Notícias
Discurso do Ministro Ernesto Araújo na cerimônia de cumprimentos ao corpo diplomático
Discurso do ministro de Estado das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, na cerimônia de cumprimentos ao corpo diplomático (18/12/2019)*
Muito boa noite a todos! Fico extremamente feliz de podermos ter essa celebração de final de ano... Ah, general! Não o tinha visto, querido general Villas Boas; ministro Osmar Terra; senhores embaixadores; colegas do corpo diplomático; amigos. Realmente é um momento muito especial pra mim, Maria Eduarda, Rosa, Otávio, podermos recebê-los aqui. Agradeço muito a presença, agradeço muito a atenção que nos dão.
Nós temos uma comunidade diplomática maravilhosa aqui em Brasília – numerosa, competente, interessada. Isso é um privilégio para todos nós aqui do Itamaraty. Eu gostaria, dirigindo-se especialmente aos diplomatas de outros países, gostaria de ter tido tempo, ao longo desse ano, de estar mais tempo com os senhores. Tive um calendário de viagens, como sabem, muito intenso (acho que passei praticamente a metade do tempo fora), mas valorizo imensamente cada momento de interação que tivemos e que teremos com cada um dos senhores.
Nessas viagens, eu estive em vários dos países que os senhores representam. Tive a felicidade de estar em todos os continentes – exceto a Oceania. Preciso conversar com o encarregado da Austrália, que acho que está aqui, pra ano que vem não faltar a Oceania, mas enfim – estive, evidentemente, na América do Norte, América do Sul (aqui na nossa região), Europa, Ásia e, agora por último, na África, levando uma mensagem de um Brasil que quer se relacionar de maneira produtiva com todos os países do mundo.
Eu espero que os senhores, diplomatas de outros países aqui em Brasília, espero que estejam se divertindo aqui em Brasília, que estejam aproveitando seu tempo e que estejam acompanhando aquilo que nós estamos tentando fazer nessa área de política externa, especialmente, e em todas as áreas, claro, do nosso país. Eu tenho certeza de que todos os senhores estão nos ajudando a fazer o Brasil mais presente nos seus países, a entender o processo de transformação que o Brasil está atravessando.
Eu não quero, evidentemente, saber o que os senhores estão escrevendo em seus telegramas (teria curiosidade, mas, enfim...), mas o que eu gostaria, simplesmente, era de pedir que os senhores pensassem o Brasil como um país onde algo está acontecendo, onde algo está acontecendo que não é simples, que não é superficial e que não é corriqueiro. Nós estamos aqui, colegas de outros ministérios, oficiais generais, o prefeito de Bento Gonçalves, que muito nos honra aqui com a presença, cada um na sua dimensão, colegas ministros, colegas de outros ministérios, nós, acho que, sabemos a intensidade e a complexidade, a profundidade do processo que nós estamos atravessando. E, simplesmente, é isso que nós pedimos aos diplomatas estrangeiros: que procurem ver a complexidade e a profundidade, como eu dizia, daquilo que nós estamos tentando fazer.
O presidente Jair Bolsonaro, sob cuja liderança nós acreditamos que estamos fazendo uma transformação absolutamente necessária no Brasil, ele tinha um projeto eleitoral, mas que não era simplesmente um projeto eleitoral; era um projeto político; e tem um projeto político, mas que também não é simplesmente um projeto político; é um projeto de nação. O projeto de que o Brasil volte a ser uma nação. E isso tem uma expressão, uma manifestação em todos os terrenos, inclusive no da política externa.
No nosso entendimento a política externa não deve ser externa no sentido de exterior ao povo, ao povo brasileiro, alheia ou indiferente a esse povo. Ela tem que ser uma política interna, no sentido de nascer do fundo do nosso coração, do fundo dos nossos sentimentos e das nossas aspirações como povo. É isso que nós procuramos fazer.
Nós acreditamos, portanto, que temos uma mensagem para o mundo. Estamos levando essa mensagem. Claro, queremos, também, fazer bons negócios ao redor do mundo, bons negócios para todos, e achamos que as duas coisas são inteiramente compatíveis e necessárias uma à outra: a esfera das nossas convicções, dos nossos ideais; e a esfera da economia, do crescimento, do comércio, dos investimentos.
Nós achamos que o mundo não está terminado e pronto. Achamos que o mundo é uma obra em aberto, e o Brasil tem a expectativa de contribuir para essa obra; sobretudo, um mundo com mais liberdade. Essa tem sido a palavra-chave para tudo que nós estamos tentando fazer no Brasil e para essa mensagem que nós queremos levar para o mundo: liberdade. Em todas as dimensões: liberdade econômica – com mais trocas, gerando mais crescimento para todos os países; liberdade política; democracia; liberdade de expressão; liberdade religiosa; liberdade para que cada nação seja o que é.
Eu, pessoalmente, também acredito que os principais problemas do mundo não são problemas materiais; são problemas espirituais. Eu acho que o enriquecimento das sociedades no plano econômico não deveria vir junto com o empobrecimento do pensamento, e acho que isso assistimos durante algumas décadas, mas essa tendência me parece que está sendo revertida.
