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Mensagem do Ministro Ernesto Araújo para os participantes do III Fórum Nacional da Liga Cristo Rei
Mensagem do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, para os participantes do III Fórum Nacional da Liga Cristo Rei, no Rio de Janeiro (23/11/2019)
Bom dia a todos! Saúdo todos os participantes desse III Fórum Nacional da Liga Cristo Rei. Lamento muito não poder estar pessoalmente com todos aí, no Rio de Janeiro, mas agradeço muito à Deputada Chris Tonietto o convite para participar e a oportunidade, apesar dessa impossibilidade de estar fisicamente presente, de enviar esta mensagem a todos.
Queria, antes de mais nada, enaltecer o trabalho excepcional que a Deputada Chris Tonietto tem feito aqui na Câmara dos Deputados. Um trabalho que tem tudo a ver com a agenda nossa aqui do governo, desse nosso Ministério, aqui do Itamaraty, em defesa dos direitos inalienáveis, muito especialmente em defesa do direito à vida. Isso é uma frente de trabalho importantíssima para nós.
Queria compartilhar com os senhores e com as senhoras uma breve reflexão a partir do milagre das Bodas de Caná. Jesus transformou a água em vinho, e não o vinho em água. Eu acho que a nossa civilização, há algumas décadas, nossa civilização ocidental tenta transformar o vinho em água. É uma civilização que, de certa forma, começou a apagar a si mesma e a diluir a si mesma. É uma civilização que começou a aguar-se, de certa maneira, e distanciar-se de uma dimensão mais profunda.
Também acho que – e falo isso com toda a humildade de um filho da Igreja Católica – temos setores da Igreja que se cansaram de enfrentar o mundo e começaram a tornar a Igreja uma igreja fria, uma igreja mais de água do que de vinho. Porque o vinho, para todos nós que cremos, é o sangue, o sangue da nova e eterna aliança.
Não quero falar muito de aliança, porque podem dizer que eu estou falando do novo partido que está sendo criado aqui, que foi criado ontem, o Aliança pelo Brasil. Mas é interessante mencionar isso. É fundamental destacar que essa nova iniciativa, esse novo partido, pela primeira vez, é um partido que coloca Deus em seu programa, que fala de Deus e coloca em seu programa o compromisso com a fé do povo brasileiro. Coloca isso no seu programa, no seu estatuto.
Eu acho que é impossível ter fé no povo brasileiro sem, ao mesmo tempo, respeitar e cultivar a fé do povo brasileiro. Nós estamos num momento que acho que será visto, no futuro, como um momento fundamental da vida política do nosso país, nessa criação de uma força política tão visceralmente ligada à fé e aos sentimentos mais profundos do nosso povo.
Nós sabemos que muitas pessoas não acreditam em Deus. Mas muitas pessoas acreditam em Deus, mas acham que Deus não faz nada. Essa é uma certa visão, de um Deus distante, o Deus absconditus, que é a divindade de muitas religiões, para aqueles que estudam a história das religiões. Mas eu acho que não corresponde à concepção cristã, nem em uma perspectiva bíblica, nem em uma perspectiva apostólica.
Se a gente vir, no Velho Testamento, Deus está sempre presente na vida do seu povo. E depois Deus se faz presente, atua evidentemente na encarnação, claro, para aqueles que acreditamos na encarnação, e permanece, depois. O Evangelho de Mateus termina com a promessa do Cristo ressuscitado, que diz: “Eu estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos.” E eu acredito que esse “estar conosco” não é simplesmente o estar ali, olhando. Eu acho que é um estar fazendo, um estar atuando, um estar sofrendo junto conosco.
E essa perspectiva da Liga Cristo Rei, eu acho fundamental, ness sentido. Acho que a realeza de Cristo também está junto com essa sua presença. Cristo é Rei. Cristo é Rei no sentido bíblico, Cristo é o filho de Davi, portanto, da linhagem real. Cristo foi crucificado como Rex Iudaeorum, Rei dos Judeus. Portanto, é um aspecto fundamental da nossa crença.
A palavra “rei” vem do latim rex, que vem de uma raiz indo-europeia que significa estar de pé. O rei representa o princípio da verticalidade do ser humano, a aspiração à transcendência, a presença da transcendência. Mas, ao mesmo tempo – claro, sempre falando na perspectiva dos católicos –, Cristo também, com a encarnação, participou da imanência, da existência terrena. E a sua presença dá-se também nesse nosso plano horizontal e real de todos os dias, e não apenas como aspiração abstrata. Eu acho que a figura de Cristo Rei, entre as outras figuras de Cristo, é fundamental para essa concatenação das duas dimensões, que aparece no simbolismo da cruz, onde a aspiração espiritual, vertical, se une à existência material e horizontal, com um centro misterioso, gerador de complexidade, e ao mesmo tempo unificador.
E nesse simbolismo da cruz também, digamos, a dimensão mística das nossas vidas encontra-se com o que a gente pode chamar da dimensão política. Então, eu acredito que nós não podemos, ou não devemos isolar a nossa percepção política, e a nossa atuação política, da nossa fé, nem vice-versa. Justamente porque a fé cristã é a fé em um Deus que participa do mundo.
Em grande parte, essa gigantesca mudança que o Brasil está atravessando na política, desde a eleição do Presidente Jair Bolsonaro, deve-se à quebra da barreira entre a fé e a política, entre a vida social e a fé, que está corporificada em vários momentos: por exemplo, no lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Essa barreira, por muitas décadas, esteve aberta, mas de uma maneira completamente equivocada, e aberta com uma mão só: a Teologia da Libertação foi, como os senhores sabem muito melhor do que eu, um trânsito, digamos, da ideologia marxista para o lado da fé cristã, contaminando essa fé cristã. Hoje, trata-se de algo muito diferente. Alguém já vai dizer: “Não, então vocês estão invertendo o sinal.” Acho que é algo completamente diferente: a fé cristã encontrando espaço dentro da política e enriquecendo a vida política. Eu acho que a ideologia marxista empobreceu a fé católica, na medida em que ela ali penetrou. E hoje o que nós estamos vendo é a fé cristã, a fé católica autêntica, e também a fé das outras denominações cristãs, enriquecendo a política.
Então, essas eram as reflexões que eu queria compartilhar. Eu acho que, para resumir, nós precisamos tentar transformar a água da política no vinho da fé, ou, pelo menos, transformar a água pelo vinho; tentar colocar nessa nossa dimensão da vida política – porque todo o ser humano está presente na sociedade; portanto, tem uma atuação política – os nossos anseios e essa fé que nos anima.
Muito obrigado!