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Julgamento da Terra Indígena Marãiwatsédé foi suspenso
O desembargador federal, do Tribunal Regional Federal 1ª região, João Batista Moreira, suspendeu nesta segunda-feira (16), em Brasília, o processo da retirada de fazendeiros e posseiros no interior da Terra Indígena Marãiwatsédé, do povo Xavante, localizada no norte de Mato Grosso.
O pedido de prorrogação se deu após a declaração, favorável aos indígenas e contrária aos posseiros, por meio do relator do processo, também do TRF 1ª Região, o juiz federal Pedro Francisco da Silva.
A sentença que determinaria a desocupação dos invasores da T.I. Marãiwatsédé, contou com a presença dos indígenas Xavante, do presidente da Funai, Márcio Meira, acompanhado do procurador federal do órgão indigenista, Antônio Marcos Salmeirão e dos posseiros que ocupam Marãiwatsédé.
Em razão dos conflitos e da presença de invasores, a Funai realiza a Operação I'rehi, e instalou um posto de fiscalização na Terra Indígena Marãiwatsédé, com servidores trabalhando permanentemente com os indígenas. O objetivo é a proteção do cerrado que ainda resta naquela região. O cacique Damião Paridzané, que acompanhou toda a audiência, demonstrou sua preocupação em relação aos novos invasores que estão sempre chegando à T.I. "eles estão dividindo a nossa terra em lotes e retirando nossas madeiras para a construção de cercas" ressaltou o líder.
Histórico da T.I. Marãiwatsédé
Marãiwatsédé, no idioma Xavante, significa mato fechado, mata perigosa. Antes do primeiro contato com a população regional, existiam várias aldeias Xavante espalhadas estrategicamente na região, como forma a impedir invasões de outros grupos indígenas. Eles foram os últimos Xavante a serem contatados, por volta de 1957. Viviam nessa área de terra fértil, onde o cerrado começa a dar vez à Floresta Amazônica.
Desde então, os fazendeiros foram tomando conta daquele território e a solução encontrada, pelos proprietários das fazendas, foi transferir os índios Xavante de Marãiwatsédé para a Terra Indígena São Marcos, em um acordo que envolveu o Serviço de Proteção ao Índio – SPI, instituição anterior à Funai, a Força Aérea Brasileira – FAB e a Missão Salesiana de São Marcos, formada por padres que atuavam em outra área Xavante.
Em 1967, os indígenas aceitaram a imposição e entraram em avião da FAB, na pista da sede da fazenda, mudando-se para São Marcos. Para os membros de Marãiwatsédé, aquele era um território totalmente desconhecido, que por sinal é habitado por outros indígenas. Naquele momento também houve perdas irreparáveis, uma epidemia de sarampo atingiu o grupo, aproximadamente 150 pessoas, que pertenciam à comunidade de Marãiwatsédé, faleceram, por conta das doenças que foram adquiridas durante aquele contato trágico.
Essa terra tão cobiçada, foi "comprada" por uma empresa paulista, a Ometto, em 1961, e nela, estabelecida uma fazenda, que ficou com o nome hoje lendário de "Fazenda Suiá-Missu" Em 1980, a Fazenda Suia-Missu foi vendida para a empresa petrolífera italiana, AGIP. Durante a Conferência de Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, chamada Eco 92, a AGIP, pressionada por antropólogos brasileiros e italianos, e vendo que essa fazenda não lhe dava lucros devidos, resolveu doar de volta aos Xavante a terra que lhes pertencia. Desde 1992 a terra vem sendo ocupada e devastada por invasores.
Descontentes com o sofrimento de estar em outras terras, e após perderem diversos membros de sua comunidade, os indígenas resolveram retornar à sua terra de origem tendo, primeiramente, na década 1970, mudado para a Reserva de Pimentel Barbosa, onde o então cacique Paridzané fundou a aldeia Água Branca, mais próxima de Marãiwatsede. Mais recentemente, em 2003, aproximadamente 800 Xavante acamparam à beira da BR – 158, a 150Km a oeste de São Félix do Araguaia, nas proximidades do seu antigo território, até conquistarem na justiça, o direito de reocupar suas terras.
Em 10 de agosto de 2004, finalmente, os Xavante de Marãiwatsede retomaram suas terras, concretizando o direito reivindicado, agora reconhecido pela justiça brasileira, porém, enfrentando sérios problemas com os fazendeiros, madeireiros e posseiros que, ao longo dos últimos 40 anos, ocuparam as terras dos Xavante.