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Apresentação do Ministro Ernesto Araújo na 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura do Senado Federal
Apresentação do Ministro Ernesto Araújo na 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura do Senado Federal (24/03/2021)
Muito obrigado, Excelentíssimo Presidente do Senado, Senador Rodrigo Pacheco.
Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que é uma grande honra para mim estar aqui, sob o seu convite, diante do Plenário do Senado, ainda que virtual. Já tive a oportunidade de estar três vezes na Comissão de Relações Exteriores, com muita honra, mas ainda não diante do Plenário. Então, é motivo de especial alegria e orgulho para mim e também a oportunidade de poder compartilhar com os senhores todas as informações sobre o que está sendo feito em relação sobretudo à vacinação e a outros aspectos da COVID e, claro, a outros aspectos da nossa política externa.
Antes de mais nada, eu gostaria de expressar minhas condolências aos senhores colegas e familiares dos três Senadores que, infelizmente, faleceram vitimados por essa terrível doença, Major Olimpio, Arolde de Oliveira e José Maranhão, assim como, claro, expressar minha solidariedade a todos os familiares de brasileiros e de todas as pessoas em outros países que já foram vitimadas por essa pandemia.
Se me permite, Presidente, gostaria de começar por uma breve referência histórica que eu acho que tem tudo a ver com o momento que nós estamos vivendo hoje no Brasil. Eu me lembro sempre de uma das primeiras aulas do meu curso de latim em que o professor explicava aquela sigla que aparece no estandarte das legiões romanas, SPQR, que significa, claro, Senatus Populusque Romanus, o Senado e o povo de Roma, o Senado e o povo romano. E ele explicava que este "que", essa partícula "que" que aparece no Populusque é uma partícula de união; não é simplesmente uma adição, como é o "et," em latim, que dá o nosso "e". E o que é o Senado em Roma? Daí o prestígio imenso dessa ideia do Senado e, claro, desta Casa Legislativa. O Senado era mais que um Senado, mais que um Congresso, era o Estado. Então, esta expressão Senatus Populusque Romanus significa a união do Estado e do povo – do Estado e do povo romano, mas acho que isso faz parte da nossa tradição. A tradição republicana provém da tradição romana. Acho que não é banal que ela se expresse desde o começo por essa união entre aqueles que são representantes do povo, claro, com todas as diferenças do sistema antigo para o moderno, mas que têm esta mesma característica: o Estado e o povo imbricados, agindo juntos.
E, ao mesmo tempo, naquele símbolo das legiões romanas, essa sigla era encimada, às vezes, pela águia, às vezes pela loba, às vezes por um javali, que eram os animais, digamos, totêmicos de Roma antiga, representando, digamos, a identidade mais profunda da nação romana. Então, aí também temos essa dualidade e essa inserção conjunta da identidade, da história, da tradição com a forma política de uma comunidade. Eu acho que isso tem tudo a ver com aquilo que nós estamos vivendo hoje, com essa necessidade de união. Então, esse tema de união é representado, no caso aqui, pelo esforço do Senado em ter esse diálogo conosco e pelo maravilhoso clima que, eu acho, que nós vivemos hoje na reunião tão importante ocorrida nesta manhã, à qual o Presidente Rodrigo Pacheco se referiu.
Bem, gostaria de falar diretamente do tema da vacinação. Em primeiro lugar, onde estamos na vacinação. Temos aqui já e foi apresentado hoje, na reunião desta manhã, pelo Governo, pelo Executivo, o cronograma de vacinas, de disponibilidade de vacinas, que é um cronograma já estabelecido e, conforme também o Presidente da República fez referência no seu pronunciamento à Nação, ontem à noite, que permite a vacinação da totalidade da população brasileira até o final do ano. Então, se trata de – temos esse cronograma – executá-lo e, claro tentando adiantá-lo. Mas já existe o planejamento. Isso faz parte de uma estratégia. Isso é o resultado de uma estratégia que começou a ser montada no ano passado, centralizada no Ministério da Saúde.
