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Discurso do Ministro Ernesto Araújo no seminário “60 Anos das Relações Brasil-República Da Coreia”
Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, no seminário “60 anos das relações Brasil-República Da Coreia” (03/09/2019)*
Agradeço muito especialmente a presença do Vice-Ministro de Assuntos Econômicos da Coreia, Yun Kang-hyeon; e do Embaixador da Coreia, Kim Chan-woo.
Agradeço muito especialmente a presença nessa abertura do Deputado Cláudio Cajado, Presidente da Frente Parlamentar Brasil - Coreia do Sul.
E agradeço aos palestrantes coreanos e brasileiros, que muito nos honram com sua presença e participação neste seminário.
Quero saudar o Secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia, Embaixador Reinaldo Salgado, e sua equipe aqui presente.
A Diretora do Instituto Rio Branco, Embaixadora Maria Stela Frota, neste primeiro dia da sua gestão à frente dessa grande instituição, que é o Instituto Rio Branco, uma homenagem muito especial à Embaixadora.
Diplomatas estrangeiros e colegas do Ministério.
Saúdo o Presidente da FUNAG, Ministro Roberto Goidanich, e a esse respeito compartilho a sua referência à nossa saudosa colega e amiga Cynthia Bugané, que nos deixou tão cedo.
Senhoras e senhores colegas, tenho uma grande satisfação em abrir este seminário, organizado conjuntamente pelo Itamaraty, pela FUNAG e pela Embaixada da República da Coreia em Brasília, celebrando esta data marcante, os 60 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e a Coreia do Sul.
Há 60 anos, o Brasil foi o primeiro país latino-americano a estabelecer relações diplomatas com a Coreia. Naquele momento, o Brasil passava por profundas mudanças: momento de diversificação de seu parque industrial, abertura ao capital externo e o extraordinário esforço, tanto no plano concreto, quanto no plano de reinvenção nacional, que foi a construção desta nossa cidade de Brasília, desta nova capital.
Eu acho que podemos ver alguns paralelos entre aquele momento e o momento atual que o Brasil está vivendo, esse desejo de construir um país que nós sempre sonhamos, e que, em tantos momentos, achamos que estávamos perto de alcançar e, por diferentes motivos, ainda não alcançamos. Acho que é um momento de reconectar com esses momentos da nossa história, em que tínhamos esse mesmo élan, esse mesmo impulso de crescimento e de realização, e identificar com o momento presente esses momentos nossos do passado.
Sem querer abundar nesse tema, mas como eu praticamente sou de Brasília, eu vivi toda a minha vida aqui, vim para Brasília quando eu tinha vinte dias de idade (tenho um pouco menos de 60 anos), o hino de Brasília fala: “Desperta o gigante brasileiro.” Acho que era um momento em que a gente achava que estava despertando. Dormiu de novo. Agora acho que estamos despertando novamente, desta vez esperamos que seja para valer.
Bem, de fato, nós vivemos hoje um momento de reposicionamento do Brasil no mundo com a abertura econômica, com a integração competitiva e defesa dos valores democráticos. Estamos dinamizando o MERCOSUL, recuperando a vocação original do MERCOSUL, que volta a ser uma plataforma de integração aberta e um polo de democracia. Estamos construindo o PROSUL para fortalecer os valores de liberdade e economia de mercado na nossa região.
Concluímos o acordo MERCOSUL-União Europeia e o acordo com a EFTA, os dois mais importantes logros de política comercial das últimas décadas, acho que posso dizer assim. Temos a perspectiva de adesão à OCDE, para a qual, inclusive, contamos com o apoio decisivo da Coreia do Sul. Eu quero agradecer muito especialmente o apoio que a Coreia desde o começo deu a esse pleito brasileiro. Enfim, vários exemplos desse nosso engajamento na construção de um novo momento.
E neste momento nós queremos muito reforçar a parceria com países que possam contribuir para o nosso desenvolvimento, para o nosso desenvolvimento tecnológico, para a nossa inserção competitiva no mundo. E, ao mesmo tempo, países com os quais nós temos tantas afinidades. E a Coreia do Sul é um desses países, e é um parceiro chave nesse processo que o Brasil está vivendo.
A Coreia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, uma importante fonte de investimentos para o Brasil. Temos, como todos sabem, empresas como Hyundai, Samsung e LG, que já fazem parte do dia a dia dos lares brasileiros, das nossas ruas. Temos a presença dessas empresas como um sinal muito visível da crescente importância da Coreia para os brasileiros e para a economia brasileira.
Dois dos grandes desafios que nós temos hoje, nas nossas relações econômicas, são justamente de diversificar o comércio e garantir o melhor acesso para os nossos produtos, quer dizer, o clássico, digamos, da nossa política comercial, e acho que estamos conseguindo avançar nesse sentido. E novamente, é fundamental contar com a parceria de um país como a Coreia nesse duplo esforço.
O principal instrumento para isso é o acordo em negociação, o acordo de livre comércio entre MERCOSUL e a Coreia, no qual nós temos registrado importantes avanços. Falei de dois acordos recentemente concluídos, temos muita expectativa de que o acordo com a Coreia possa também sê-lo muito em breve. Nós teremos uma nova rodada de negociações ainda este mês e esperamos que o próprio avanço das negociações e a percepção clara de que, do ponto de vista do Brasil e do MERCOSUL isso faz parte de um projeto de integração competitiva, já comece a trazer dividendos, mesmo antes da sua conclusão, em termos de investimentos, em termos de atenção para o que está acontecendo na economia brasileira.
