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Declaração à imprensa do Ministro Ernesto Araújo por ocasião da visita oficial do Conselheiro de Estado e Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yi
Declaração à imprensa do ministro de Estado das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, por ocasião da visita oficial do conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yi – Palácio Itamaraty (25/07/2019)*
Bom dia a todos, muito bom dia.
Temos hoje a grande alegria de receber, aqui, a visita do ministro de Relações Exteriores da China, o senhor Wang Yi, com quem acabo de presidir a III Reunião do Diálogo Estratégico Global Brasil-China, um processo estabelecido em 2012 e que estamos retomando como um dos instrumentos centrais da relação Brasil-China.
Nós tivemos uma excelente e longa conversa. Peço desculpas, inclusive, pela demora em virmos aqui para conferência de imprensa, que foi resultado de reunião muito densa, muito produtiva. Aliás, continuaremos a conversa agora, durante o almoço. Mas, nessa sessão da manhã, tivemos a oportunidade de trocar ideias e falar da perspectiva do adensamento da relação. Falamos do momento que os dois países estão vivendo. No caso do Brasil, falei do momento de um país que quer, cada vez mais, ter uma relação econômica aberta e produtiva com o resto do mundo e, nesse sentido, da importância central da relação com a China, nosso maior parceiro comercial. Ao mesmo tempo, falamos do momento de duas sociedades que, cada uma a sua maneira, estão procurando estruturar-se no rumo do progresso, no rumo de sociedades prósperas, produtivas e harmônicas.
Nós conversamos muito sobre maneira de dar impulsos ao intercâmbio econômico, que é tão central na nossa relação. Falamos dos bons resultados que já foram atingidos este ano na COSBAN [Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação] e em outros contatos bilaterais; da necessidade de continuar trabalhando na área do intercambio agrícola, que é tão importante para o Brasil – importante também, tenho certeza, para a China –, mas também na diversificação do intercâmbio, tanto dentro da área agrícola quanto na área industrial.
O intercâmbio tecnológico: falei da intenção do Brasil de tornar-se, cada vez mais, um país que tem uma capacidade tecnológica e industrial avançada. Para isso, a parceira com um país como a China também é essencial. Falamos da necessidade de ter uma criatividade, digamos, e pensar em novos instrumentos para a nossa relação nessa área econômica, já tão rica, tão diversificada, mas precisamos pensar de maneira ambiciosa em novos instrumentos que permitam avançar. Precisamos avançar em certas dimensões de diálogo regulatório e outras questões de acesso a mercados.
Conversamos também bastante sobre a perspectiva de investimentos. Confirmamos que há um interesse recíproco em maior presença chinesa nos investimentos em infraestrutura no Brasil. Há sinergias entre programas de investimentos chineses no exterior e o nosso PPI [Programa de Parcerias de Investimentos], assim como interesse em investimentos regionais de integração física na América do Sul.
Boa parte da discussão nós dedicamos aos temas do contato entre as pessoas, entre as duas sociedades. Chegamos à conclusão que precisamos trabalhar para intensificar a cooperação educacional, por exemplo, mediante mais presença de bolsistas chineses no Brasil, e vice-versa. Mais turismo: sobretudo nosso interesse muito grande em atrair mais turistas da China e de termos instrumentos para facilitar, inclusive tornar mais rápida a emissão de vistos para chineses que desejam visitar o Brasil. Cooperação cultural, inclusive na perspectiva da criação do nosso Instituto Guimarães Rosa de promoção da língua portuguesa e cultura brasileira, ter uma cooperação com o Instituto Confúcio, que é um grande instituto de cultura chinesa, dentro da convicção de que precisamos facilitar o contato entre as pessoas que têm tanto interesse em um maior conhecimento mútuo entre Brasil e China.
Nós também ficamos de reconvocar ou criar reuniões específicas de diálogo político sobre determinados temas e determinadas regiões. Então, ficamos de convocar, por exemplo, reuniões para conversar sobre temas do Oriente Médio e da América Latina. São dois países que têm interesses tão diversificados em praticamente todas as regiões do mundo, o que justifica e requer um diálogo aprofundado para que nós conheçamos melhor as respectivas posições e percepções sobre essas regiões.
Também houve diálogos específicos sobre temas consulares e sobre cooperação jurídica. São iniciativas que ficamos de desenvolver. No caso da cooperação jurídica, muito especialmente em função do nosso interesse compartilhado em combater a corrupção, combater a lavagem de dinheiro, combater o crime organizado e esses flagelos.
E, por fim, entre tantos temas, só para destacar mais um, seria impossível resumir aqui toda a nossa conversa, mas conversamos sobre a nossa expectava em relação à reunião do BRICS, que teremos amanhã, no Rio de Janeiro, juntamente com os ministros da Rússia, Índia e África do Sul, onde já identificamos muitas convergências e onde, graças ao trabalho dos nossos colegas, dos sherpas, já temos um texto de declaração praticamente finalizado, diferentemente do que aconteceu, como lembrava o ministro Wang Yi, em anos anteriores no BRICS, quando foi bem mais difícil chegar a declarações. Então eu acho que isso mostra o grau de nossa convergência.
Para finalizar com algo que talvez seja o mais importante nesse momento, que é a confirmação da visita que o presidente Jair Bolsonaro fará, a convite do presidente Xi Jinping, à China em outubro. Vamos, através dos canais diplomáticos, fixar as datas e o conteúdo dessa visita, mas temos convicção de que será um momento muito importante, muito marcante, neste que é o 45º aniversário das relações entre Brasil e China, assim como, um pouco mais adiante, a presença do presidente Xi Jinping no Brasil, para a Cúpula dos BRICS.
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* Vídeo disponível no canal do Itamaraty no YouTube.