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Alocuções do Ministro Ernesto Araújo no "Dia do Brasil" na Câmara de Comércio dos Estados Unidos
Alocuções do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, no “Dia do Brasil” na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, em Washington, D.C. (18/03/2019)*
Primeira alocução
Uma nova relação Brasil-EUA pode-se deslocar e substituir o eixo da ordem global.
Esse deslocamento e essa substituição já estão ocorrendo.
Não é a economia ou o poder militar que determinam a estrutura da ordem global, mas as ideias. São as ideias que determinam se e como um país exerce seu poder. Há países que são econômica e militarmente poderosos, mas onde o espírito não floresce.
Estamos deslocando o eixo da ordem global em diversas maneiras: por meio do nosso compromisso com a democracia (compromisso verdadeiro, não só palavras vazias, como demonstramos no caso da Venezuela); por meio de uma economia aberta; e por meio de valores compartilhados, principalmente dos chamados valores conservadores.
Há quase trinta anos, temos visto no mundo uma economia liberal, globalizada, o que é ótimo, mas ela se assenta sobre uma ausência total de valores, ou sobre valores ideológicos, aos quais chamamos de politicamente correto. E isto não está funcionando. Essa confiança em um sistema sem valores, ou em um sistema errado de valores, está levando a economia global liberal para um mundo onde as democracias liberais não serão as potências dominantes.
Há algo errado nisso. No passado, o livre comércio servia aos propósitos da liberdade. Hoje, não tenho certeza se esse é o caso. O comércio livre é essencial, mas o comércio livre deve, mais uma vez, ser trazido para servir à liberdade. Uma economia liberal só pode basear-se na liberdade, não pode ser um instrumento contra a liberdade.
A melhor esperança que temos hoje é de criar um amálgama sólido que una uma economia aberta, competitiva e liberal com as bases dos valores conservadores.
Devemos quebrar o amálgama perverso entre a economia livre e uma estrutura ideológica oposta à liberdade. E devemos preparar um novo amálgama de economia liberal e de valores conservadores, ou seja, uma economia aberta e uma sociedade aberta. Uma sociedade construída em torno do politicamente correto é essencialmente uma sociedade fechada, onde o pensamento é fechado para o sentimento, onde o caminho entre o homem e Deus é bloqueado, onde as palavras são afastadas da realidade. Uma sociedade construída em torno de valores conservadores é orgânica, é um sistema aberto onde fatos diferentes podem acontecer sem que possam ser deduzidos dos termos do sistema, onde o contato com a tradição pode gerar verdadeira inovação. Tradição significa abertura, porque a tradição é o acúmulo de experiência vivida, e experiência vivida é necessariamente aberta ao desconhecido, ao numinoso, ao maravilhoso. No domínio do politicamente correto, nada é numinoso, nada é espontâneo, nada é nem remotamente maravilhoso.
A mistura de economia aberta e valores conservadores só pode ser realizada dentro de uma nação. A nação é o vaso alquímico onde o comércio e a tradição podem fundir-se. A nação é ainda o único espaço onde a economia aberta e a sociedade livre podem misturar‑se. Porque a nação é natural, como a etimologia compartilhada de ambas as palavras indica.
Valores conservadores dão origem a uma sociedade saudável, uma sociedade coesa e coerente, onde as pessoas são felizes juntas, e sua comunidade é construída sobre a confiança mútua, e não apenas por um acidente de serem jogadas juntas no mesmo território.
A ideologia do politicamente correto dá origem a uma sociedade que é fragmentada, onde diferentes grupos se odeiam, sem sentido de nacionalidade, sem sentido de pertencimento, onde ser cidadão de um determinado país significa nada mais do que ter um pedaço de papel que lhe dê direito a alguns benefícios, sem qualquer sentimento mais profundo associado a isso.
O Ocidente, depois de 1989, acostumou-se a não pensar. A nem discutir ou dar valor à sociedade e à cultura, a concentrar-se apenas na gestão econômica. As sociedades perderam sua capacidade de gerar sentido. A economia e a busca de competitividade não conseguem gerar sentido, não conseguem preencher o coração.
Se não há nação, família, cultura, história, heróis ou tradição, a economia não será capaz de preencher seu coração, e seu coração será ocupado pela ideologia.
A indiferença ao campo dos valores e sentimento trouxe-nos para onde estamos hoje (ou para onde estávamos até ontem, já que estamos começando a mudar isso). Trouxe-nos para uma situação em que a economia, a ordem mundial liberal, é indiferente à liberdade e à democracia.
Isso é essencial: a economia liberal sem democracia não tem futuro.
