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Casa de reza do povo Guarani-Kaiowá é inaugurada em Guaiviry, no Mato Grosso do Sul
Cerca de 150 pessoas participaram da inauguração festiva da casa de reza no acampamento indígena Guaiviry, no município de Aral Moreira, sul de Mato Grosso do Sul. O evento aconteceu entre os dias 15 e 18 desse mês.
Organizado pela comunidade do acampamento Guaiviry, com o apoio da Funai de Ponta Porã, a inauguração reuniu lideranças religiosas e representantes de 32 áreas do povo Guarani-Kaiowá. Eles participaram de discussões sobre a causa indígena para o fortalecimento político e cultural, rituais de reza e danças tradicionais como o Guaixiré.
Para os indígenas, a casa de reza é mais do que o local de realização de rituais religiosos, é também o fortalecimento da resistência do povo Guarani-Kaiowá na região. A casa recebeu o nome de Ongusu Apyka Renda, que não tem tradução coerente para o português, mas, segundo o antropólogo Thiago Cavalcante, tem significado relacionado a rituais que utilizam um banco de madeira específico: Ongusu era o nome dado às moradias de famílias extensas, significava casa grande. Depois ganhou nova leitura, o de casa de reza. "Apyka é um banquinho feito de cedro utilizado em rituais religiosos", explica.
Durante o evento, lideranças religiosas e políticas elaboraram um documento com demandas da causa indígena, dentre elas, o pedido de construção de casas de reza em todas as áreas indígenas da região. Melhorias nas áreas da saúde e educação também foram solicitadas. A Funai, por meio da Coordenação Regional de Ponta Porã, encaminhou o documento ao Ministério Público.
No dia 18, a programação do evento se voltou à memória do cacique Nisio Gomes, assassinado há um ano, durante ataque em represália à retomada do tekoha Guaiviry. O corpo do cacique nunca foi encontrado, mas 23 pessoas respondem a processos por homicídio e ocultação de cadáver, dentre outros crimes.
Um ano após a morte de Nisio, a comunidade Guarani-Kaiowá homenageou o cacique com rezas, depoimentos sobre sua vida e luta, além de músicas que lembraram a tristeza das perdas em batalhas pelos tekohas (terras tradicionais). Indígenas que presenciaram o ataque a Guaiviry relembraram os momentos de sofrimento e postaram flores, fotografias e velas no local onde o cacique caiu baleado: "Em apoio a essa extrema situação de tristeza, os Nhande Ru (rezadores) se reuniram para restituir o espírito de alegria para as famílias", disseram as lideranças indígenas.
Texto: Amanda Cury
CR de Ponta Porã - MS