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Pesquisadora apresenta tese de doutorado à comunidade indígena Chiquitano, que foi objeto de estudo
O trabalho aborda aspectos históricos, sociolinguísticos, fonéticos e fonológicos da língua chiquitano nas comunidades brasileiras de Vila Nova Barbecho, Acorizal, Central e Fazendinha, integrantes da Terra Indígena Portal do Encantado, no município de Porto Esperidião. Foram nove anos de estudos, entrevistas e convivência com os Chiquitano e, em 27 de outubro deste ano, ela retornou à terra indígena com o resultado final da pesquisa.
A data foi de festa para o povo Chiquitano que participou da cerimônia de apresentação e entrega da tese na língua chiquitano. "A língua é um patrimônio cultural que levou milhares de anos para ser construída. O que registrei foi apenas uma pequena parcela deste patrimônio. Compartilhar com os Chiquitano o resultado da nossa convivência é um ato muito emocionante e significativo. É o meu retorno para as 325 pessoas das comunidades Chiquitano brasileiras", analisa Áurea.
Com o título "Línguas cruzadas, histórias que se mesclam: ações de documentação, valorização e fortalecimento da língua chiquitano no Brasil", a tese foi defendida em junho de 2012 na Universidade Federal de Goiás e aprovada pela banca examinadora com distinção e louvor.
Conforme a pesquisa, "se considerarmos que apenas alguns idosos, cerca de 2% da população se lembram da língua chiquitano, e que a maioria da população, cerca de 80%, diz não saber a língua, conclui-se que há, pelo menos, quatro gerações que a língua chiquitano, nas comunidades citadas, não é mais transmitida como língua materna entre pais e filhos".
Os estudos da linguista já são utilizados pelos professores do povo Chiquitano para, por exemplo, ensinar as crianças a língua. A ideia é que os Chiquitano continuem ações de revitalização da língua. "Hoje já temos pessoas cantando e rezando na língua, fazendo, por exemplo, cumprimentos e utilizando vocabulário básico de palavras, como adjetivos e nomes de frutas", explicou a linguista.
Os anciões e lideranças Chiquitano foram unânimes em ressaltar a importância do trabalho realizado por Áurea Santana. Na cerimônia de entrega da tese também estavam presentes representantes da Coordenação Regional da Funai de Cuiabá e de Pontes e Lacerda.
A autora
A professora da Funai, Áurea Cavalcante Santana, doutora em Linguística, é uma das pesquisadoras mato-grossenses que corre contra o tempo para registrar línguas indígenas ameaçadas de extinção. No Brasil são faladas, hoje, cerca de 160 línguas indígenas. Destas, 21% estão seriamente ameaçadas, ou seja, cerca de 35 línguas. Áurea estudou a língua do povo Chiquitano para desenvolver sua tese de doutorado.