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Fazendeiros são autuados por devastação na Terra Indígena Marãiwatsédé
Em uma ação de fiscalização da Funai na Terra Indígena Marãiwatsédé, no estado do Mato Grosso, foram encontrados 12 tratores agrícolas, em plena atividade de desmatamento e preparo de solo para plantio mecanizado no interior da área indígena. Após detectarem o crime, os funcionários da Funai solicitaram o apoio do Ibama e esse, por sua vez, autuou em flagrante, no dia 26 de julho, os fazendeiros Jurandir de Souza Ribeiro, proprietário da fazenda Conquista, e Antônio Penassio, da fazenda Colombo, pelo descumprimento de embargo e por impedir regeneração em área de especial recuperação.
Em função dos conflitos e da presença de invasores, a Fuani está desenvolvendo a Operação I'rehi, que instalou um posto de fiscalização na Terra Indígena Marãiwatsédé, com servidores trabalhando permanentemente com os indígenas. O objetivo é a proteção do cerrado que ainda resta naquela região. O Ibama e a Polícia Federal também foram acionados para combater a invasão e trabalhar em parceria com a operação.
teste Tratores agrícolas encontrados em atividade na TI Marãiwatsédé
Mesmo impedida de promover a retirada de invasores, a Funai e o Ministério Público do Mato Grosso aguardam decisão judicial, interposta no TRF 1° região, com o desembargador Pedro Francisco, que suspende a presença dos invasores na Marãiwatsédé.
No início do mês de julho, a Polícia Federal de Mato Grosso, desencadeou a Operação Pluma, nos municípios do chamado Vale do Araguaia, como Vila Rica, Santa Cruz do Xingu, Confresa, Porto Alegre do Norte, Ribeirão Cascalheira, Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia. O o objetivo da ação foi coibir a prática de grilagem de terras da União e vários outros crimes. Durante a operação, a PF apreendeu alguns membros de um grupo que teria feito grilagem, emissão de títulos falsos e extração de insumos vegetais da T.I. Marãiwatsédé.
Histórico da Terra Indígena Marãiwatsédé
Marãiwatsédé, no idioma Xavante, significa mato fechado, mata perigosa. Antes do primeiro contato com a população regional, existiam várias aldeias Xavante espalhadas estrategicamente na região, como forma a impedir invasões de outros grupos indígenas. Eles foram os últimos Xavante a serem contatados, por volta de 1957. Viviam nessa área de terra fértil, onde o cerrado começa a dar vez à Floresta Amazônica.
Desde então, os fazendeiros foram tomando conta daquele território e a solução encontrada, pelos proprietários das fazendas, foi transferir os índios Xavante de Marãiwatsédé para a Terra Indígena São Marcos, em um acordo que envolveu o Serviço de Proteção ao Índio – SPI, instituição anterior à Funai, a Força Aérea Brasileira – FAB e a Missão Salesiana de São Marcos, formada por padres que atuavam em outra área Xavante.
Em 1967, os indígenas aceitaram a imposição e entraram em avião da FAB, na pista da sede da fazenda, mudando-se para São Marcos. Para os membros de Marãiwatsédé, aquele era um território totalmente desconhecido, que por sinal é habitado por outros indígenas. Naquele momento também houve perdas irreparáveis, uma epidemia de sarampo atingiu o grupo, aproximadamente 150 pessoas, que pertenciam à comunidade de Marãiwatsédé, faleceram, por conta das doenças que foram adquiridas durante aquele contato trágico.
Essa terra tão cobiçada, foi "comprada" por uma empresa paulista, a Ometto, em 1961, e nela, estabelecida uma fazenda, que ficou com o nome hoje lendário de "Fazenda Suiá-Missu" Em 1980, a Fazenda Suia-Missu foi vendida para a empresa petrolífera italiana, AGIP. Durante a Conferência de Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, chamada Eco 92, a AGIP, pressionada por antropólogos brasileiros e italianos, e vendo que essa fazenda não lhe dava lucros devidos, resolveu doar de volta aos Xavante a terra que lhes pertencia. Desde 1992 a terra vem sendo ocupada e devastada por invasores.
Descontentes com o sofrimento de estar em outras terras, e após perderem diversos membros de sua comunidade, os indígenas resolveram retornar à sua terra de origem tendo, primeiramente, na década 1970, mudado para a Reserva de Pimentel Barbosa, onde o então cacique Paridzané fundou a aldeia Água Branca, mais próxima de Marãiwatsede. Mais recentemente, em 2003, aproximadamente 800 Xavante acamparam à beira da BR – 158, a 150Km a oeste de São Félix do Araguaia, nas proximidades do seu antigo território, até conquistarem na justiça, o direito de reocupar suas terras.
Em 10 de agosto de 2004, finalmente, os Xavante de Marãiwatsede retomaram suas terras, concretizando o direito reivindicado, agora reconhecido pela justiça brasileira, porém, enfrentando sérios problemas com os fazendeiros, madeireiros e posseiros que, ao longo dos últimos 40 anos, ocuparam as terras dos Xavante.