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Live com o Ministro Ernesto Araújo sobre o Itamaraty e a retomada econômica
Live com o Ministro Ernesto Araújo sobre o Itamaraty e a retomada econômica (24/06/2020)
Ministro Ernesto Araújo – Oi, boa noite a todos! Nesta live, conversaremos um pouco sobre a dimensão econômica do trabalho do Itamaraty, principalmente diante da pandemia da COVID-19 e da necessidade de recuperação econômica a partir da situação gerada por todo impacto da pandemia.
Estou aqui com dois colegas da área econômica do Itamaraty – o Conselheiro André Simas Magalhães, Coordenador-Geral de Mecanismos Inter-Regionais, e o Secretário Ricardo Iuri Canko, Assessor no Departamento de MERCOSUL e Integração Regional – para conversarmos sobre vários desses aspectos em que o Itamaraty, sempre em coordenação com vários outros Ministérios, trabalha em várias vertentes para acelerar essa retomada econômica, que é absolutamente fundamental. Para dar um exemplo do quadro conceitual disso, houve uma recente teleconferência dos Ministros do Comércio do G20, onde eu represento o Brasil, o Itamaraty tem a função de coordenar as negociações comerciais, ficou assentado que é preciso trabalhar, claro, a dimensão da saúde, mas todos os países do G20 reconhecem que é preciso trabalhar na recuperação econômica e pensar nos setores mais vulneráveis da população, que são aqueles mais impactados.
Todas essas dimensões das quais vamos falar, do trabalho econômico do Itamaraty, já vinham antes e eram muito intensas, mas agora estamos redobrando os esforços para que possamos dar essa contribuição ao processo de recuperação econômica.
A primeira dimensão que eu gostaria de trazer é a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O nosso trabalho é para que o Brasil se torne membro pleno da OCDE, que é uma organização absolutamente vital. Se o Brasil se tornar membro, isso será como um selo de qualidade da economia brasileira, com capacidade de atrair investimentos e muitas outras vantagens.
Eu gostaria de pedir ao André para falar um pouco sobre como está essa questão da OCDE.
Conselheiro André Simas Magalhães – Obrigado, Ministro. Primeiro, o senhor mencionou que a entrada do Brasil na OCDE como membro pleno significa um selo de qualidade, com isso a gente espera que resulte em mais comércio e mais investimentos.
Segundo ponto é a convergência regulatória que nossa entrada na OCDE significa. Essa convergência regulatória significa mudança de regulamentos, padronização, aproximação das melhores práticas internacionais, e esse processo por si só, a gente espera que resulte em mais eficiência da economia brasileira e em mais atração de investimentos privados.
Terceiro ponto, da entrada como membro pleno, é a mudança de uma situação que existe hoje: o Brasil pode aderir a instrumentos da OCDE, mas não participa da negociação deles. Nós como membro pleno, vamos poder ter voz nessas negociações, influenciar no resultado. E, não é uma influência pequena, o Brasil é a 8ª economia do mundo em termos de paridade de poder de compra. Então, vai poder fazer-se ouvir nas negociações destes instrumentos.
A OCDE também ganha com a entrada do Brasil, não é só o Brasil que ganha. A Organização ganha relevância, ganha importância com a entrada de um membro do tamanho do Brasil. Como está isso agora? Nós conseguimos o consenso de todos os membros da OCDE, para a entrada do Brasil como membro pleno, este ano nós conseguimos a declaração pública dos Estados Unidos, de que o Brasil é um membro prioritário para a entrada na OCDE. Essa foi uma mudança importante, e a gente espera que esse convite para o Brasil entrar na OCDE aconteça em breve. Quando isso acontecer, começa o processo de aceleração de aproximação regulatória do Brasil com a OCDE.
O Brasil não está esperando esse convite, ele já está se preparando, a gente criou no passado o Conselho Brasil-OCDE, que incorpora os ministérios envolvidos nessa parte de regulamentação e, continuamos nesse processo de aproximação. Hoje são 254 instrumentos, no total, da OCDE e o Brasil faz parte de 80 instrumentos. Já pedimos adesão a mais 60 instrumentos. Nesse ano de 2020, já aderimos a três novos instrumentos de práticas orçamentárias, de práticas regulatórias. É um processo contínuo que vai se acelerar quando nós recebermos esse convite.
