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Parabéns, professores indígenas!
O professor é quem nos mostra caminhos para a vida, quem não deixa morrer o conhecimento, quem incentiva novas descobertas. É mestre dos mestres. E o que move o professor é o amor pelo que faz. Se tiver paixão, será um bom professor, garante o educador Ruben Alves.
Uma professora escolhida para representar os professores indígenas nesta reportagem comemorativa do Dia do Professor preenche todos esses requisitos. Magnólia Jesus da Silva Tupinambá, da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, em Buerarema/BA é um exemplo de que o trabalho vale a pena.
A professora Magnólia, a alegre "Mag", conta que, desde pequena, ainda na escola, queria ser professora, ensinar. "Gosto mesmo, vou com todo o gosto fazer o meu trabalho". Lembra da primeira professora, dona Neuza, que não era indígena e lecionava de forma convencional, mas tinha um "jeito muito bonito de dar aula. Peguei os exemplos com meus professores", comenta, sempre risonha.
Magnólia tem 38 anos e leciona desde os 16. Ela dá aulas de cultura e religião Tupinambá para alunos de 1ª a 4ª série da Escola Estadual Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro. A escola tem 518 alunos de educação fundamental e ensino médio. Segundo a professora, a comunidade toda é envolvida nas atividades e os pais também estudam. "Os filhos de dia, os pais de noite", explica, orgulhosa.
"Temos trabalhos comunitários, a horta comunitária, os pais ajudam em tudo, participam das reuniões". E ela dá um exemplo: "no dia de fazer farinha, os alunos vão raspar mandioca com os pais, todos trabalhando junto. A gente faz primeiro um momento de oração - onde tem o lugar do fogo - a gente reza, canta e depois vai à luta pro trabalho". Nesse dia eles aprendem sobre a cultura da mandioca: os vários pratos feitos com mandioca – o beiju com coco, beiju assado na palha, mingau, a própria farinha -, os cantos tradicionais para a hora de plantar, de colher. "E tem os dias que a gente faz só um ritual mesmo, o Toré". Magnólia explica que o Toré "é o encontro de vários rituais, onde chegam nossos encantados, que são os espíritos invisíveis que moram nas matas. No Toré a gente canta pra eles e pode sentir sua presença".
Nas aulas de cultura e religião, os alunos aprendem ainda a confeccionar as vestes tradicionais, colares, cocares e a tanga, uma espécie de saia de fios de palha para as festas e rituais. Na disciplina, entra também a questão do meio ambiente. "Nesses dias estamos reflorestando a nascente dos rios, numa área que estava na mão de fazendeiros. Os rios estavam secando e estamos fazendo reflorestamento com plantas nativas" diz a professora, demonstrando entusiasmo. Para essa atividade, os professores pesquisaram o que tinha na mata ciliar em outros pontos da Terra Indígena e começaram a realizar o projeto. Entre as espécies, há louro, pau-brasil e outras vegetações de menor porte.
É dessa forma que a professora Magnólia e seus colegas passam o conhecimento dos antepassados, com alegria, mantendo a comunidade unida. "Um envolvido com o outro, todo mundo aprende tudo, tá colaborando. O nós, o todo mundo agrupado, se sente forte. É muito importante para o jovem sempre estar envolvido, aprendendo o dia a dia na comunidade. Em vez de buscar coisas lá fora, estão aqui participando dos rituais. Isso fortalece a comunidade", ensina.
A professora Tupinambá Magnólia Jesus da Silva começou a estudar na escola da aldeia e teve de ir para Buararema continuar os estudos. Se formou em magistério, em Santa Cruz de Cabrália. Hoje faz Geografia numa universidade de Itabuna (BA), pois quer se aperfeiçoar sempre. Ela tem dois filhos: o mais novo já pode concluir o ensino médio na própria comunidade, numa escola que ela considera a ideal. "A menina já está na faculdade", comemora.
Magnólia faz um pedido especial de reconhecimento, no Dia do Professor: "que os governantes olhem para o nosso trabalho com carinho, com mais dedicação".