Essa dinâmica crescente na nossa relação comercial tem sido acompanhada por um contínuo diálogo bilateral de alto nível. Nos últimos dois meses, o Presidente Bolsonaro já recebeu duas importantes missões coreanas de parlamentares e de executivos coreanos. Em janeiro, eu tive o encontro com a Chanceler Kang Kyung-wha, à margem do Fórum Econômico de Davos, e em maio eu me reuni com a Ministra coreana do Comércio, Yoo Myung-hee, à margem do Conselho de Ministros da OCDE. E todos esses contatos, além da importância em si, foram ocasiões muito calorosas. Foram além do aspecto substantivo (e muito substantivo!) das relações comerciais, e outros aspectos da relação, e testemunharam claramente, nos encontros de que participei, inclusive encontros que presenciei de autoridades coreanas com o Presidente da República, o caráter de amizade e afinidade que se manifestou nesses encontros entre os dois países. E que reflete, eu acho, a afinidade entre os nossos dois povos. Em todos esses momentos, e acredito que serão muitos no futuro, eu vi muito entusiasmo em trabalhar juntos, em trabalhar de mãos dadas, como o Embaixador da Coreia dizia que era o título da canção que tocava durante o vídeo.
Entre as múltiplas esferas da nossa promissora sinergia entre o Brasil e a Coreia, temos particular interesse em fortalecer a cooperação bilateral nos temas deste evento: educação e inovação. A Coreia tem um histórico notável de desenvolvimento em ambos esses setores e, por essa razão (e não outra, eu acredito), é hoje um dos países mais prósperos do mundo e um dos mais avançados na área de ciência, tecnologia e inovação.
O Brasil, portanto, tem muito a aprender com a Coreia, um país que tanto admiramos. Porque nós sabemos que, também, por trás desse avanço tecnológico, desse avanço na educação, por trás da qualidade dos seus produtos, está a coragem do seu povo. O povo coreano é um povo orgulhoso, lutador, um povo que valoriza suas tradições, ao mesmo tempo em que se abre ao mundo com tanta eficiência. Uma nação que se organiza e compete no mundo a partir da sua própria identidade, e não apesar dela. Como eu dizia, inclusive, no vídeo, isso é uma fonte de inspiração permanente para nós.
Quero dizer que a gente nota com grande satisfação o interesse da Coreia em cooperar com o Brasil em toda essa área de inovação e educação. A SK Networks, parte do grupo SK, um dos quatro maiores conglomerados empresariais da Coreia, apresentou ao Presidente Bolsonaro um programa de financiamento voltado à aceleração de start-ups brasileiras, que consiste na criação de um fundo de cerca de US$ 3 milhões com recursos dessa empresa e que prevê a participação do governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação e, evidentemente, também com o apoio do Itamaraty. Um excelente exemplo da promissora cooperação nessa área da inovação, e espero que se multiplique ao longo dos próximos anos. Vamos trabalhar muito fortemente para que seja a primeira de muitas iniciativas dessa natureza.
É fundamental lembrar também a importância dos laços humanos e culturais entre o Brasil e a Coreia. O Brasil abriga a maior comunidade de coreanos na América Latina, com cerca de 50 mil pessoas, que também constitui a terceira maior população coreana fora da Ásia. Um aspecto fundamental é a cooperação parlamentar entre Brasil e Coreia. Também se reveste de uma importância especial, com grupos parlamentares muito ativos de lado a lado. Mencionei, por exemplo, a visita recente de parlamentares coreanos ao Brasil.
O próprio Presidente Jair Bolsonaro visitou a Coreia em 2018, quando ainda Deputado Federal. De modo que eu queria enaltecer essa cooperação. Eu queria mencionar que, no dia 31 de outubro, por iniciativa do Deputado Luís Miranda, do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Coreia, será realizada sessão solene na Câmara dos Deputados, em comemoração também aos 60 anos da relação. E gostaria de enfatizar muito que, no Executivo, nós queremos dar todo o apoio a essa cooperação parlamentar entre os dois países.
Como eu dizia, o Brasil está, neste momento, muito empenhado em reconstruir a sua presença no mundo, uma presença que foi abalada por um longo período de estagnação. E voltando à importância daquilo que está por trás da realidade econômica, uma estagnação que não foi simplesmente uma estagnação econômica, foi uma estagnação de ideias e uma estagnação de autoconfiança. Nós estamos, eu acredito, vencendo essa inércia, essa timidez. E nesse sentido, mais uma vez, a Coreia nos serve de exemplo, ao mesmo tempo em que pode ser um parceiro fundamental na dimensão concreta do comércio, dos investimentos para essa nossa reinserção internacional.
O dia de hoje constitui uma oportunidade da mais alta valia para o intercâmbio de ideias e para aprofundarmos a cooperação entre o Brasil e a Coreia, nessa perspectiva de que, por mais importante que seja a infraestrutura tecnológica, digamos, de um país, o que está por trás é o que realmente conta, que são as pessoas e as ideias.
Então eu cumprimento os palestrantes, cumprimento a todos os senhores, muito especialmente aqueles que viajaram de tão longe para compartilhar as suas experiências. E cumprimento a todos os que estão aqui para celebrar os 60 anos dessa magnífica e cada vez mais promissora relação.
Muito obrigado!
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* Vídeo disponível no canal da FUNAG no YouTube.