Esse próprio processo de mudança regulatória e de aproximação às melhores práticas, nós acreditamos que ele por si só já vale, ele por si só já tem resultados que fazem parte do programa com o qual o governo está comprometido. Com a modernização, com a facilitação, com a transparência, com a agilidade e com a criação de um ambiente propício ao empreendedorismo. Então esta é a situação do nosso processo na OCDE.
Ministro Ernesto Araújo – Lembrando, claro, que é um processo que envolve vários ministérios, coordenado pela Casa Civil, onde o Itamaraty participa com grande afinco, ao lado do Ministério da Economia e muitos outros. No fundo, o processo de adesão do Brasil já está em andamento, mesmo que ainda não tenha começado formalmente todas essas adesões a instrumentos específicos. Eles já vão mudando a visão que se tem da economia brasileira, uma visão de solidez, uma visão de confiança na nossa economia, nas nossas reformas.
Eu queria falar um pouco da parte de negociações comerciais, da negociação de acordos comerciais. Esta vertente foi muito dinamizada na nossa gestão, como todos sabem, ano passado, em 2019, nós concluímos a negociação do Acordo MERCOSUL-União Europeia, depois de vinte anos; concluímos também a negociação do Acordo MERCOSUL-EFTA, que é uma área europeia de livre comércio que tem quatro países. Ou seja, com a União Europeia foi um acordo com maiores proporções, e a EFTA também é de grande importância. Mas continuamos muito ativos nessas negociações. Redobramos também os esforços ao longo deste ano e temos a certeza que isso também vai ser uma contribuição importante para a recuperação econômica.
Eu queria pedir para o Ricardo falar um pouco de algumas dessas negociações que estamos envolvidos.
Secretário Ricardo Iuri Canko – Obrigado, Ministro. Boa noite. No caso das negociações de acordos comerciais, elas são fundamentais e serão ainda mais fundamentais para ajudar o Brasil a enfrentar os efeitos da pandemia. Isso é algo que nós não podemos perder de vista. Os acordos comerciais na verdade ajudam em vários fatores, em várias vertentes. Algumas pessoas poderão se lembrar, por exemplo, da abertura de mercados para nossas exportações, da inserção das nossas empresas nas cadeias globais de valor, ou da atração de investimentos, e, inclusive, os acordos ajudam a contribuir, a fortalecer e a complementar as nossas reformas internas. Ou seja, serve de impulso para isso. Digamos, saindo do abstrato e vindo mais para o plano real. O que os acordos geram para o brasileiro, seja uma empresa brasileira, seja um consumidor brasileiro? Geram produtos, insumos mais baratos, de melhor qualidade e mais diversificados. Isso é muito importante. Ou seja, isso vai ter um impacto positivo na vida real da empresa brasileira, do operador econômico e do cidadão; que é uma coisa da qual o governo tem plena consciência.
Não podemos perder de vista, por exemplo, uma negociação com a União Europeia, que é uma negociação que terá um impacto tremendo na nossa economia. As estimativas do Ministério da Economia são que, por exemplo, até 2035, ou seja, num espaço de quinze anos, esse acordo propiciará um crescimento adicional do nosso PIB em torno de 125 bilhões de dólares, que não é nada desprezível. E, no mesmo período de tempo, as exportações brasileiras para a União Europeia deverão aumentar em torno de 113 bilhões, sem falar nos investimentos europeus que deverão ficar em torno de 100 bilhões de dólares. Isso são coisas importantes que todos nós devemos ter presente.
Ministro Ernesto Araújo – E, nós já estamos avançando na assinatura dos dois acordos, porque as negociações foram concluídas no ano passado, ainda falta a assinatura.
Secretário Ricardo Iuri Canko – Exatamente. Nesse momento tanto a União Europeia quanto o Brasil, os dois lados, as duas partes, estão fazendo a revisão legal e jurídica dos textos. Estão fazendo esforços para que agora no próximo semestre, o segundo de 2020, os textos dos acordos estejam prontos para a assinatura e isso é muito importante.
