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Artigo do Ministro Ernesto Araújo publicado no jornal francês Le Figaro
“Incêndios na Amazônia: o processo de bruxaria contra o governo do Brasil”, artigo do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, publicado no jornal Le Figaro, França (28/08/2019)*
Tradução para o português
Segundo René Descartes, “o senso comum é a coisa mais bem distribuída no mundo”, ao que acrescenta: Isso mostra que o poder de julgar bem e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que chamamos de bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens; de modo que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de que algumas são mais razoáveis do que outras, mas apenas do fato de que conduzimos nossos pensamentos de várias maneiras e não consideramos as coisas em si.
Sigamos a lição cartesiana e apliquemo-la às discussões sobre os incêndios na Amazônia. Antes de tudo, devemos manter a calma. O Presidente Bolsonaro, em seu discurso na televisão em 23 de agosto, argumentou com toda serenidade para esclarecer a situação e apresentar os fatos tais como eles são.
É curioso, diga-se de passagem, que nossa era, apesar de uma incrível abundância de informações, seja tão propensa a distorções da mídia, dando origem a explosões passionais provocadas por dados completamente falsos.
Os incêndios na Amazônia brasileira são um fenômeno em parte natural e em parte de origem humana, que ocorre anualmente, em especial durante a estação seca, entre junho e outubro. O número desses incêndios em 2019 (entre 1º de janeiro e 23 de agosto) foi 84% maior que em 2018, mas 47% menor que em 2005 (no mesmo período), por exemplo, e muito próximo – na verdade, um pouco menor – da média dos últimos 22 anos. Na Bolívia, o número desses incêndios em 2019 é 115% maior que em 2018 e no Peru, 105% maior.
A Guiana Francesa, por sua vez, sofreu um aumento de 120% no número de incêndios detectados em 2019, em comparação com o mesmo período de 2018.
Da mesma forma, em termos de extensão de queimadas, os números de 2019 no Brasil são mais altos que os de 2018, porém mais baixos que a média histórica. Todos esses números estão disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (Programa Queimadas).
Estamos preocupados com a situação, é claro, e o atual governo brasileiro não está confortável com isso. Ao contrário dos governos de 2003-2016, que testemunharam incêndios muito maiores com pouca ou nenhuma ação, estamos implementando uma enorme operação, que mobiliza as Forças Armadas e outros agentes da lei e que, além dos esforços para extinguir o incêndio, já está começando a identificar certos casos de incêndio criminoso.
A situação é grave, mas permanece totalmente sob controle. Alguns meios de comunicação na Europa mostram um pesadelo ambiental que não corresponde aos fatos e se dissipa assim que se olha a realidade. Eles usam fotografias como argumento, algumas vezes tiradas há vários anos, ao mesmo tempo em que, infelizmente, ignoram os dados científicos bastante precisos que satélites de última geração fornecem. Em pleno século XXI, voltamos a uma espécie de “pensamento selvagem”, que reage apenas aos dados imediatos dos sentidos, sem reflexão, em vez de submetê-los à fria análise da razão. Na realidade, o pensamento de grupos humanos antes considerados “selvagens” é, em muitos aspectos, mais sofisticado do que o de alguns ambientalistas radicais de hoje, que habitam um mundo sombrio cheio de espectros demoníacos e que falam uma língua desconectada da realidade, incapaz de apreender a realidade em toda a sua riqueza. Quem costumava ser chamado de “selvagem” sabe muito bem que as sensações imediatas não esgotam a realidade; os ambientalistas, não necessariamente.
Curiosamente, os praticantes modernos do “pensamento selvagem” dizem ser a favor ciência e acusam seus oponentes de obscurantismo anticientífico. Mas eles são os que preferem agir com base em imagens aleatórias e alguns estereótipos primários, em vez de olhar para os números e estudar a complexidade do problema dos incêndios florestais, com suas múltiplas causas. Desta vez, escutemos Rabelais: “Ciência sem consciência não passa de uma ruína da alma.”
Além de apresentar a situação sem considerar suas proporções reais, para inflamar os espíritos, ela é atribuída às ações do governo brasileiro, esquecendo-se que o fenômeno é semelhante entre os vizinhos do Brasil onde outras autoridades governam. O aumento no número desses incêndios na Guiana, por exemplo, deve-se a negligências por parte do governo francês? A França incentiva o desmatamento na Guiana? Certamente não. Por que, então, tratar o que é semelhante de maneira diferente? Em suma, é uma atitude que não é muito cartesiana.
O governo brasileiro reconhece o problema dos incêndios. Está mobilizando todos os seus recursos para lidar com isso. Também estamos determinados a identificar a parte do incêndio causada por atos criminosos de desmatamento ilegal e a punir os culpados.
O Presidente Bolsonaro, além disso, confirmou que sua política de tolerância zero ao crime inclui, evidentemente, os crimes contra o meio ambiente. Deve-se combater o fogo com água, combater o crime com a aplicação da lei – não com palavras agressivas ao Brasil, slogans desatualizados ou fotos de vinte anos atrás.
Voltando a Descartes: “Não basta ter uma boa mente; o principal é aplicá-la bem.” O Presidente Bolsonaro e nós que pertencemos ao seu governo aplicamos nosso pensamento e nossas ações à proteção da Amazônia e ao cumprimento de nossas obrigações nacionais e internacionais, com três princípios: serenidade, respeito à soberania nacional e bom senso.