E aqui gostaria de fazer uma referência especial ao trabalho do então Ministro Eduardo Pazuello, com quem trabalhei muito junto nessa área. Acho que foi um trabalho magnífico na montagem dessa estratégia, que agora continua a ser implementada pelo Ministro Queiroga, claro, com toda a competência e entusiasmo, e da qual o Itamaraty participa, digamos, na implementação da estratégia. A definição central dessa estratégia cabe basicamente ao Ministério da Saúde e aos especialistas, e o Itamaraty entra com essa responsabilidade, claro, muito grande de ajudar a executar através de todos os contatos internacionais.
Bem, eu acho importante referir que nós temos hoje uma disponibilidade de vacinas que permite o avanço do processo, mais lentamente do que gostar– gostaríamos de vacinar toda a população já –, mas permite a continuidade desse processo. Até o momento, nós recebemos 30 milhões de doses: disponibilizamos mais ou menos 14 milhões já aplicadas e faltam 15, 16 milhões para serem aplicadas. Desse total, são mais ou menos 25 milhões da vacina COVAX e 5 milhões da vacina AstraZeneca. Desses 5 milhões da vacina Oxford/AstraZeneca, 4 milhões chegaram já em duas levas importadas diretamente da China e 1 milhão produzidas já pela Fiocruz a partir do insumo, do IFA importado da China. Ainda estão disponíveis quantidades de IFA na Fiocruz para a produção de mais cerca de 2 milhões de vacinas. Então, o processo não está interrompido por falta de insumos nem por falta de vacinas.
Temos uma ótima notícia: hoje começam a chegar novos carregamentos do insumo, do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), provenientes da China para a produção na Fiocruz da vacina AstraZeneca. No primeiro carregamento, chegaram 90 litros; agora está chegando, entre hoje, amanhã e depois de amanhã, em três voos, um carregamento de 1.024 litros do IFA, que permite a fabricação de cerca de 32 milhões de doses. Então, isso já vai se acrescentar, mais do que dobrar, à capacidade de vacinação que nós já temos neste momento.
Podemos falar um pouco mais das outras frentes com as quais nós estamos trabalhando. Antes disso, claro, gostaria de reiterar que existem três tipos de chegada da vacina – às vezes, falamos genericamente da vacina: nós temos realmente a importação da vacina pronta; nós temos a importação do IFA para a confecção do produto final aqui, como se fosse a montagem – digamos – do produto final; e nós teremos, em breve, em cerca de alguns meses, a capacidade de produção total, ou seja, produzir o Ingrediente Farmacêutico Ativo no Brasil da vacina Oxford/AstraZeneca. Isso é parte da estratégia que foi montada no ano passado e é fundamental, porque será um dos poucos países que não tinha e vai se dotar de autonomia na fabricação de vacina. O pacote tecnológico, ou seja, a transferência da tecnologia para que o Brasil produza a vacina de Oxford/AstraZeneca no Brasil foi parte essencial dessa estratégia e é uma estratégia de sucesso, nós acreditamos, porque nos tornará independentes na questão das importações, em breve.
Então, o processo está em andamento. É claro que, repito sempre, gostaríamos que fosse mais rápido, mas estamos trabalhando para que seja mais rápido. Ele está estruturado e não está de forma nenhuma paralisado. Estamos executando essa estratégia. Então, nenhuma questão política está impedindo nenhum tipo de importação, seja de vacinas, seja de insumos.
A Índia já permitiu a exportação desses 4 milhões de doses prontas, e a China, a exportação do equivalente a mais de 34 milhões de doses, ou seja, do ingrediente para mais de 34 milhões de doses da AstraZeneca, além de 25 milhões de doses do COVAX.
E o mundo todo hoje vive também uma dificuldade de obtenção de vacinas e de seus insumos.
