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Indígenas Dow, no Amazonas, recebem visita do presidente da Funai
Um passado de preconceitos marca a história do povo Dow e outros três povos do grupo conhecido por "Maku". O grupo, por tradição, viveu uma história de submissão a outras etnias do Rio Negro e são chamados por "Maku", que significa "servo". O nome ainda é usado para designar os povos Dow, Hupda, Yuhupde e Nadöb, que vivem no noroeste do Amazonas.
É claro que eles não gostam nada da designação e querem ser reconhecidos pelo nome de cada povo, mas ainda há outro agravante para a discriminação. Por sua vulnerabilidade social, quando a bebida alcóolica chegou aos indígenas, grande parte dos indivíduos se tornou dependente do álcool, como aconteceu em outras regiões brasileiras. Por isso, conta-se também que "Maku" passou a significar "pessoa que vive bêbada" e eles eram tidos como preguiçosos.
Foi uma dessas comunidades que o presidente da Funai, Márcio Meira, visitou enquanto esteve em São Gabriel da Cachoeira (AM) para uma série de compromissos ligados à Coordenação Regional do Rio Negro, de 14 a 20 de setembro. "Fiz questão de vir aqui para mostrar que este povo existe, e a comunidade é organizada e tem vontade de trabalhar", enfatizou. "São povos que ainda sofrem muito preconceito, e vim avisar que eles terão voz no Comitê Regional da Funai porque não são diferentes dos outros quanto a seus direitos".
Quando a equipe da Funai chegou à comunidade Waurá, do povo Dow, acompanhada pelo assessor técnico da Secretaria-Geral da Presidência da República Thiago Almeida, em pleno sábado, quase todos os adultos estavam trabalhando: na pintura da igreja, capinando a área em torno das casas, em atividades do dia a dia. Nenhuma bebida, nenhuma preguiça.
Francisco da Silva, liderança local, mostrou os limites do pequeno trecho da terra indígena que abriga 27 famílias e a situação em que o povo se encontra. Ele é da etnia Baré e disse que nunca tinha pensado em estar com os Dow, trabalhar com os Dow, mas conheceu Auxiliadora, se apaixonou e se casou, indo morar lá. Hoje defende a comunidade e a incentiva a participar mais, "a sair da passividade".
A professora Auxiliadora recebeu a equipe mostrando as necessidades da aldeia. A escola, com três salas pequenas, tem alunos da educação infantil, 1ª a 4ª e educação de jovens e adultos. Os professores são dedicados, há uma estante com muitos livros, mas sérios problemas na estrutura do prédio. O Coordenador Regional da Funai, Cheine Araújo, se comprometeu a verificar a melhor forma de atender às demandas da população e garantir que os direitos sejam respeitados.
Donos dos caminhos - Os povos Dow, Hupda, Yuhupde e Nadöb conhecem como ninguém os caminhos da floresta e são exímios caçadores. Eles mantém relação frequente de troca, principalmente com os Tukano, oferencendo caça moqueada (assada lentamente) ou frutas coletadas na mata em troca de farinha, beiju e outros alimentos derivados da mandioca cultivada. O grupo também costuma trabalhar em troca de outros artigos, como fósforos, fumo, roupas e redes.
Esses povos têm um sentimento de uso coletivo que ultrapassa o da propriedade. Habitantes de aldeias vizinhas do mesmo dialeto usam acampamentos de caça uns dos outros, por exemplo, sem nenhum problema e muitas vezes esquecem quem fez o acampamento.
No Alto e Médio Rio Negro, há muitos povoados dos Dow, Hupda, Yuhupde e Nadöb. As comunidades, tradicionalmente, têm uma média de 25 habitantes, mas, a partir de 1970, missionários salesianos alteraram um pouco o padrão tradicional de ocupação. Passaram a concentrar grupos em aldeias maiores para facilitar os serviços de assistência.
Hoje, os Dow, Hupda, Yuhupde e Nadöb têm representação garantida no Comitê Regional do Rio Negro, junto com os outros povos da região. Lá, por meio de seus representantes – um titular e um suplente – eles poderão participar das decisões da Funai, das escolhas de projetos e acompanhar a utilização dos recursos da Coordenação Regional do Rio Negro.