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Livro aborda papel do indígena na criação de uma identidade nacional
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Analisar como se deu a criação da Seção de Etnografia e Arqueologia no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) pelos homens da elite letrada imperial oitocentista, comprometidos em originar um projeto político de desenho da nação brasileira que considerasse o papel que caberia ao indígena nesse processo de gestação. Esse é o principal objetivo da historiadora Kaori Kodama no livro Os índios no Império do Brasil – a etnografia do IHGB entre as décadas de 1840 e 1860, recém-publicado pela Editora Fiocruz.
Fruto de sua tese de doutorado, a obra é baseada em uma sólida pesquisa documental e apresenta uma bibliografia atualizada e faz parte da coleção História e Saúde, que reúne trabalhos originais e reedita estudos clássicos relacionados à história da saúde pública, da medicina e das ciências da vida.
"O leitor que se debruçar sobre este volume poderá visitar a identidade nacional do Brasil no século 19 – em um dos seus aspectos mais complexos, a questão indígena – por uma trilha ainda não explorada e que estava à espera de uma pesquisa, partindo de uma problemática eminentemente histórica", afirma o historiador Manuel Salgado Guimarães, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no prefácio do livro. "Aliando reflexão sobre a constituição de um campo de conhecimento às demandas políticas de um Estado em formação, Kaori Kodama explora adequadamente a relação entre esses dois campos e seus especialistas, indicando a importância do papel que a etnografia poderia desempenhar para a possibilidade de se fundar um 'povo brasileiro'".
A autora dividiu seu trabalho em três partes. A primeira trata de um apanhado das diversas representações do índio brasileiro, que passou de um componente da natureza do país a personificação da ex-colônia portuguesa na América no processo de independência. Na segunda parte, Kaori aponta os pressupostos implícitos na criação de um campo etnográfico no Instituto em diálogo com o problema da nação no Império do Brasil, enfatizando uma estreita ligação entre a etnografia realizada e a história nacional. Por fim, na terceira e última parte, ela associa a criação do Instituto a certas práticas etnográficas levadas a diante em nome do próprio governo imperial, que traçava diversas políticas direcionadas as populações indígenas.
"O livro é uma bela operação historiográfica: dialogando tanto com os trabalhos sobre história da geografia e da etnologia como com os autores que se dedicam ao próprio IHGB e lidando igualmente com artigos da sua revista, textos literários, debate parlamentar e relatórios de presidentes de província, a autora estabelece um quadro do modo como os índios passam a fazer parte da nação, seja a imaginada, seja a vivenciada", comenta o sociólogo Robert Wegner, professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), na orelha do livro.