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Discurso do Ministro Ernesto Araújo na Conferência Ministerial para Promover um Futuro de Paz e Segurança no Oriente Médio
Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, na Conferência Ministerial para Promover um Futuro de Paz e Segurança no Oriente Médio, em Varsóvia (14/02/2019)
Muito obrigado!
Ministro, Senhor Vice-Presidente, Primeiro-Ministro da Polônia, Secretário de Estado dos Estados Unidos, Primeiro-Ministro de Israel,
É uma grande honra estar aqui!
Eu gostaria de começar dizendo que, na América do Sul, a minha parte do mundo, recentemente entramos em contato direto com a tragédia de refugiados e da migração forçada, em um nível até então desconhecido na região. Por volta de 3,6 milhões de venezuelanos deixaram seu país nos últimos três anos, aproximadamente 12% da população do país.
Muitos países na região estão fazendo o possível para fornecer a essas pessoas as melhores condições disponíveis – serviços básicos, educação, oportunidades de emprego –, mas, frequentemente, a pergunta principal é esquecida e não é feita: “Por quê?” “Por que há tantos refugiados e migrantes forçados da Venezuela?”
Basicamente porque o regime decidiu tornar-se uma ditadura completa, saqueou e destruiu a economia e decidiu matar de fome o seu próprio povo e negar serviços de saúde ao seu próprio povo como um meio de controle político. A própria existência de uma crise humanitária é negada pelo regime na Venezuela, na atitude das ditaduras socialistas de substituir a verdade por ideologias.
Mas, agora, a maioria dos países das Américas está mobilizando‑se para impedir essa situação terrível, por meio de ação política decisiva, apoiando o governo interino legítimo e, dessa forma, tentando organizar a assistência aos venezuelanos.
Esses comentários mostram que, quando se lida com o desafio de refugiados, a pergunta básica deve ser feita: “Por quê?” Algumas vezes é a guerra, algumas vezes é a crise econômica, algumas vezes desastres naturais, algumas vezes, como na Venezuela, políticas totalmente conscientes de um regime atroz. E tratar a questão dos refugiados como uma questão universal, e exigir soluções globais para ela é, do nosso ponto de vista, uma abordagem incorreta. Ao mesmo tempo, tratar apenas os efeitos, e não lidar com as causas das ondas de refugiados, também é uma abordagem errada.
A meta deve ser sempre identificar as causas que geram as ondas de refugiados e lidar com elas. Lidar com a situação dos refugiados tampouco pode ser abordado como uma questão técnica. Fornecer a melhor assistência é, claro, essencial, mas, muito frequentemente, as discussões sobre refugiados concentram-se apenas nisso, em como fornecer condições sanitárias adequadas, etc., e não em resolver as questões básicas por trás da situação. A atenção à situação dos refugiados deve ser um motivador para a mobilização da opinião pública e dos governos para abordar as causas profundas das crises humanitárias, e não uma desculpa para olhar para o outro lado.
Então, é necessário identificar os problemas; é necessário falar. Acreditamos muito no poder da palavra, no poder da fala. Palavras limpas e claras têm um efeito liberador, e vemos isso muito claramente hoje neste fórum.
Também cremos em experimentar novos caminhos, novas iniciativas. No meu caso, ainda sou novo na função, assim como meu Presidente, Bolsonaro, também é novo na função, e estamos tentando trazer uma abordagem de franqueza e ação clara à nossa política externa. Alguns dizem que ainda estamos trabalhando na ilusão de que isso é possível, mas estamos convencidos de que esse não é o caso, e estou muito encorajado, após esses dois dias de reunião aqui, a pensar que estamos no caminho certo.
Percebo que o Brasil está afinado com a tendência de encontrar formas novas, mais francas e mais eficientes de fazer diplomacia. A diplomacia não deve ser concebida como um esforço para não desagradar ninguém. Muito frequentemente, nós, diplomatas, agimos como se, ao não discutir o problema, ele desaparecerá. Em muitos casos, a diplomacia tornou-se um sinônimo de inação. Isso não pode mais acontecer. Os diplomatas devem parar de fazer coisas que são importantes apenas para outros diplomatas e começar a fazer coisas importantes para as pessoas normais.
O processo da ONU, por exemplo, tornou-se muito centrado em si mesmo. Ele criou a noção de que qualquer solução deve passar por infindáveis discussões, e que, quando se chega a algum tipo de resolução, é apenas um texto, e não uma questão de ação real. A ONU não deve exaurir todos os esforços da comunidade internacional relativos às questões que envolvem o Oriente Médio ou quaisquer outras questões.
Nós, no Brasil, acreditamos em novas geometrias, novas abordagens diplomáticas como a que foi testada com tamanho sucesso aqui em Varsóvia. Este fórum é uma iniciativa excelente, e o Brasil está pronto para fazer parte do processo que ele gerar e para contribuir com a paz e a segurança no Oriente Médio. O Brasil quer trazer sua voz para essa discussão.
Acreditamos firmemente que precisamos trabalhar partindo dos princípios de liberdade e dignidade humana, incluindo a liberdade religiosa – e, aqui, deve-se trazer atenção especial ao destino das comunidades cristãs na região –, também levando em conta que pessoas de todas as fés sofreram com a crise.
Acreditamos também nos princípios de identidade e nacionalidade, e sentimos que, muito frequentemente, especialmente no Ocidente, as pessoas pensam que a paz significa abandonar aquilo que você é. Pensamos que abandonar sua própria cultura e sentimentos não é o caminho para a paz. Acreditamos que cada nação pode encontrar, em sua própria identidade e cultura, a força para lutar pela paz.
Obrigado.
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* Tradução não oficial. Fonte: Ministério das Relações Exteriores