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Discurso do Ministro Ernesto Araújo na Conferência Internacional de Doadores em Prol dos Refugiados da Venezuela
Discurso do Ministro Ernesto Araújo na Conferência Internacional de Doadores em Prol dos Refugiados da Venezuela (26/05/2020)
Muito obrigado!
Agradeço à União Europeia e à Espanha por organizarem esta reunião, à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) por sua ajuda.
Em 2018, o governo anterior do Brasil, criou um grupo de trabalho humanitário para acolher, identificar, documentar, abrigar e ajudar a integrar os venezuelanos que cruzaram a fronteira em uma parte remota do Brasil, que já somam 260 mil.
O atual governo deu continuidade e reforçou a Operação Acolhida, que reúne setores do governo, a sociedade civil, as organizações internacionais sob uma forte liderança governamental para fomentar a autossuficiência, a dignidade e a solidariedade.
Todos os venezuelanos no Brasil, residentes, solicitantes de asilo, mais de 40 mil refugiados formalmente reconhecidos estão registrados e podem trabalhar e ter acesso a todos os serviços públicos, incluindo vários serviços básicos de emergência, devido à situação da pandemia de COVID-19.
Outro pilar da Operação é a interiorização, que já levou 36 mil venezuelanos, até agora, a 350 cidades do Brasil, onde encontram emprego e oportunidades de integração.
Mas devemos ter presente que os venezuelanos não estão fugindo de um furacão, de uma inundação ou de uma invasão estrangeira. Eles estão fugindo do pior regime totalitário jamais visto na América Latina, o regime liderado por Nicolás Maduro, que muitos venezuelanos consideram um verdadeiro genocídio silencioso.
A comunidade internacional não deveria reverberar esse silêncio. A causa da solidariedade – o apoio aos imigrantes e refugiados venezuelanos – não está completa sem a causa da democracia. No caso da Venezuela, o exercício da solidariedade e a luta pela democracia são indistinguíveis.
A ciência médica nos ensina desde Hipócrates que não há tratamento sem diagnóstico. Então, precisamos de um diagnóstico para o drama venezuelano. Não acredito que se trate de um conflito venezuelano abstrato. Claro que o diálogo entre os venezuelanos tem que ser uma solução, mas a comunidade internacional tem que continuar atuando e tendo consciência sobre o que acontece, vendo a realidade da Venezuela. Não nos prendamos às palavras e olhemos a realidade. As palavras "conflito", "crise", "situação humanitária", "polarização", "diálogo" são muito abstratas. A verdade é a opressão, a fome, agravada agora pela pandemia, a tortura e outros males.
Não há uma polarização entre dois lados equivalentes na Venezuela. Há de um lado uma ditatura, apoiada no crime organizado, no narcotráfico e no terrorismo. E, do outro lado, o povo venezuelano.
Membros da comunidade internacional, que passam a metade do seu tempo proclamando seus valores democráticos, não deveriam ter medo de pronunciar o diagnóstico da Venezuela: ditadura. O tratamento: democracia.
O diálogo legítimo é, obviamente, o caminho para a democracia na Venezuela. A democracia é o caminho para solucionar o drama humanitário. Mas o diálogo não pode ser confundido com o medo. Pronunciam-se muitas palavras bonitas: "solidariedade", "generosidade", mas quase nunca se escuta uma palavra que expressa a grande aspiração do povo venezuelano, como de todos os povos: liberdade. A comunidade internacional não pode ter medo de dizer "liberdade".
O medo da comunidade internacional de enfrentar o regime totalitário da Venezuela fere os venezuelanos, seja os que estão em seu país, seja os refugiados e migrantes. Na verdade, todos os venezuelanos são refugiados, todos perderam sua pátria, todos querem recuperá-la. Vamos ajudá-los!
Muito obrigado.