Eu gosto muito do nome de uma editora francesa, que eu acho que já desapareceu, que se chamava Les empêcheur de penser en rond (les ambassadeurs francophones vont m’aider à traduire ça), “os impedidores de pensar em círculo”, e é isso que nós procuramos que o Brasil seja hoje no mundo: um empêcheur de penser en rond, um país que ajuda a sair de círculos viciosos de ideias. Porque o mundo precisa de ideias. Ideias exigem palavras, exigem sentimentos, exigem, muitas vezes, a coragem de se dizer, de se pensar uma coisa diferente – às vezes errado –, mas sem isso o mundo fica embotado e os países ficam embotados numa espiral de silêncio, onde esse materialismo gera apenas uma falsa sensação de completude ou de segurança com um vácuo por baixo. Isso exige, fundamentalmente, liberdade.
Hoje mesmo eu falava com alguém que citava o lord Palmerston, que dizia que entre os países não há amizades, há somente interesses. Não sei bem, eu devia ter olhado o original em inglês, “between countries there are no friendships, only interests”, deve ser uma coisa assim. E eu não simpatizo muito com essa ideia. Eu acho que essa ideia de que não há amizades, apenas interesses, cria um mundo baseado apenas num mínimo denominador comum. É preciso buscar um mundo de amizades. É mais difícil, é mais difícil, a equação é mais difícil de fechar, talvez nunca feche; mas nós não queremos viver num mundo desprovido de sentimentos, seja internamente, seja no plano das relações internacionais. Então, o processo que o Brasil está vivendo é, em grande parte, um processo de recuperação sentimental.
Nessa enorme transformação que nós vivemos no Brasil, eu acho que ninguém sentou fazendo planos na ponta do lápis, sejam políticos ou de outra natureza, de como reconstruir a nação. Vários planos individuais, coletivos, juntaram-se, mas não há um plano. A nação está-se reconstruindo não a partir de uma razão fria, mas a partir do coração, onde nós nos sentimos amparados pelo pano da nossa bandeira. Eu acho que o Itamaraty – é a nossa intenção, é o nosso propósito – está fazendo parte desse processo.
Não quero falar muito de mim, mas, se me permitem, eu já disse que eu sou um nacionalista, mas eu sou um nacionalista universal. Eu me emociono com os hinos de todos os países (a Eduarda, minha esposa, sabe disso). Agora tenho menos tempo, mas eu gostava muito de ficar na Internet ouvindo hinos de países, e realmente me emociono, porque cada um deles representa uma articulação única da humanidade; cada nação é uma articulação única do ser humano.
Se eu posso fazer um apelo, também, meu apelo é que nós não deixemos que as nossas nações virem apenas cascas vazias, cada uma apenas como se fosse um título de um livro em branco, de um livro que não existe. Nós não devemos deixar que cada nação vire apenas um território aduaneiro regido por um conjunto de leis, mas que seja também uma pátria espiritual.
Bem, temos uma dimensão também, agora, festiva. Eu queria convidar os senhores a uma degustação de vinhos brasileiros, vinhos lá da Serra Gaúcha, do Vale dos Vinhedos. Tivemos uma experiência extraordinária lá, na Cúpula do MERCOSUL, esse projeto que é tão fundamental para o Brasil e para os demais países-membros, no qual nós nos empenhamos tanto. E isso foi simbolizado na nossa presidência no MERCOSUL por uma cúpula que eu acho que transcendeu as expectativas de muitos. Nossos colegas não imaginavam que fosse tão bonito lá no Vale dos Vinhedos, e que os vinhos brasileiros fossem tão bons.
Então, queríamos também dar a oportunidade de celebrarmos esse momento, agora, de final de ano, com vinhos lá do Vale dos Vinhedos, agradecendo mais uma vez a hospitalidade do prefeito de Bento Gonçalves, a hospitalidade que nos deu lá e que apresenta o que nos proporciona aqui: o Spa do Vinho, com Débora e Aldemir, muito obrigado pela presença; a presença aqui dos vinhos da Miolo, da vinícola Lidio Carraro, Famiglia Valduga, vinícola Don Giovanni, Chandon, vinícola Almaúnica, enfim, todos terão a oportunidade de degustar esses vinhos.
Eu acho que é um momento também, eu queria terminar citando um autor que é talvez o meu favorito, que é Jorge Luis Borges. É um poema famoso dele que diz: “Si pudiera vivir nuevamente, si pudiera vivir nuevamente mi vida, en la próxima comería más helados y menos habas” (“se pudesse viver novamente minha vida, comeria mais sorvete e menos vagem”, uma coisa assim). Então também acho que se pudéssemos, talvez, viver novamente esse ano (e foi um ano intenso, um ano muito produtivo), a única coisa que eu faria, talvez, tivesse sido, talvez, tomar mais vinhos do nosso Vale dos Vinhedos. E de outros países também, claro. O vinho é uma celebração universal também; o vinho é uma coisa que une tantas nações, e isso nos parece que é também uma maneira de celebrar. Para muitos de nós, o vinho, inclusive, é uma bebida sagrada, que nos leva pra dimensão da transcendência, então queremos também celebrar esse momento dessa maneira.
Eu queria desejar a todos os senhores, para aqueles que celebram o Natal: um Feliz Natal! Para todos os senhores, boas festas e bom fim de ano e um excelente 2020 para todos nós! Espero que sejamos parceiros na construção de muita coisa em 2020.
Muito obrigado a todos!
________________
* Vídeo disponível no canal do Itamaraty no YouTube.