Na Europa – é bom dar esse exemplo –, países têm capacidade tecnológica, inclusive produzem vacinas lá, mas estão enfrentando uma dificuldade em levar adiante um processo de vacinação mais acelerado. Com todas as condições que a Europa tem, a maioria dos países europeus estão na faixa de 9% – são da União Europeia, que centralizou o processo de obtenção de vacina para todos os 28 países-membros. Na União Europeia, a maioria dos países está na faixa de 9% da população total vacinada, e o Brasil está na faixa de 6%, ou seja, não há uma diferença muito grande, compatível com o que se esperaria em termos de capacidade tecnológica.
Por que isso acontece? Em grande parte, porque a União Europeia não se antecipou aos problemas. A vacina AstraZeneca é sujeita a um contrato com o Reino Unido, que dá preferência ao Reino Unido para o uso da vacina AstraZeneca onde quer que ela seja produzida. Isso tem gerado muitas críticas entre União Europeia e Reino Unido. Não cabe entrar aqui no mérito de nenhuma das partes envolvidas, mas mostra que há uma dificuldade e mostra também a qualidade da nossa negociação com a AstraZeneca lá atrás, que se valeu também do excelente relacionamento que nós temos construído com o Reino Unido, que eu, pessoalmente, tenho construído com o Ministro do Exterior britânico, que permitiu ao Brasil, enquanto há dificuldade de importação da vacina dentro do continente europeu, estar importando e, mais do que importando, estar se capacitando para produzir a vacina AstraZeneca no Brasil.
Em relação à China, é importante mencionar que o Brasil é, segundo as próprias estatísticas chinesas, o terceiro país no mundo que mais recebeu vacinas e insumos de vacinas fabricados na China. Os primeiros são Indonésia e Emirados Árabes Unidos e, logo em seguida, o Brasil, de forma que o Brasil de nenhuma maneira está atrás na fila – depois vêm vários outros países que dependem de importação de insumos ou de vacinas da China –, de forma que o Brasil de forma nenhuma sofre nenhum tipo de discriminação. Tudo o que já foi contratado dentro dos prazos, tudo o que já foi contratado dentro da estratégia do Ministério da Saúde, com essa chegada de hoje, amanhã e depois de amanhã, se consolida dentro de prazos compatíveis, com a capacidade também de produção da Fiocruz – a Fiocruz não está, digamos, com as máquinas paradas por falta de insumo, de nenhuma maneira. Então, isso caracteriza acho que também a qualidade desse intercâmbio, dessa cooperação com a China.
É importante mencionar aqui os Estados Unidos. O que acontece? É um caso em que vale a pena a gente se deter um pouquinho. Os Estados Unidos introduziram uma legislação, estão utilizando uma legislação que é uma legislação de defesa para casos de guerra, digamos assim, para proibir a exportação de vacinas produzidas nos Estados Unidos. As vacinas Pfizer que outros lugares do mundo estão usando não são produzidas nos Estados Unidos, mas na Bélgica e em outros lugares. Os Estados Unidos, portanto, não exportam vacina. Mas eles estão começando a construir um excedente de vacinas. A ideia deles é de que, enquanto não estiver toda a população vacinada, eles não exportarão.
É importante aqui fazer um parêntese porque em muitos casos se lê que determinados países, como os Estados Unidos, países europeus ou outros países, têm tantos milhões de doses de vacinas, muito mais do que a quantidade da sua população, mas isso não significa que essas doses estejam disponíveis neste momento; significa aquilo que foi contratado, assim como no caso do Brasil, onde esses quinhentos e tantos milhões de doses não estão todas disponíveis neste momento, como mostra o nosso cronograma. É a mesma situação de qualquer outro país, não quantitativamente, mas no sentido de que, quando se fala que um país tem tantas vacinas, a gente tem que perguntar se é vacina, digamos assim, no papel ou na ampola. E, muitas vezes, os números que parecem muito altos são de vacinas contratadas, mas ainda não disponíveis.