No Brasil, está claro hoje que as reformas econômicas liberais só podem ser realizadas se estiverem associadas a uma sólida base conservadora na sociedade civil. Temos sorte nesse aspecto, porque no Brasil as pessoas que defendem causas conservadoras como valores familiares, posse de armas, que têm uma postura pró-vida e que querem uma política externa assertiva que defenda a democracia e a liberdade são, na maioria das vezes, as mesmas pessoas que querem uma economia aberta, o Estado de Direito, um pacto político sem espaço para corrupção.
Reformas econômicas liberais já foram tentadas antes no Brasil, mas nunca tiveram sucesso, porque não havia uma base social forte que pressionasse os políticos. É simplesmente assim. Apenas uma agenda conservadora e patriótica pode mobilizar as pessoas para exercer essa pressão pelas reformas econômicas.
Um sistema nunca se reformará a partir de dentro. Somente a partir de fora isso é possível, somente com base em sentido e sentimento, somente em torno da bandeira e da fé o sistema pode ser verdadeiramente mudado e reformado. Somente sob a liderança de um outsider como o Presidente Jair Bolsonaro pode o sistema ser desafiado, como está acontecendo hoje.
Então, queremos abertura econômica e, pela primeira vez, achamos que podemos executá-la, porque temos um líder de fora do sistema, e porque as pessoas estão mobilizadas.
E para esse processo de abertura econômica, o melhor parceiro são os Estados Unidos, como mostra o Mapa de Investimentos Brasil‑EUA, preparado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Porque os Estados Unidos são uma economia aberta, onde o setor privado é o ator principal, e são uma sociedade aberta, um país que uniu liberdade e competitividade ao longo de toda a sua história.
Segunda alocução
Jair Bolsonaro é o líder mais transformador do Brasil em muito tempo, e a possibilidade de fazer parte desse processo de transformação é uma imensa honra para nós, Ministros aqui presentes com ele. É uma honra, de forma especial, para mim, que desde minha indicação para o cargo de Ministro das Relações Exteriores assumi a incumbência de fazer do Itamaraty e da política externa brasileira parte integrante desta transformação, rompendo as tradições de acomodação e irrelevância da política externa brasileira de tempos recentes. Assim como o Presidente Bolsonaro está quebrando tradições: quebrando as tradições da corrupção, do “toma lá, dá cá”, da eterna postergação das soluções, a tradição do crime, a tradição do materialismo.
O lema do Presidente Bolsonaro – “Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos” – contém em si mesmo um projeto político e uma concepção de mundo. São um projeto e uma concepção que correspondem aos sentimentos profundos do povo brasileiro. “Brasil acima de tudo”: ou seja, a união dos brasileiros em torno da ideia da pátria, como único fator capaz de mobilizá-los por um objetivo comum.
Governos anteriores criaram uma sociedade fragmentada e dispersa. Uma sociedade descrente de si mesma e de suas instituições. A maneira de reunificar essa dispersão e superar essa descrença é colocar como horizonte a pátria. A nação. Não o Estado, mas a nação.
Quando os cidadãos olham e enxergam apenas o Estado, isso não os transforma, porque isso eles já conhecem, porque o Estado não gera sentimentos, e o ser humano é movido por sentimentos. Mas quando olham e enxergam a nação, surge um potencial incrível de criar energia e de unificar o país.
Menos Estado e mais nação. Essa poderia ser a definição desse potencial mobilizador.
“Deus acima de todos”: aqui se introduz a concepção de uma realidade vertical, onde o ser humano sabe que possui uma dimensão espiritual e onde a vida não se reduz às leis da física.
A grande maioria dos brasileiros sente e deseja essa presença da transcendência em suas vidas – mas o sistema de pensamento imperante lhes negava, até há pouco, a possibilidade de expressar esse sentimento. Ao dizer “Deus acima de todos”, acima de cada um, essa expressão permite que os brasileiros voltem a poder exprimir sua fé no espaço público, o espaço da nação.
Com esse lema, com sua presença inspiradora, o Presidente Jair Bolsonaro está reconfigurando a realidade brasileira de uma maneira poucas vezes vista. Com apenas oito palavras está enfrentando o sistema. Um certo sistema. O sistema que produziu décadas de estagnação econômica, atraso, corrupção, ineficiência, crime. Um sistema que produziu, por exemplo, uma relação de indiferença ou de hostilidade para com os Estados Unidos, em detrimento dos nossos interesses. A relação com os Estados Unidos era colocada para baixo pelos governos brasileiros, não por acaso, mas porque a relação com uma nação dinâmica e aberta produz liberdade, reforça o Estado de Direito, promove os valores humanos que nos inspiram – ou seja, tudo o que causa pavor a uma certa ideologia.
Somente um Presidente que vem de fora do sistema poderá mudá-lo. E parte dessa transformação profunda é a criação de uma nova parceria com os Estados Unidos.
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* Fonte: Ministério das Relações Exteriores