Ministro Ernesto Araújo – Exato. Inclusive, eu já tenho conversado com o Comissário de Comércio da União Europeia, que é como se fosse o Ministro do Comércio da União Europeia, que está igualmente tão empenhado quanto nós, em levar adiante a assinatura e depois a ratificação desse Acordo. Claro, que o Acordo é excelente para o Brasil e para os demais países do MERCOSUL, para o Brasil sem a menor dúvida, mas também é bom para a União Europeia, porque todo acordo é bom, quando é bom para os dois lados. Portanto, há muito interesse europeu também em levar adiante o processo de ratificação.
Estamos envolvidos em negociações em andamento com o Canadá e o Reino Unido.
Secretário Ricardo Iuri Canko – Exatamente. Com o Canadá já realizamos sete rodadas, com a Coreia do Sul cinco rodadas, e com Singapura e Líbano, com cada um desses países, uma rodada. O fato de nós também termos a perspectiva de ampliar acordos já existentes, por exemplo, o acordo com a Índia; o acordo com Israel, que é um acordo importante; e também o acordo com o México. Claro, o Brasil segue empenhado em trabalhar também para ampliar seus horizontes, ou seja, não pode ficar restrito, não pode ficar parado. Nesse sentido, nós temos presente que há uma potencialidade grande, por exemplo, no Sudeste Asiático, no Japão, na América Central, que são regiões que tem um potencial que pode ser explorado e que pode ajudar o Brasil a se recuperar economicamente no futuro próximo.
Ministro Ernesto Araújo – Só para dar um exemplo, claro, isso tudo a gente sempre procura alavancar essas negociações com conversações políticas, também recentemente, acho que na semana passada, tive uma conversa com o Chanceler do Canadá, que também tem um interesse muito grande na conclusão desse acordo com o MERCOSUL. Estamos muito otimistas sobre a conclusão desse acordo. Isso é muito importante: o mundo e a política econômica funcionam juntos. A qualidade da nossa relação política sempre ajuda a acelerar os acordos comerciais e vice-versa.
Outra dimensão a mencionar, é que temos a perspectiva de começar negociação de uma parceria econômica com os Estados Unidos, isso foi determinado na última declaração dos dois Presidentes em Mar-a-Lago, em março, do Presidente Trump e do Presidente Bolsonaro. No sentido, de que vamos ter uma parceria econômica ambiciosa com os Estados Unidos. A forma que isso vai tomar, já tenho conversado com o representante comercial dos Estados Unidos, já mais de uma vez. Há muito interesse dos dois lados, óbvio, que também faz parte de uma relação estratégica, que também é um exemplo de possibilidade de um grande entendimento econômico comercial e que talvez não fosse possível se não houvesse uma relação política da qualidade que nós estamos construindo com os Estados Unidos.
De modo que, com a Índia também, por exemplo, nós tivemos a visita do Presidente Bolsonaro à Índia, onde elevamos muito o nível da relação, o nível estratégico. A Índia passou a ver o Brasil com outros olhos, com olhos de um parceiro diferenciado, assim como nós em relação à Índia. Eu conversei com o Ministro do Comércio da Índia, inclusive, em uma reunião como essa aqui, e ele disse: “Vamos fazer um acordo de livre comércio”. Assim, sem maior planejamento. Mas, claro, existe toda uma necessidade de um trabalho técnico, obviamente. Mas o impulso é dado e são países que – Estados Unidos, Índia, são exemplos que eu citei – têm todo um processo também para iniciar uma negociação. O fato de quererem ter uma negociação conosco não é uma coisa banal, é uma coisa que resulta de um trabalho, que resulta do trabalho que estamos fazendo desde o começo desse governo, de construção de parcerias, de construção de relacionamentos muito diversificados e muito profundos.
Dentro da vertente de negociação, temos também as negociações que ocorrem no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem os seus problemas com essa Organização atualmente, mas que continua gerando resultados e a perspectiva de acordos importantes. Se o André puder falar do Acordo de Compras Governamentais, como está indo o andamento.