Como eu dizia, então, os Estados Unidos estão começando a ter um estoque exportável, de acordo com a sua própria legislação, mas ainda muito baixo. Eles já decidiram exportar, permitir a exportação de apenas 2,5 milhões de doses ao México e 1,5 milhão de doses ao Canadá. Enfim, números importantes, mas, de certa forma, modestos em comparação com as populações. Mas nós estamos tentando, com os Estados Unidos, fazer parte dessa exportação, claro, porque qualquer milhão de doses ajuda a fazer a diferença. Estamos em contato com o governo americano, tanto nós, o Itamaraty, através da embaixada, e também a isso se soma ao esforço que o Presidente Pacheco fez em relação à comunicação com os Estados Unidos. São iniciativas que convergem. Estamos falando sempre de convergência. Eu acho que é uma coisa vital que, cada vez mais, nós façamos isso, trabalhar com convergência entre o Executivo e o Parlamento. O comitê formado pelo Presidente hoje, certamente, vai ajudar a sistematizar isso. Precisamos trabalhar em conjunto sempre.
Então, o pedido está colocado, estamos, todos os dias, tentando negociar essa vinda de vacinas excedentes dos Estados Unidos, mas isso não é, nenhuma dessas frentes é, digamos, suficiente em si mesma. Precisamos trabalhar em todas elas. Isso, por outro lado, é uma das vantagens do Brasil em relação a modelos de muitos e muitos países, talvez da maioria dos países. Nós temos um portfólio muito diversificado de vacinas contratadas e de outras possibilidades. Esse portfólio se ampliou agora com a contratação da Pfizer e da Janssen, em quantidades muito significativas. Inclusive, nós havíamos tido a possibilidade de ter a antecipação de parte das compras da Pfizer.
Diversifica-se também com a possibilidade, isso ainda não é certo, da Bharat Biotech, que é a vacina indiana, e da Sputnik, a vacina russa. Em ambos os casos, está dependendo, basicamente, da autorização da Anvisa, a questão da disponibilização de documentos e outras questões. No caso, não depende diretamente da administração direta nem especificamente do Itamaraty.
E nós estamos prontos tanto junto à Rússia, quanto junto à Índia para a agir, está tudo engatilhado nas nossas embaixadas para que, se for liberada, por exemplo, a Bharat Biotech, nosso embaixador em Nova Delhi já está pronto, já tem todos os contatos feitos, tudo engatilhado para trazer o carregamento que seja definido pelo Ministério da Saúde dentro da estratégia. Então, sempre reiterando isto: estratégia em termos de quais vacinas comprar, em que quantidades, em que momento. Isso cabe a essa definição, digamos, central do Ministério da Saúde. Ao Itamaraty cabe ajudar na implementação.
Só mais alguns elementos, não sei quanto tempo ainda tem.
Bem, outra frente em que nós estamos trabalhando, a COVAX. É um consórcio mundial, que foi formado em meados mais ou menos do ano passado, de 2020, quando ainda não havia vacinas. Era uma espécie de consórcio de pesquisa no início, em que diferentes países contribuíram para a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas com a possibilidade de receber as vacinas se e quando estas viessem a se tornar viáveis.
E muitos países também entraram sem nenhuma capacidade de desenvolvimento, países com menos recursos, para obter vacinas da COVAX. O Brasil contribuiu não só para receber, mas contribuiu para a pesquisa, com U$148 milhões. Essa iniciativa também deu certo, graças à COVAX, que ajudou o desenvolvimento a acelerar. COVAX significa basicamente vaccine accelerator, o acelerador de vacinas. Ajudou a acelerar o desenvolvimento certamente.
E, com base nesse arranjo, nós nos credenciamos para receber 42 milhões de doses. Já chegou o primeiro milhão. Ainda, claro, é pouco, mas já é simbólico. Estivemos no domingo em São Paulo recebendo esse primeiro carregamento, os outros continuarão chegando.
