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Discurso do Ministro Ernesto Araújo na data nacional da Venezuela
Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, na data nacional da Venezuela, em Brasília (05/07/2019)*
Boa noite a todos!
Senhor Embaixador do Canadá, Rick Savone;
Senhora Embaixadora da Venezuela, María Teresa Belandria;
Senhores Embaixadores, Parlamentares;
Senhor Assessor Internacional, colegas, amigos,
Antes de mais nada, é um momento de dupla alegria, para mim, estar aqui presente, nesta noite. Em primeiro lugar, por nosso anfitrião desta noite, o Embaixador do Canadá, amigo já de longa data, que representa magistralmente, aqui no Brasil, um país que também mora no meu coração, o Canadá, um país que representa um compromisso permanente com a liberdade, com a justiça, com a paz e com a dignidade humana. Algo que se expressa, aqui, hoje, ao acolher a data nacional da Venezuela.
E é a minha segunda grande alegria, neste momento, de estar aqui para celebrar um momento tão especial: a data nacional dessa nossa república irmã, representada pela também minha querida amiga María Teresa Belandria, que, nesses últimos meses aprendi a admirar como poucas outras pessoas do meio diplomático, um meio que tem tantos talentos, tantos expoentes que tanto fizeram pelas suas nações, pelas suas comunidades, mas María Teresa se destaca porque ela age como diplomata num momento extraordinariamente desafiador e decisivo para o seu país. E o faz com paixão e com competência. A mesma paixão que nós procuramos colocar também em tudo o que fazemos nessa nossa gestão da política externa brasileira sob a liderança do Presidente Bolsonaro.
O Presidente Bolsonaro pediu-me que transmitisse aos senhores a determinação de que continuamos ao lado do povo venezuelano e continuaremos sempre ao lado do povo venezuelano. Isso é o esteio fundamental da nossa política para a Venezuela, que não é uma política abstrata, que não é decorrente apenas de considerações de interesse ou de conveniência. Temos todo interesse, evidentemente, como Brasil, em ver toda a América do Sul de volta à democracia. Para isso, precisamos ajudar que a Venezuela volte à democracia. Mas vai além disso. Vai muito mais fundo, com esse nosso apego fundamental e fundacional pela liberdade. Então, estamos com o povo venezuelano!
Nós temos tentado fazer uma diferença, todos os países que estamos aqui evolvidos e, no caso do Brasil, nós temos tentado fazer uma diferença em favor do povo venezuelano, em favor da democracia na Venezuela, nesses últimos meses, ao enfocar essa questão não como uma crise diplomática tradicional ou como uma situação de dificuldades políticas ou de dificuldades econômicas, mas como um grande drama humano e regional, no qual nós não podemos ficar na plateia, no qual nós temos que ser parte da solução e transformar esse drama numa nova alegria, num novo renascimento não só para a Venezuela, mas para todo o nosso continente.
A América do Sul, as Américas estão num momento em que, digamos, diante de uma encruzilhada, nós podemos consolidar todo o continente como um continente de democracia e liberdade, ou nós podemos ver infelizmente a volta de ameaças que achávamos que estavam definitivamente afastadas, de projetos totalitários, de projetos de opressão, projetos de descaso pelo ser humano, projetos que há quase trinta anos tentam se adonar deste continente. Nós, então, estamos diante desse dilema, que não é simplesmente, portanto, um dilema abstrato.
Eu tenho dito que a gente não faz política externa simplesmente para especialistas em relações internacionais. Nós fazemos política externa, no Brasil, para o povo brasileiro, e o povo brasileiro quer que nós ajamos em favor da liberdade na Venezuela e em todo o continente. Isso não faz a menor dúvida.
Nós temos a convicção de que a diplomacia tem que ser um instrumento na mão de determinados princípios. Ela não deve ser um exercício lúdico. Tem que ser um instrumento em favor, para citar o hino venezuelano, da virtude e da honra. Diplomacia não significa indiferença moral. Diplomacia não significa, simplesmente, uma tentativa de determinados arranjos que empurram o problema para um pouco mais adiante. Pelo menos é o que temos que tentar fazer. Talvez estejamos enganados. Talvez a diplomacia seja isso, mas eu, pessoalmente, como os senhores sabem, não acredito que a diplomacia seja simplesmente um exercício de adiar problemas. Acho que a diplomacia tem que responder às dificuldades e encará-las de frente.