Conselheiro André Simas Magalhães – É um acordo que já existe, é um acordo plurilateral, são 48 países membros, é um acordo que envolve compras anuais de 1,7 trilhão de dólares. Os membros deste acordo se dão acesso a mercados entre eles, ou seja, um acesso privilegiado. Hoje, o Brasil não é parte, e quer ser parte desse acordo para ter acesso a esse mercado de compras, para que nossas empresas possam acessar esse mercado gigantesco de compras governamentais dos outros países que fazem parte desse acordo.
A gente quer fazer parte desse acordo por dois motivos: o primeiro é esse de nossas empresas poderem ter acesso a esse mercado; o segundo ponto, é que as nossas compras governamentais também passam a ser mais competitivas, pois vai haver mais competição, vai haver mais transparência, vai haver mais eficiência do gasto público.
Então, esse acordo é um acordo negociado no âmbito da OMC e não são todos os países que fazem parte, mas é um número significativo de países, como eu mencionei, com um volume de compras significativo e que faz parte também dessa estratégia do Brasil se posicionar para aproveitar a retomada econômica que deve ocorrer a partir do ano que vem.
Ministro Ernesto Araújo – Ou seja, compras governamentais são basicamente licitações públicas dos países que estão sempre sujeitos a regras diferentes. Nesse acordo, os países participantes ganham acesso preferencial. Então quanto tiver uma licitação na Itália, por exemplo, o país que é membro do acordo vai ter uma determinada preferência, em relação ao país que não é membro, para participar de uma licitação internacional e vice-versa. Sempre com essa dupla via, tudo que é negociação e liberalização comercial tem uma dupla via, você sempre ganha acesso a um determinado mercado e você também abre o seu.
Qual é a vantagem de você abrir? É a competitividade. Nós acreditamos profundamente na liberdade econômica, na abertura econômica, para gerar essas duas vertentes: acesso para os nossos produtos e ao mesmo tempo competitividade ao abrir o nosso mercado à competição. Claro, sempre de uma maneira racional, de uma maneira que leve em conta os demais riscos. Mas como filosofia de jogo, digamos, nós continuamos acreditando tanto quanto acreditávamos antes da pandemia, na virtude da abertura econômica. Isso é muito importante de se mencionar. Isso é para dar um exemplo de uma perspectiva que existe nessa vertente multilateral, como se chama, entre outras.
Além de tudo isso, existe a vertente da promoção comercial. Ela se diferencia da negociação. Negociação é sempre entre governos, ou entre Estados para gerar acordos que definem determinadas regras e aberturas. Promoção comercial é o apoio específico, direto, a empresas, para elas terem acesso a um mercado no exterior. De um lado você está falando de negociações intergovernamentais, de outro lado de apoio ao setor privado basicamente. Nessa vertente, nós também estamos redobrando esforços, o Itamaraty juntamente com a Apex-Brasil – que é a nossa Agência de Promoção Comercial e de Investimento, que é vinculada ao Itamaraty – ontem, ou anteontem, tivemos a Reunião do Conselho Deliberativo da Apex-Brasil, que eu presido, com um programa de trabalho centrado em trabalhar na recuperação, agora, diante da situação gerada pela COVID-19; identificar oportunidades inclusive, geradas pela COVID-19; correr atrás de todas as perdas que houve, para todo o mundo, não só para o Brasil, em termos de mercado, com as medidas restritivas que houve ao redor do mundo. É um programa muito bom, é um programa que sempre trabalha em conjunto com os setores de promoção comercial do Itamaraty, que funcionam, mais de 200, ao redor do mundo.
Então o André poderia falar um pouco também sobre essa vertente de promoção comercial.
Conselheiro André Simas Magalhães – Primeiro, Ministro, eu vou começar com alguns números. No primeiro trimestre deste ano, o Brasil foi o único país do G20, que expandiu a sua corrente de comércio, nossas exportações cresceram 1%, nossas importações cresceram 3%, enquanto que a média dos países do G20 caiu 4%. Este foi um resultado expressivo e que resulta também de vários fatores, mas um deles são os esforços de promoção comercial do Itamaraty e do governo brasileiro. Nesse setor, esse resultado, nós temos que ressaltar o agronegócio, que é um campo onde o Brasil é competitivo, que é um campo que assegura que esse nosso fluxo de negócio seja significativo.
