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Funai se articula com ISA, Rainforest do Japão e Atix para fortalecer produção de mel no Xingu
Lideranças e apicultores do Parque Indígena do Xingu (PIX) estiveram reunidos por quatro dias com instituições que apoiam a apicultura na região a fim de encaminhar propostas para melhorar a atividade de produção do mel. O encontro, realizado de 22 a 25 de novembro, foi promovido pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e contou com a presença de 80 lideranças indígenas, apicultores, representantes da Funai, Instituto Socioambiental (ISA), Rainforest do Japão e organizações indígenas envolvidas com o tema, como a Associação Terra Indígena Xingu (Atix), Associação Indígena Kisêdjê (AIK) entre outras.
Ao fim do evento, os indígenas solicitaram à Funai que acompanhe essa atividade produtiva nas diferentes regiões do Parque do Xingu, com o intuito de manter seu papel de responsável pela coordenação de políticas favoráveis aos povos indígenas e para o avanço da apicultura no Xingu como um todo.
A participação da Funai na apicultura, nos últimos anos, se deu principalmente pelo envio de materiais e equipamentos para o desenvolvimento das atividades, além de cursos pontuais de capacitação. A Coordenação Regional (CR) Xingu, sediada em Canarana (MT), adotou uma postura de atuação mais articulada com as demais instituições que já vêm apoiando a apicultura nas diferentes regiões do Parque Iindígena do Xingu. "Esperamos, com isso, incentivar a troca de informações e experiências entre as diferentes regiões e instituições, e que os investimentos sejam aplicados para proveito de todos e avanço da proposta da apicultura no PIX", ressalta Agda Detogni, indigenista especializada e chefe do serviço de Atividades Produtivas da CR Xingu.
Os participantes relataram a realidade da apicultura em suas aldeias. Representantes da Atix e do ISA apresentaram fala sobre o impacto das mudanças climáticas na produção do mel, com destaque para as queimadas, que diminuem a vegetação como um todo, influenciando diretamente nas floradas. Ainda foram discutidas e encaminhadas propostas de cursos, acompanhamento técnico, padronização da embalagem, fatores que interferem na comercialização do mel, construção de locais adequados para processamento, transporte para a produção, depósito para materiais, entre outros assuntos importantes para o desenvolvimento da atividade.
O encontro serviu de estímulo para diversos apicultores que enfrentam dificuldades com a criação de apis. Os técnicos presentes, do ISA e da Rainforest do Japão, prestaram esclarecimentos sobre problemas enfrentados, como os prováveis motivos para o abandono das colméias pelas abelhas em 2010. Com o incentivo dessas instituições, muitos indígenas estão retomando a atividade. É o caso de Tawareró Ikpeng, que está voltando depois de cinco anos sem trabalhar com a apicultura. Para Inavé Kaiabi, o mel "é o caminho que a gente tem de conseguir alguma coisa e não sair pedindo. Estamos aqui para melhorar nosso trabalho", disse, valorizando a oportunidade de troca de conhecimento.
Na avaliação do Encontro, o maior destaque foi para a integração entre as diversas instituições. Segundo Ivan Stibich, coordenador de Articulação Intersetorial da Coordenação-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, o bom resultado do evento "é sinal da vontade de trabalhar de forma mais integrada, todo mundo se ajudando para fortalecer o mel do Xingu como um todo".
Kátia Ono, representando o Instituto Socioambiental, ressaltou que "o mel é uma prioridade para o ISA" e que o movimento de integração é positivo. O técnico do ISA, Roberto Oliveira, disse que "essa aproximação estava na hora de acontecer" e que está aberto para trocar informações. O ISA tem atuado no Baixo Xingu, em parceria com a Atix, junto ao povo Kawaiwete.
Para Sidnei Miranda, técnico da Rainforest do Japão, também, "o mais importante foi a aproximação com as outras instituições que estão trabalhando no Xingu. (...) O objetivo da Funai, da Rainforest, do ISA, na cadeia produtiva do mel, é o mesmo. Pode ter alguma diferença no jeito que cada uma trabalha, na metodologia, na captação de recursos, no volume de recursos, mas o objetivo é o mesmo", enfatizou. A Rainforest apoia a apicultura no Alto Xingu, junto às aldeias dos povos Yawalapiti, Kamayurá, Mehinaku, Kalapalo, Aweti, Matipu, Waurá, Nahukwá e Kuikuro.
As etnias que estão desenvolvendo a apicultura de maneira mais intensa atualmente são os Kawaiwete, os Mehinaku, os Kisedje e Aweti. As demais estão em estágio inicial ou retomando a atividade. Além dessas regiões e povos que contam com acompanhamento técnico de apicultores contratados pelas instituições parceiras, há outros povos que já têm histórico de trabalho com apicultura em suas aldeias dentro do Xingu, como os Ikpeng, os Yudja, e os Trumai, mas que não contam ainda com acompanhamento técnico. Uma das reivindicações dos indígenas é que a Funai proporcione também esse apoio técnico no Médio Xingu, onde não há, atualmente, participação de outras organizações, além de acompanhar as atividades em todo o Parque.
O apicultor Yaiku Kisedjê está confiante. "Espero que fortaleça nossas colméias no Leste Xingu. Esse casamento com Funai e Isa Talvez traga melhorias". A aldeia dele Ngoihwere, produz mel para a própria comunidade, vende para as escolas e para os visitantes. "Tem para quem vender, mas não tem produção. Já conseguimos bastante abelha, tem vontade de trabalhar, mas faltam alguns materiais para aumentar o número de caixas", avalia.
Sustentabilidade - A apicultura se apresenta como o projeto mais sustentável desenvolvido no Parque Indígena do Xingu. Waré Kaiabi, colaborador da Atix, informou que este ano foram comercializados 900 quilos de mel para rede de supermercados Pão de Açúcar de São Paulo, além do que é vendido dentro do Parque. Ele faz questão de dizer, no entanto, que nem todo o mel produzido tem a finalidade de comercialização, pelo menos 20% é usado para enriquecer a alimentação das comunidades indígenas. "Tem aldeia que diz: nós não vamos vender mel, vai ficar tudo para o consumo da comunidade", enfatiza. A Atix apoia 24 aldeias apícolas e gerencia a comercialização do Mel dos Índios do Xingu.
A sustentabilidade se dá sob vários aspectos: é uma atividade que ajuda na garantia de segurança alimentar; promove geração de renda - o mel que não é repartido dentro das comunidades tem sido comercializado em boa parte dentro do próprio PIX, para as famílias, para merenda escolar, para visitantes e instituições que atuam no Parque-; ajuda a reforçar a necessidade de preservação ambiental, já que o ambiente preservado é condição primeira para a boa produção de mel; garante geração de renda aos produtores que vendem para a rede de supermercados através da Atix. O Instituto Socioambiental, além de apoiar tecnicamente a apicultura no PIX, presta assessoria à Atix no sentido de fortalecer a associação indígena para que se aproprie dos conhecimentos necessários à gestão economicamente sustentável da atividade.