Versão original, em francês
Incendies en Amazonie : le procès en sorcellerie fait au gouvernement du Brésil
D’après René Descartes, «le bon sens est la chose du monde la mieux partagée», à uoi il ajoute : «Cela témoigne que la puissance de bien juger, et distinguer le vrai d’avec le faux, qui est proprement ce qu’on nomme le bon sens ou la raison, est naturellement égale en tous les hommes; et ainsi que la diversité de nos opinions ne vient pas de ce que les uns sont plus raisonnables que les autres, mais seulement de ce que nous conduisons nos pensées par diverses voies, et ne considérons pas les mêmes choses.»
Suivons la leçon cartésienne et appliquons-la aux discussions autour des incendies en Amazonie.
Il faut tout d’abord garder son calme. Le président Bolsonaro, dans son allocution à la télévision le 23 août, a raisonné en toute sérénité pour éclaircir la situation et présenter les faits tels qu’ils sont.
Il est curieux, soit dit en passant, que notre ère, en dépit d’une incroyable abondance d’information, soit si encliné aux distorsions médiatiques, donnant lieu à des emportements passionnés à partir de données complètement fausses.
Les incendies en Amazonie brésilienne sont un phénomène en partie naturel et en partie d’origine humaine, qui a lieu tous les ans surtout pendant la saison sèche, entre juin et octobre. Le nombre de ce type d’incendies en 2019 (entre le 1er janvier et le 23 août) est supérieur de 84% à celui de 2018, mais inférieur de 47% à leur nombre (sur la même période de l’année) en 2005 par exemple, et très proche – en fait légèrement inférieur – de la moyenne des vingt-deux dernières années. En Bolivie, le nombre de ces incendies en 2019 est de 115% supérieur à celui de 2018, et au Pérou, supérieur de 105%.
La Guyane française, pour sa part, a connu un accroissement de 120% du nombre d’incendies détectés en 2019, par rapport à la même période en 2018. De même, en termes d’étendue soumise au feu, les chiffres de 2019 au Brésil sont plus élevés que ceux de 2018 mais inférieurs à la moyenne historique. Tous ces chiffres sont disponibles sur le site de l’Institut national de recherche spatiale du Brésil (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Programa Queimadas).
La situation nous préoccupe, bien sûr, et le gouvernement brésilien actuel ne s’en accommode pas. Contrairement aux gouvernements de la période 2003-2016, qui ont assisté à des incendies beaucoup plus importants sans presque rien faire, nous mettons en place une énorme opération, qui mobilise les forces armées et d’autres agents des forces de l’ordre et qui, au-delà des efforts d’extinction du feu, commence déjà à identifier certains cas d’incendies criminels.
La situation est sérieuse mais reste entièrement sous contrôle. Quelques médias en Europe peignent un tableau de cauchemar environnemental qui ne correspond pas aux faits et qui se dissipe aussitôt qu’on regarde la réalité en face. Ils utilisent pour argument des photographies, prises parfois il y a plusieurs années, tandis que, malheureusement, ils ignorent les données scientifiques très précises fournies par des satellites de dernière génération. En plein XXIe siècle on revient à une sorte de «pensée sauvage», qui réagit seulement aux données immédiates des sens, sans réfléchir, au lieu de les soumettre à l’analyse froide de la raison. En fait, la pensée des groupes humains jadis considérés comme «sauvages» est à maints égards plus sophistiquée que celle de certains écologistes radicaux d’aujourd’hui, qui habitent un monde sombre plein de spectres démoniaques et qui parlent une langue de bois incapable d’appréhender la réalité dans toute sa richesse. Ceux qu’on appelait autrefois des «sauvages» savent bien, eux, que les sensations immédiates n’épuisent pas la réalité; les écologistes, pas nécessairement.
Curieusement, les pratiquants modernes de la «pensée sauvage» se disent favorables à la science et accusent leurs opposants d’obscurantisme anti-scientifique. Mais ce sont eux qui préfèrent agir à partir d’images aléatoires et de quelques stéréotypes primaires plutôt que d’examiner les chiffres et d’étudier la complexité du problème des feux de forêt, avec ses causes multiples. Cette fois, il faut écouter Rabelais: «Science sans conscience n’est que ruine de l’âme.»
En plus de présenter la situation sans considérer ses réelles proportions, pour enflammer les esprits, on l’attribue aux actions du gouvernement brésilien, en oubliant que le phénomène est semblable chez les voisins du Brésil où gouvernent d’autres autorités. Est-ce que l’augmentation du nombre de ces incendies en Guyane, par exemple, est due à une négligence du gouvernement français? Est-ce que la France encourage la déforestation en Guyane? Certainement pas.
Pourquoi, alors, traiter différemment ce qui est semblable? Il s’agit en somme d’une attitude fort peu cartésienne. Le gouvernement brésilien reconnaît le problème des incendies. Il est en train de mobiliser toutes ses ressources pour y faire face. Nous sommes aussi déterminés à identifier la partie des incendies qui est due à des actions criminelles de déforestation illégale, et à punir les coupables.
Le président Bolsonaro a d’ailleurs confirmé que sa politique de tolérance zéro envers la criminalité comprend, évidemment, les crimes contre l’environnement. Il faut combattre le feu avec de l’eau, combattre le crime avec l’application de la loi – et non pas avec des paroles agressives envers le Brésil, des slogans périmés ou des photos vieilles de vingt ans.
Pour en revenir à Descartes: «Ce n’est pas assez d’avoir l’esprit bon, mais le principal est de l’appliquer bien.» Le président Bolsonaro et nous qui appartenons à son gouvernement appliquons notre réflexion et nos actions à la protection de l’Amazonie et à l’accomplissement de nos obligations nationales et internationales, avec trois principes: sérénité, respect de la souveraineté nationale et bon sens.