Nos primeiros cinco meses do ano, nós tivemos exportações recordes, uma série histórica, nós exportamos 42 bilhões de dólares em produtos agrícolas. Isso foi um resultado inusitado, pois esse comércio agrícola é mais regulado do que os outros comércios. Então a atuação do Itamaraty, a atuação do governo, é importante. O Itamaraty atua em coordenação com o Ministério da Agricultura, uma parceria importante. No âmbito bilateral, nós negociamos certificados sanitários e fitossanitários, para que as exportações possam ser aceitas. Nós negociamos a habilitação de estabelecimentos para exportar para um país, cada estabelecimento tem que ser habilitado para poder exportar carne, para poder exportar produtos agrícolas. Este ano, nós conseguimos expandir o número de estabelecimentos habilitados para exportar para a Tailândia, para as Filipinas e para o Vietnã. Então, resultados significativos contribuíram para isso.
O outro aspecto, das negociações do agronegócio, é o aspecto multilateral. O Itamaraty tem trabalhado muito em conjunto com o Ministério da Agricultura para se certificar de que essa pandemia não seja utilizada como desculpa para que medidas protecionistas sejam adotadas nesse setor, para que subsídio doméstico seja ampliado. O Brasil acredita que não há motivo para isso, o Brasil pode ser um fornecedor seguro, mesmo nesse ambiente de pandemia.
Nós conseguimos um resultado recente importante: um grupo importante de países declarou que essas medidas protecionistas devem ser pontuais, transparentes e temporais. Isso foi um resultado de coordenação, de diplomacia, de esforço de colaboração com os demais países, que nós esperamos que tenha resultados práticos no futuro, para que essas medidas protecionistas que estão sendo adotadas sejam mais tarde revertidas e que as nossas empresas consigam voltar a ter acesso ampliado, e que isso contribua para essa nossa retomada econômica.
Ministro Ernesto Araújo – Ótimo. E a promoção comercial envolve sempre também a dimensão de investimentos, a atração de investimentos. Ou seja, nós apresentarmos a investidores estrangeiros as oportunidades que existem no Brasil. Aqui, é bastante óbvia a quantidade impressionante que existe no nosso portfólio de investimentos na parte de infraestrutura, isso é sempre mostrado em todas as visitas que nós fazemos ao exterior e toda a comunidade de investidores internacionais está muito consciente dessas oportunidades.
Recentemente, eu tenho conversado com chanceleres e ministros do Exterior de vários países que tem fundo de investimentos, como, por exemplo, os países do Golfo, sobretudo Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, todos eles estão interessadíssimos nessas perspectivas. Ontem mesmo, eu falava com o Chanceler do Kuwait, estávamos na perspectiva da aprovação do novo marco de saneamento. Mencionei isso, e, bom, eu estava falando com ele por telefone, mas eu acho que ele arregalou os olhos do outro lado, pela voz eu senti um interesse muito grande nessa dimensão que isso abre para os investidores estrangeiros. Eu falei, recentemente, com a Ministra da Noruega, que tem também fundos de investimentos e muito interesse em investir em energia e em infraestrutura no Brasil.
André, você podia também mencionar um pouco os números e os resultados dessa atração de investimentos.
Conselheiro André Simas Magalhães – Nessa área de investimentos, nós também temos números que podem ser citados, que valem a pena serem citados. No primeiro trimestre, nós tivemos investimentos de 19 bilhões de dólares no Brasil. Um aumento de 6% do fluxo externo de investimento estrangeiro no Brasil. Nós já tínhamos tido em 2019, um crescimento expressivo em relação a 2018, nós saímos de investimentos de 60 bilhões de dólares em 2018, para 75 bilhões de dólares de investimento em 2019. Foi um resultado de confiança do investidor, de privatizações, de bons projetos e isso continuou no primeiro trimestre deste ano.