Então, trabalhamos nessas várias frentes. Também quando surgirem excedentes em outros países, estamos sempre atentos a isso. O Itamaraty também faz esse trabalho, digamos assim, de prospecção. Graças à nossa rede de postos no exterior, estamos sempre atentos para as oportunidades que surgem ao redor do mundo para que sejam perseguidas. E sempre colocamos tudo isso, claro, nas mãos do Ministério da Saúde.
Então, aqui temos alguns elementos. A diversidade do portfólio de vacinas, o direcionamento à nossa autossuficiência, especificamente com a vacina da AstraZeneca a partir do segundo semestre, nos dotando de capacidade autônoma de produzir desde o começo. E o concatenamento disso com as nossas relações internacionais bilaterais e multilaterais em várias frentes. Portanto, com a Índia, com a China, com os Estados Unidos, com o Reino Unido, com a própria OMS, que coordena o consórcio COVAX. Aliás, faço um parêntese; COVAX nós estamos também tentando já acelerar, já que estamos falando de aceleração de vacinas, acelerar o cronograma das vacinas da AstraZeneca que nós temos o direito de receber pelo consórcio COVAX. Isso é algo com que nós estamos lidando neste momento.
Nós conseguimos, inclusive, ser o primeiro País a receber as vacinas exportadas pela Índia. Com a China, como disse, somos um dos maiores destinos de vacinas exportadas pela China. Estados Unidos, estamos tratando diretamente com eles assim que surgiu o estoque exportável e em quantidade apreciável. Com o Reino Unido, facilitou muito a nossa relação com o Reino Unido, facilitou muito o contrato com a AstraZeneca Oxford. De modo que temos então esse elemento também da qualidade das nossas relações, bastante diferente de algumas narrativas que surgem.
Se me permitem, eu gostaria, nesse sentido, de ler rapidamente a carta que eu recebi em janeiro, um trecho da carta que eu recebi em janeiro, do Ministro das Relações Exteriores da China, em resposta à carta que eu tinha enviado a ele, pedindo sua ajuda para a obtenção do primeiro carregamento dos insumos de vacinas, fazendo o parêntese de que em nenhum caso, nós estamos tratando de doações – não é? O Brasil tem a capacidade de comprar vacinas. Então, para um País em desenvolvimento, também isso é muito raro. Isso se deve à previdência do Presidente Jair Bolsonaro, do Governo, desde o ano passado, graças ao Congresso também, claro, de destinar recursos vultosos para a aquisição das vacinas. Então, enquanto outros países estão dependendo de doações, nós temos a capacidade de compra. Mas é claro que, como todos os países têm algum tipo de restrição às vendas, é preciso essa intervenção diplomática para facilitar.
Então havia escrito para o Ministro da China, e ele me respondeu dizendo o seguinte, cito:
Desde o início da pandemia, a China e o Brasil têm envidado esforços conjuntos no combate à pandemia e conduzido operações profícuas em desenvolvimento e produção de vacinas.
O lado chinês compreende as preocupações brasileiras em relação aos insumos de vacinas, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China está disposto a fazer as coordenações e providenciar as facilitações.
Então deixou bem clara a qualidade da nossa cooperação.
Com o chanceler da Índia, enfim, cada país tem o seu estilo, um estilo mais informal de comunicação, eu converso com ele por WhatsApp. No dia em que houve o primeiro embarque de vacinas da China, da Índia, perdão, para o Brasil, eu escrevi a ele agradecendo. Eu tinha falado com ele antes para viabilizar isso, e ele me escreveu de volta, simplesmente dizendo: "Olha, eu faria, teria feito por você a mesma coisa." Enfim, então em cada momento, a gente tem, com cada país, temos esse estilo, mas todos convergem na mesma qualidade do relacionamento.