No meu tempo de Canadá (se me permitem mudar um pouco o tom; acho que está um pouco dramático, mas é por causa do meu sentimento), no meu tempo morando no Canadá, eu assistia a muito hóquei, evidentemente. E, uma vez, me lembro de uma partida de algum campeonato internacional entre a seleção do Canadá e a seleção de um país europeu, que eu não vou dizer qual é. Um bom país europeu do hóquei. E o comentarista canadense dizia: “Está vendo a diferença? O jogador canadense vai de frente ao adversário. O jogador desse país europeu, ele se vira na hora do choque.”
Então, eu acho que nós temos que agir, na diplomacia, como o jogador de hóquei canadense. Está ali o puck, vamos nele! Vamos de frente, sem medo do choque, porque é isso que hoje nos dá a esperança de uma mudança. Porque foi essa mudança de atitude de tantos países do mundo, de ir rumo a uma opção sem precedentes, praticamente, de desreconhecer uma entidade que se considerava um governo eleito e de reconhecer um governo legítimo, a partir de uma base tão frágil, mas tão forte na virtude, como o governo do Presidente Encarregado Juan Guaidó.
Então, todos nós estamos numa empresa diferente, numa empresa sem precedentes de tentar ajudar, o renascimento de uma nação. E aí vem o Brasil, porque também estamos vivendo esse momento. Muitos de nós, o Filipe Martins e eu, no dia 28 de outubro do ano passado, coincidimos que era o momento de celebrar uma nova independência do Brasil. Porque, como tantos brasileiros, assistimos esse momento como o de uma nova independência, de um renascimento da nossa nação. Que, talvez, na superfície, não estivesse tão ameaçada quanto a Venezuela, mas na qual nós sentíamos, nos subterrâneos, tantas forças negativas, tantos fluidos negativos contra a liberdade, contra a dignidade.
Então, nós sabemos o que é a dificuldade, e o que significa o momento de renascimento de uma nação. Então, eu acho que é isso que nós estamos vivendo em toda a região, e participando do renascimento da Venezuela. E, ao participar desse renascimento da Venezuela, participando de um grande relançamento da nossa América Latina, de todas as Américas, rumo àquilo que nós desejamos, que nossos povos desejam: a prosperidade, evidentemente; a liberdade, claro, e a paz. Mas a paz, até como dizia o Presidente Juan Guaidó quando esteve presente aqui em Brasília (eu tive a grande honra de estar com ele, assim como o Presidente Bolsonaro), a paz não é simplesmente a ausência de conflito; a paz, para que possa ser digna desse nome, requer toda essa existência mais profunda de dignidade, valor, virtude, paz no sentido mais profundo. Paz no sentido mais profundo é liberdade, essa luta permanente por aquilo que há de mais profundo e mais digno no ser humano.
Então, eu acho que é o momento de celebrarmos. Evidentemente, o fato de que temos aqui a María Teresa como Representante dessa nova Venezuela, essa Venezuela que, cada vez mais vai ganhando corpo. E, ao mesmo tempo, um momento de recapacitarmo-nos para a continuação desse combate diplomático, político, evidentemente, mas um combate permanente em favor da liberdade em toda a nossa região, em todo o nosso continente e no mundo.
Porque acho que isso é fundamental. Todo o mundo está olhando para o que está acontecendo na América do Sul, na Venezuela. A situação é um divisor de águas, onde, nós vemos quem realmente está comprometido com essa democracia no sentido mais profundo, quem está comprometido com a liberdade e aqueles que, infelizmente, não estão.
Então, é um momento de celebração e de continuação desse nosso esforço.
Muito obrigado!
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* Vídeo disponível no canal do Itamaraty no YouTube.