas, notadamente no que se refere à soberania alimentar.
Ao final do encontro os representantes agroextrativistas indígenas auxiliados pela FUNAI, MDA e Embrapa, construíram juntos um documento denominado Registro Propositivo à Qualificação de Políticas Públicas aos Povos Indígenas, que trata dos desafios indígenas no agroextrativismo para alimentar as suas famílias, mas também à geração de renda. O documento deve servir de embasamento para apresentar aos governantes a necessidade de formulação, aperfeiçoamento e qualificação das políticas públicas, para que os planos, programas e projetos, atendam as realidades sociais, ambientais e econômicas dos indígenas. No texto, os indígenas registram a necessidade de atender os princípios dos usos, costumes, práticas e tradições sustentáveis agroextrativistas.
Eles ainda citam os desafios que devem ser enfrentados com relação a produção agroextrativista, como:
Falta de Território e regularização fundiária para que possam reproduzir os conhecimentos e tecnologias na produção e coleta de alimentos para as comunidades e, também, para a comercialização;
Falta de terras boas (solo) ou próprias para que possam reproduzir os conhecimentos e tecnologias na produção e coleta de alimentos para as comunidades e, também, para a comercialização;
Necessidade de ampliar e fortalecer uma assistência técnica e extensão rural voltada às especificidades agroextrativista indígena, com valorização das capacidades locais;
Introdução de sementes que não são da tradição deles e a perda das sementes tradicionais;
Pressão do entorno na geração de conflitos com modelos agrícolas diferentes dos tradicionais;
Desinteresse das novas gerações indígenas nos conhecimentos tradicionais;
Acelerada mudanças dos hábitos alimentares tradicionais o que vem causando desnutrição e doenças relacionadas;
O estímulo à introdução de sistemas agrícolas não tradicionais com apoio à produção de alimentos em sistemas não tradicionais;
Falta de apoio à comercialização no transporte e ao fortalecimento de programas de aquisição da produção local para a merenda escolar indígena;
Falta de programas governamentais específicos ao fortalecimento das atividades tradicionais agroextrativistas indígenas;
Necessidade de pesquisas de mercado e de adequação dos produtos originados das Terras Indígenas aos mercados.
Ao final todos os representantes indígenas assinaram o documento.
Nestes dias de evento os indígenas também puderam participar do I Encontro Nacional de Agentes de Leitura Indígenas, a Arca das Letras, que credenciou os agentes de leitura e apresentou o Plano Setorial para as Culturas Indígenas, além de ter promovido oficinas de literatura como instrumento de atualização da memória indígena e do processo de criação literária.