E queria citar também uma declaração da porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, de ontem, que diz que "os Estados Unidos estão comprometidos em coordenar os esforços de vacinação da COVID-19 com os parceiros brasileiros, o Governo e o setor privado." Depois fala dos contratos com a Pfizer, a Johnson&Johnson. Já havia falado com o Embaixador americano antes de a gente terminar o contrato com a Pfizer. Ajudou muito, as ideias que nós trocamos, a conseguir o entendimento com a Pfizer.
Então, rapidamente, mas, assim, apenas para exemplificar concretamente a nossa relação com as três grandes potências farmacêuticas do mundo, Estados Unidos, China e Índia, nessa questão.
Bem, assim, só um último ponto em relação a Estados Unidos, já saindo um pouco da vacina, mas algo fundamental na COVID: no último sábado, depois de uma reunião na Casa Civil, nós, o Itamaraty, fomos acionados para ajudar a obter insumos para medicamentos de intubação e aparelhos para fazer oxigênio, vendo ao redor do mundo, onde estão disponíveis esses equipamentos e insumos nas especificações necessárias. Imediatamente, já domingo, todo mundo, no Itamaraty, está trabalhando 24 horas por dia, sem sábado, sem domingo. Ao redor do mundo também, em nossas embaixadas. Nós temos uma rede que está funcionando para isso, temos obtido excelentes resultados. Isso se comprovou agora, neste momento. Imediatamente, várias embaixadas, dezenas, já saíram em campo, já nos mandaram a disponibilidade desses materiais. Nós imediatamente encaminhamos para o Ministério da Saúde. Agora estamos esperando qual é a definição, quais são os tipos adequados, quais são os negócios que podem ser feitos. Estamos prontos a ajudar a efetivar isso.
No caso específico dos Estados Unidos, já nos prometeram também toda a urgência para providenciar, na medida do possível, esses insumos para intubação.
Bem, outro ponto importante que eu queria ressaltar é o tema – eu já gostaria de adiantar, tem estado muito na imprensa –, é a questão da OMC e de uma proposta de quebra de patentes feita pela Índia, pela África do Sul e outros países. Essa proposta não é uma proposta de consenso, no caso do Brasil. Vários países têm dúvidas sobre essa proposta. O Brasil, juntamente com outros países, inclusive países em desenvolvimento como a Colômbia, o Chile, a Turquia e outros países desenvolvidos também, de todos os tipos, têm procurado ajudar em um caminho intermediário que proporcione uma solução conveniente, uma solução de consenso. Nós não temos nada contra a intenção da proposta da Índia. A ideia de todo o mundo, hoje, é facilitar a disponibilidade de vacinas, mas nos parece que ela não é necessária, que pode ir longe demais e prejudicar, inclusive, as vacinas no futuro.
O que nós vemos? O sistema atual de propriedade intelectual tem flexibilidade, ele já permite a quebra de patentes para a produção local, o que ele não permite é a produção para exportação. Por exemplo, o Brasil, hoje, já poderia quebrar, teoricamente, patentes de qualquer vacina, por uma emergência de saúde pública, e produzi-las no Brasil. O problema é que nós não temos capacidade de produzir vacinas neste momento. Quer dizer, aquela que nós temos capacidade de produzir, que é uma excelente vacina, a AstraZeneca, não precisamos quebrar a patente porque isso já está dentro do esquema que nós negociamos com a AstraZeneca. Agora, se nós quebrássemos, por exemplo, a patente da Pfizer, não teríamos condições de produzi-la no Brasil, exige outra tecnologia, exige outro tipo de planta de produção que, segundo alguns especialistas que ouvi, levariam dois anos para ser construídas ou algo assim. A nossa ideia é a de que isso não resolveria, necessariamente, o problema agora e poderia criar problemas depois, desincentivar pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas que virão a ser necessárias, certamente, para novas variantes ou para outras pandemias, no futuro. Achamos que pode ser encontrada uma via, sim, para facilitar, agora, a produção de vacinas.