O Itamaraty, nessa parte de relação de investimentos, como o Ministro disse, nós temos a Apex-Brasil, nós temos os nossos postos que auxiliam nessa divulgação de oportunidades de investimentos. Como o Ministro mencionou, nessa área de saneamento, nós temos uma carteira de projetos estimada em 45 bilhões de dólares de investimentos em projetos a serem licitados até o segundo trimestre do ano que vem. Então vai ser um esforço enorme e o Itamaraty vai participar atraindo esses investidores para participar desses investimentos e, essa atração também, vai ter de envolver essa reconfiguração, como o Ministro mencionou, das cadeias globais de valor. Com a pandemia estão repensando essas cadeias, estão repensando a localização de indústria, reformatação de cadeias de suprimento. O Brasil tem que estar preparado para se colocar como um país que seja a base também desses novos investimentos e que participe dessas cadeias com um valor agregado.
Ministro Ernesto Araújo – Acho que isso é fundamental mencionar, todas essas vertentes que nós mencionamos aqui: a OCDE, as negociações bilaterais, as negociações multilaterais, a promoção comercial, a atração de investimentos, tudo isso converge para a necessidade e de fato nós estamos nos preparando, estamos fazendo de tudo para aproveitar as oportunidades que estão surgindo a partir da pandemia, com essa reconfiguração das cadeias globais de valor, as cadeias de suprimento.
O Brasil esteve muito alijado, durante muito tempo dessas cadeias, porque não tinha o aparato dos acordos, porque não queria entrar na OCDE, durante muito tempo, claro, que o impulso de entrar na OCDE veio do governo anterior, do governo Temer. Mas nós aceleramos agora e conseguimos essa articulação política, que vai nos permitir em breve entrar na OCDE.
O Brasil tinha uma ideia de ser autossuficiente, e perdeu vinte anos talvez, dessas cadeias de produção. Nossa indústria não conseguiu entrar como poderia ter entrado nessas cadeias e participar dessa grande revolução, que houve a partir do começo dos anos 90, nessa alocação mundial da produção. Perdemos tecnologia, perdemos capacidade de gerar emprego, capacidade de gerar renda, emprego de alta qualidade.
E isso faz parte da nossa estratégia. Nós temos muitos trunfos, temos o trunfo do agronegócio, evidentemente, com uma competitividade extraordinária, a gente está aqui, mais uma vez, com a excelente cooperação que nós temos com o Ministério da Agricultura, nessa abertura de mercado que o André mencionou. Nós nos dotamos, a partir do começo deste governo, de uma estrutura mais específica para trabalhar com o agronegócio no Itamaraty, sempre em coordenação com o Ministério da Agricultura. Não havia, nossa promoção comercial era basicamente centrada só nos produtos industriais, mas agora há uma ênfase diferenciada, hoje estamos muito atentos a essas novas oportunidades.
Claro, a pandemia é uma tragédia, cada vida que se perde, é uma tragédia. Mas nessa reconfiguração, nessa retomada econômica, nós estamos convencidos de que se nós agirmos certo, se nós continuarmos nos dotando desses instrumentos, nós poderemos estar melhor do que antes, na capacitação do Brasil para figurar como protagonista nessas cadeias globais de suprimentos, nessa nova economia mundial que está se gerando.
Aqui existe esse trabalho negociador dos vários instrumentos, existe também o trabalho político, o trabalho de articulação política. Certamente, um âmbito que vai ser muito importante e decisivo, é o que está se chamando de G7 ampliado, uma ideia que ainda não está totalmente definida, mas onde o Brasil estará. A ideia de que o G7 se tornará um G10, um G11, um G12, uma coisa assim, com um grupo de grandes economias, que de uma maneira vão se coordenar para que essa nova retomada seja algo que faça sentido, que traga prosperidade e ao mesmo tempo também traga liberdade. Acho que isso é fundamental: que o processo de globalização seja um processo que nutra essas diferentes dimensões tanto da liberdade econômica quanto das outras dimensões da liberdade. Esse é um trabalho que está em andamento, mas é algo que talvez já fosse uma tendência, mas tem se acelerado agora durante a pandemia. E, o Brasil estará dentro, tenho certeza, de que qualquer novo âmbito que se crie para o que se chama de governança econômica mundial.
