Notícias
Declaração à imprensa do Ministro Ernesto Araújo por ocasião da visita do Chanceler do Marrocos, Nasser Bourita
Declaração à imprensa do ministro de Estado das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, por ocasião da visita do chanceler do Marrocos, Nasser Bourita (21/06/2019)*
Bom dia a todos!
É com grande alegria que recebemos hoje, aqui, a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino do Marrocos, Nasser Bourita. Tivemos uma excelente reunião e conversamos sobre inúmeros pontos da nossa agenda bilateral, da nossa visão de mundo, nossas políticas regionais, nossa visão sobre o sistema multilateral e vários outros temas.
Acho que a tinta quase secou na caneta de todos os acordos que nós acabamos de assinar. A diversidade dos acordos, que os senhores escutaram, dá uma ideia da diversidade, densidade, profundidade de nosso relacionamento, indo desde instrumentos para o estímulo aos investimentos e instrumentos sobre transportes aéreos, por exemplo, facilitando a conectividade entre os nossos dois países, até a cooperação entre academias diplomáticas, dando uma ideia também do interesse nosso de conhecimento recíproco, de conhecimento sobre a nossa posição, a nossa visão de mundo. Acho que isso foi a tônica da nossa conversa, da nossa reunião, esse enorme interesse em conhecer o que o outro pensa da sua região e do mundo como um todo.
Isso é esforço fundamental para nós, que queremos fazer em todas as vertentes da nossa política externa, que é construir as nossas políticas a partir das realidades e a partir do diálogo com os nossos parceiros, conhecendo o que realmente eles pensam, quais são as suas expectativas, os seus problemas, as suas perspectivas de solução, e não a partir ideias de ideias abstratas. Isso é realmente fundamental na nossa colocação das nossas políticas.
Falamos, por exemplo, muito da questão do sistema multilateral. Somos dois países muito ativos no sistema multilateral, mas ambos também compartilhamos preocupações semelhantes sobre a necessidade de que o sistema multilateral seja um provedor de resultados, de soluções, e não simplesmente algo que existe por si mesmo, algo que existe para gerar resoluções e textos que se repetem de maneira distante da realidade.
Falamos muito das nossas respectivas regiões e entornos. Foi muito interessante escutar as perspectivas do ministro Bourita sobre todo o mundo árabe e o Oriente Médio. Enriqueceu muito a nossa visão. O Marrocos é um dos nossos principais parceiros no mundo árabe e tenho certeza de que continuará sendo, cada vez mais.
Falamos muito das nossas afinidades e, em termos de valores, dos nossos compromissos e de tanto do rei do Marrocos quanto do nosso presidente Bolsonaro e de toda a sociedade de nossos países, e de sermos países com valores de liberdade, com valores de boa convivência. O Marrocos é um extraordinário exemplo de uma convivência harmoniosa e tradicional entre diferentes fés, entre diferentes comunidades religiosas, algo que tem um valor inestimável.
Que também é o caso do Brasil, com toda a tradição de convivência que nós temos. E, em ambos os casos, falamos disso também, é algo que vai além da questão da tolerância. Tolerância, claro, é uma base fundamental, mas às vezes, a palavra tolerância dá uma ideia de uma certa distância. Nós falamos de sociedades que vão além, onde comunidades diferentes não só se toleram, mas convivem e criam um ambiente produtivo juntas. É isso que nós queremos, e acho que podemos dar esse exemplo para o mundo.
Como eu dizia, falamos, então, das regiões. Em nosso caso, falamos muito da perspectiva de uma América do Sul cada vez mais consolidada como uma região de democracia e de abertura econômica e do problema que precisamos resolver nesse caminho que é a questão da Venezuela. O Brasil, e eu afirmei isso, aprecia imensamente o apoio que o Marrocos já expressou pelo governo legítimo do presidente encarregado Juan Guaidó, da Venezuela. E não só um apoio nominal, mas um apoio efetivo, através do diálogo que tem com outros países, para a transição democrática na Venezuela a partir dessa legitimidade do governo interino. Então, conversamos sobre a nossa visão, a nossa visão de que só há um caminho para a Venezuela, que é uma transição democrática a partir desse governo legítimo, e foi muito gratificante para nós vermos que coincidimos sobre isso.
Temos, enfim, toda a relação econômica. Assinamos esses instrumentos de grande valia, que é o acordo de investimentos. Mas, além disso, embora já tendo uma relação muito densa, combinamos já novas iniciativas, sobretudo na área de agricultura, para aumentar o nosso intercâmbio nessa área, inclusive, também, na área de tecnologia agrícola.
E falamos bastante – algo que queremos ir mais a fundo – a cooperação triangular entre Brasil, Marrocos e outros países, sobretudo países na África, onde nos demos conta de que temos uma perspectiva de trabalhar juntos e em terceiros países, e isso tem tudo a ver com a disposição do Brasil, nessa administração, de intensificar sua cooperação com a África de uma maneira criativa, achando novos instrumentos, novas modalidades de cooperação produtiva com a África.
Então, como eu dizia também, falamos muito das realidades do mundo árabe. Eu dizia que o Brasil é, em parte, um país árabe, graças a toda extraordinária imigração libanesa e síria que existe no Brasil. Então, temos um interesse especial, uma conexão especial com toda essa região e com todo esse entorno político, cultural, econômico do mundo árabe.
Nesse sentido, foi importante ver e conhecer as perspectivas do Marrocos, sobretudo, por exemplo, sobre a questão do Saara, que é uma questão vital para o Marrocos. Queria dizer que o Brasil dá as boas-vindas e vê com muito bons olhos a disposição do Marrocos de trabalhar rumo a soluções realistas para a questão do Saara, que é uma questão que já tem décadas. E o Brasil tem todo o interesse em contribuir, assim como em qualquer outro diferendo que exista ao redor do mundo, para soluções que vão além, simplesmente, da retórica, e criem realmente novas bases de cooperação em todos os lugares do mundo, na medida em que nós possamos contribuir.
Então, essa dimensão do conhecimento recíproco de posições sobre temas que são difíceis foi absolutamente fundamental. Mostrou o grau de amizade que nós temos, o grau de confiança mútua que nós temos, e acho que lançamos as bases para uma etapa ainda mais produtiva dessa importantíssima relação Brasil-Marrocos.
Muito obrigado!
________________
* Vídeo disponível no canal do Itamaraty no YouTube.