Então, nós estamos acompanhando uma ideia da nova Diretora-Geral da OMC, uma nigeriana, a Dra. Ngozi, no sentido de juntar todos os atores desse processo, farmacêuticas, países etc., e encontrar uma maneira de concatenar os esforços de todos. Hoje, o que existe não é tão simples assim, não é só a questão da vacina, do insumo. Existe o insumo do insumo, às vezes outros elementos do processo produtivo. Muitas vezes, um país depende de outro, que depende de um terceiro, que depende de um quarto. Então, a ideia é colocar todos em volta da mesa. Há boa disposição das farmacêuticas. Pelo que se nota, não se detectou nenhum tipo de preço abusivo, nem prática monopólica, inclusive, porque há várias vacinas e, por essa via, achamos que podem se encontrar soluções concretas, melhores, que, realmente, melhorem o fornecimento efetivo de vacinas ao redor do mundo, talvez com alguma suspensão temporária de patentes ou não. Isso precisa ser negociado.
Então, é um equívoco dizer que nós estamos contra a proposta da Índia. Quer dizer, nós não somos contra a ideia de facilitar as vacinas. Nós queremos é procurar o melhor meio, de maneira realista e pragmática.
Antes de encerrar – eu gostaria de deixar neste ponto para podermos ter discussões aqui e, enfim, se quiserem, é claro que poderei falar de outro tema, de política externa, mas queria me concentrar na vacina –, só queria dizer que, dentro da nossa estratégia, existe também a possibilidade de vacinas brasileiras.
Então, desde o começo da pandemia, se criou, no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a Rede Vírus, de pesquisadores em virologia, que começaram a trabalhar em, se não me engano, 15 projetos de vacinas, três deles estão mais adiantados, são mais promissores, podem entrar, em breve, na fase de testes. Na nossa visita a Israel, nós conseguimos parcerias que poderão ajudar a acelerar esse desenvolvimento de vacinas brasileiras, e isso no médio prazo, claro que não é para agora, mas capacitará o Brasil, talvez dentro de alguns meses, se pudermos ser bastante otimistas, para a produção de vacinas brasileiras, desenvolvidas tecnologicamente aqui, adaptáveis a novas variáveis, um salto qualitativo imenso na nossa capacidade farmacêutica. Então, isso complementa todo o nosso trabalho internacional junto aos outros países.
Bem, queria ressaltar, antes de terminar, mais uma vez, que o Itamaraty, assim como todo o Governo, é claro, mas garanto aqui que o Itamaraty está inteiramente pronto para trabalhar junto com o Senado e com os Senadores individualmente em todas essas frentes, com a Senadora Kátia Abreu, com quem já conversei, na Comissão de Relações Exteriores, cujo dinamismo nessa área também gostaria de reconhecer. Eu acho que tudo ajuda se a gente se coordenar. O papel do Senado pode ser muito importante para a gente achar maneiras de acelerar a disponibilidade de vacinas, assim como com outras instituições, com a Câmara dos Deputados também, nós estamos prontos para trabalhar.
Tenho sempre, no Itamaraty, o prazer e, sempre, a alegria de receber os Senadores, Parlamentares. Tenho recebido muitos para falar de diferentes temas de vacinas, sempre com ideias, às vezes, com dúvidas, que a gente procura esclarecer individualmente também, e sempre que há ideias interessantes, em condições de avaliar, diferentes ideias de vacinação, de processo de vacinação, por exemplo, ou, quando aparece, como dizia o Senador Izalci, alguma possibilidade que surge imediatamente é encaminhada para o Ministério da Saúde para que seja avaliada.
E me comprometo também aqui a fazer tudo que for necessário para, enfim, gestionar junto ao Ministério da Saúde também para que esse tipo de ideia sempre seja avaliado, e o Itamaraty sempre estará pronto a implementar.
Basicamente era isso que eu queria dizer inicialmente, Sr. Presidente.
Muitíssimo obrigado.