Eu queria fazer uma pergunta para os dois colegas, diante de tudo isso que nós conversamos, o que vocês acham de alegações que existem por aí, de que a nossa política externa prejudica os nossos interesses comerciais e econômicos? Queria pedir a opinião de vocês muito sincera e franca.
Conselheiro André Simas Magalhães – Eu queria também aproveitar esse momento final, para justamente reiterar essa parte comercial, da nossa área comercial, do trabalho que tem sido feito. Pelo contrário, não atrapalha. Nós estamos facilitando o nosso comércio. Nessa pandemia já foram listadas mais de 300 medidas de restrição comercial na OMC. Então é um trabalho da Divisão que se ocupa do assunto, é um trabalho diário de monitorar essas medidas e de acompanhar, e de atuar, para ter certeza de que essas medidas depois sejam revertidas. É um trabalho que acontece pró--comércio, a favor do comércio que envolve atuação bilateral, e envolve coordenação com mais de um país.
Eu posso também citar a atuação do G20, nós tivemos agora em maio uma declaração dos Ministros de Comércio do G20, que listou medidas pró-comércio, inclusive, se certificando de que essas medidas restritivas serão temporárias, se comprometendo a aprofundar e a continuar a implementação do Acordo de Facilitação do Comércio, que é um acordo que foi negociado na OMC também, justamente para diminuir os trâmites aduaneiros, para facilitar o comércio. Então, nessa área comercial o Itamaraty tem trabalhado para facilitar, promover e estimular o comércio transnacional.
Secretário Ricardo Iuri Canko – Na verdade, a pandemia meio que paralisou o mundo. Estamos todos tentando entender o que aconteceu e nos adaptar agora para os próximos tempos. Mas, tanto antes da pandemia, quanto no momento presente, se percebe que o interesse pelo Brasil, por ser uma das maiores economias do mundo, persiste. Ou seja, o Brasil continua a ser um ator muito importante. E, claro, que em todo processo negociador sempre há grupos de interesse, há lobbies que vão tentar fazer de tudo para que uma negociação não dê certo, não avance, para que eles possam proteger seus interesses. Mas com diplomacia, com coordenação de esforços com os ministérios, com a Esplanada, o Brasil certamente vai muito longe.
Ministro Ernesto Araújo – Eu acho que o que vocês falaram e o que nós conversamos aqui, mostra que existe uma lógica na nossa atuação, na nossa política externa, que inclui a dimensão econômica comercial e inclui outras dimensões, e todas essas dimensões se alimentam mutuamente. Eu acho que durante muito tempo houve uma teoria de que a parte econômica e comercial é algo isolado do restante da política externa ou de que ela representa toda a política externa. E, essa visão não resultou, não resultou em acordos, não resultou em entrada em grandes fóruns, não resultou na participação do Brasil nas cadeias de valor. Então eu digo que é uma política, às vezes, chamada de comercialista, mas que não gerava comércio.
Hoje, nós procuramos ter uma política externa mais completa, uma política externa que fale das várias vertentes de interesses do Brasil, do povo brasileiro, dos seus valores. Ao mesmo tempo é uma política que tem resultados econômicos e comerciais maiores que os anteriores, como a gente está vendo. E, que hoje, contribui para que a gente tenha essa perspectiva de uma retomada econômica, claro, juntamente com a ação de todo o governo brasileiro. Isso também é um grande diferencial do governo do Presidente Bolsonaro, que é um time, que é um grande trabalho uníssono. Nós aqui no Itamaraty, eu participei durante a maior parte da minha carreira de negociações comerciais, em diferentes dimensões, me orgulho de dizer que nós, como instituição, estamos dando essa contribuição em favor desses interesses do Brasil, dos interesses do povo brasileiro, nesse momento de tantos desafios.
Vocês querem completar com mais alguma coisa? É isso? Está bem. Então, obrigado a todos que nos assistiram. Tudo de bom!