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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA - 2022
O desafio e a oportunidade dos semicondutores (O Globo - 24 de abril de 2022)
O desafio e a oportunidade dos semicondutores
Por Carlos Alberto Franco França
Uma das principais tendências do comércio internacional é o crescimento vertiginoso da economia digital. Os semicondutores desempenham papel central nessa nova economia. Computadores, celulares, carros e outros aparelhos eletrônicos que usamos todos os dias não existiriam sem eles. Esses componentes indispensáveis são resultado de cadeias de produção complexas e internacionalizadas.
Desde 2020, com o agravamento da pandemia, parcela significativa da população passou a trabalhar e estudar de casa, o que causou aumento expressivo da demanda por eletroeletrônicos. A logística mundial de transportes, por outro lado, foi desorganizada. Os fabricantes de semicondutores não puderam atender à nova demanda nas quantidades e prazos necessários.
O governo do presidente Jair Bolsonaro, por meio dos Ministérios das Relações Exteriores, da Ciência, Tecnologia e Inovações, das Comunicações e da Economia acompanha com atenção o assunto. Por meio do Grupo de Trabalho de Semicondutores, mantemos estreito diálogo com o Congresso Nacional e a sociedade civil acerca da promoção da indústria nacional de semicondutores e da inserção do Brasil nas cadeias internacionais de suprimento.
Um dos marcos desse diálogo será a realização de seminário internacional sobre o tema, em 27 de abril de 2022, no Palácio Itamaraty, em Brasília. Com a participação de autoridades e especialistas brasileiros e estrangeiros, serão discutidos os desafios atuais do setor; o quadro regulatório e as políticas aplicáveis às cadeias de suprimento de semicondutores; e as perspectivas da indústria brasileira nesse novo cenário.
O Brasil conta com relevante indústria de semicondutores, mas a produção doméstica atende apenas a cerca de 10% da demanda interna, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi). Ao depender da importação desses componentes, a indústria nacional vem sendo seriamente afetada pela escassez global do produto. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 70% das empresas do setor têm dificuldade para obter os semicondutores de que precisam. Nossa indústria automotiva também tem sido seriamente afetada.
Em constante diálogo com o setor produtivo, o governo brasileiro tem adotado medidas para estimular a produção nacional de semicondutores. Destacam-se a institucionalização da Rede Colaborativa para o Aumento da Produtividade e da Competitividade do Setor Automotivo Brasileiro, denominada Made in Brasil Ilimitado (MiBI), assim como a Lei 14.302/2022, que prorroga até 2026 os incentivos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis).
Há outras iniciativas em discussão, incluindo a criação de zonas de processamento de exportações, com regras tributárias, cambiais e administrativas especiais para a produção de semicondutores. A criação dessas zonas no Brasil reforçará a indústria existente e atrairá novos investidores para o mercado nacional, no momento em que as empresas líderes do mercado mundial de semicondutores buscam encurtar as cadeias de suprimento, diversificar e descentralizar suas operações.
O Brasil pode destacar-se nas novas cadeias de suprimento de semicondutores que surgirão em resposta à atual crise. Contamos com profissionais capacitados e condições de formar novos quadros. Nossa localização geográfica facilita a logística de fornecimento a outros importantes mercados regionais, inclusive nas Américas e na Europa.
Para aproveitar todo o potencial do Brasil nesse setor, será necessário esforço conjunto, apoiado por todas as esferas do Estado brasileiro. Esse esforço certamente resultará em políticas consistentes, capazes de render excelentes frutos para o desenvolvimento tecnológico, econômico e social do Brasil.