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Matís constroem galinheiro permacultural no Vale do Javari
Dez indígenas da etnia Matís das aldeias Aurélio e Beija-Flor, na Terra Indígena Vale do Javari/AM, e o Chefe de Posto da Funai no Rio Ituí receberam certificação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para o manejo da galinha caipira, passo importante para criação de uma possível certificação de produto. O Curso de Avicultura foi realizado na aldeia Aurélio, entre os dias 8 e 18 de julho, capacitando os indígenas para exercer o controle direto sobre o processo produtivo, de modo que cada etapa funcionalmente ordenada e disposta no galinheiro possa ser acompanhada pelos criadores indígenas.
A proposta de um projeto de criação de galinha partiu do próprio povo Matís, que só recentemente estabeleceu relacionamento com os centros urbanos da região do Alto Solimões. O contato com os Matís ocorreu na década de 1970 e a comunidade ainda vive de modo tribal, alimentando-se essencialmente de suas roças, caça e pesca. Por essa razão, foi preciso utilizar metodologia diferenciada, na qual as aulas práticas tomaram maior parte do tempo. O cacique Binã Matís explica que, no método convencional da comunidade, as galinhas ficavam integralmente soltas, dormindo no tronco das árvores, chocando no mato e, assim, a criação não prosperava. "O curso foi muito bom. Bom pra aldeia que aprendeu coisas novas", diz Binã.
Além do conteúdo básico de manejo de galinha caipira, um módulo específico sobre técnicas de construção de galinheiro permacultural, com telhado vivo e capacidade produtiva para 150 galinhas, foi incorporado ao curso. Todo o material utilizado para a construção dos galinheiros foi adquirido pela Funai, com recursos da Ação de Fomento ao Etnodesenvolvimento. Os custos com remuneração e deslocamento dos técnicos de Manaus até Tabatinga foram assumidos pelo Senar, enquanto o deslocamento até a aldeia, a hospedagem e a alimentação foram financiados pela Administração Executiva Regional da Funai em Atalaia do Norte.
Sustentabilidade
A permacultura é um conjunto de práticas agrícolas de uso da terra com princípios ecológicos, a partir da observação dos sistemas naturais, dos conhecimentos agrícolas tradicionais e do conhecimento científico e tecnológico moderno. A capacitação dos indígenas e a construção do galinheiro permacultural permite que a comunidade dos Matís possa operacionalizar a atividade granjeira de forma sustentável, com manejo apropriado para a produção de excedente para comercialização. Ocasionalmente, os Matís levam galinhas até o município de Atalaia do Norte para trocas pecuniárias.
Toda a aldeia participou da capacitação, porém somente os dez indígenas certificados tiveram o treinamento integral. O curso foi realizado pela Funai/AER de Atalaia do Norte em parceria com o Senar e com o Instituto de Permacultura da Amazônia (IPA).