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Alocução do Ministro Ernesto Araújo no National Press Club, em Washington
Alocução do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, no National Press Club, em Washington, D.C. (13/09/2019)*
Obrigado, Alison [Fitzgerald Kodjak, Presidente do National Press Club], pela apresentação. Estou muito feliz por estar aqui, neste prestigioso National Press Club, após três dias muito produtivos em Washington, com reuniões, muitas atividades sobre as quais eu gostaria de falar com vocês.
Acima de tudo, acho que isso representa a continuação de nosso esforço permanente e muito profundo para criar uma nova parceria entre o Brasil e os Estados Unidos. Ela requer trabalho constante. Ela requer o trabalho de muitas pessoas. Temos aqui uma grande delegação com muitos colegas de Brasília. Temos muitas áreas diferentes de cooperação. Realmente precisamos dessa forma de abordagem integrada lá no Brasil. Quase todos os ministérios do governo estão envolvidos, de uma forma ou de outra, nessa construção de uma nova parceria com os Estados Unidos. Há algo que envolve cada área específica. E tudo converge para o que, estamos certos, é o interesse e o desejo do povo brasileiro: finalmente ter uma relação com os Estados Unidos, que sempre consideramos ser algo natural, mas não foi buscado por muito tempo, ao menos não no nível de que precisamos, para contribuir com o desenvolvimento brasileiro, para construir o Brasil como uma nação forte no mundo.
Então, hoje – não seguirei a ordem cronológica, falarei primeiro sobre o Diálogo de Parceria Estratégica, que foi, digamos, a âncora da minha viagem aqui para Washington –, então, hoje pela manhã, tivemos a primeira sessão do Diálogo de Parceria Estratégica em sete anos, e a primeira nessa nova concepção, nessa nova fase de nossa relação. Tive uma reunião com o Secretário [de Estado Mike] Pompeo, e, mais tarde, meus colegas tiveram as discussões mais aprofundadas com seus pares americanos. As discussões envolveram, se não me engano, três Subsecretários do Departamento de Estado e três Secretários, do mesmo nível, do nosso Ministério de Relações Exteriores. Isso também mostra a dimensão da diversidade e importância do Diálogo.
Deixamos claro – referimo-nos a isso; é importante, eu repetirei, se vocês me permitem – que desejamos um diálogo estratégico, no sentido de que não é apenas uma coleção de iniciativas individuais importantes, mas tenta ser um sistema que faça sentido, onde iniciativas em diferentes áreas alimentem umas às outras, e apoiem umas às outras, e acelerem umas às outras. Estamos convencidos de que esse é o caminho a seguir: quando você tem progresso em áreas como comércio e investimento, isso facilita o progresso em áreas como a energia, mas também, quando você tem progresso em inteligência ou segurança, isso, de uma ou outra forma, acaba por ajudar o progresso no comércio, investimento e áreas econômicas.
Então tudo forma um conjunto, porque países são um conjunto. Acho que, por muito tempo, fomos vítimas de divisão e fragmentação, também na relação com os Estados Unidos. Então, não só não tínhamos a prioridade política que eu acho que ela merece, mas ela também era organizada de forma fragmentada, em que se tinham diálogos individuais sem alguma forma de conceito abrangente, e é isso que estamos tentando dar a essa relação.
Posso talvez falar um pouco sobre os detalhes desse Diálogo: investimento em infraestrutura foi um dos tópicos principais. Vocês sabem o quanto o Brasil tem sede de investimento em infraestrutura atualmente. O que está acontecendo no Brasil é realmente uma revolução em infraestrutura. Estamos compensando muito rapidamente anos de abandono nessa área. Energia: falamos do potencial tremendo de interação nessa área. Também o investimento na biodiversidade: queremos implementar a iniciativa que foi lançada em março, quando o Presidente Bolsonaro esteve aqui, para criar um fundo, um fundo de cem milhões de dólares para investimento em projetos que envolvam a biodiversidade na Amazônia.
A propósito, falamos muito sobre o que está acontecendo na Amazônia. Estamos tentando transmitir a realidade dos fatos no local, a dimensão da situação dos incêndios na Amazônia, os esforços empreendidos pelo governo brasileiro, com alguma cooperação internacional, para combater as queimadas, e, de forma mais ampla, nossos esforços para preservar a região da Amazônia. E, muito importante, nossos esforços para projetar e atrair investimentos, elaborar projetos e atrair investimentos para a região, projetos de desenvolvimento sustentável que podem criar empregos, que podem gerar renda para os vinte milhões de brasileiros que habitam a Amazônia, o que é essencial, do nosso ponto de vista, para o desenvolvimento sustentável e para a preservação da floresta.
Então, apenas para dar alguns exemplos, conversamos muito sobre a cooperação na OMC, cooperação sobre questões sanitárias e fitossanitárias (SPS), em que temos muitos interesses comuns, no sentido de não termos normas de SPS sendo utilizadas como medidas protecionistas.
Saindo dessa para outra área, discutimos a questão de liberdade religiosa. O Brasil e os EUA estão, eu acho, entre os países que mais se importam com essa questão. Os Estados Unidos estão lançando, juntamente com outros países (e o Brasil quer ser parte disso), uma aliança para a liberdade religiosa, para promovê-la em todo o mundo, onde ela esteja ameaçada.
Assuntos regionais: é claro, principalmente a Venezuela. Espero que um dia – espero que seja logo – não precisemos discutir a Venezuela toda vez que nos encontrarmos, mas ainda não chegamos lá. Nós não recuaremos, em absoluto, em nenhum de nossos compromissos de ajudar a Venezuela a recuperar a sua democracia. Essa é uma situação em progresso. Cada oportunidade é importante para assegurar que o Brasil, os Estados Unidos, outros membros da comunidade internacional estejam 100% comprometidos a fazer tudo o que pudermos dentro da dimensão política, diplomática para ajudar os venezuelanos a se livrarem da ditadura.
Isso não foi tudo. Tivemos outras interações muito importantes aqui. Na área de comércio, também tive a honra de me reunir com o Embaixador Lighthizer, o USTR, e com o Secretário [de Comércio] Wilbur Ross. Estamos projetando o que penso ser um pacote muito interessante na área comercial, seguindo a orientação de nossos Presidentes, que querem crescer na direção de um acordo comercial significativo e robusto. Já estamos trabalhando, em muitas áreas e algumas das questões específicas que estamos discutindo no comércio, do interesse de ambos os lados. E também a área muito importante da facilitação do comércio e diálogo comercial, onde estamos desenvolvendo algumas promessas do passado, mas muito determinados a elevar isso a outro patamar.
Já me reuni com o Presidente do Banco Mundial e, mais tarde, estarei com o Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Essa dimensão de nossa viagem também é de suma importância. Já temos uma agenda robusta com essas instituições, mas, especialmente agora, queremos discutir com elas meios de fomentar aquilo a que já me referi: o desenvolvimento sustentável e investimentos para desenvolvimento sustentável na Amazônia. As instituições financeiras internacionais podem ter um papel muito importante na canalização e criação de condições para o financiamento de projetos sustentáveis lá.
Outra dimensão: a interação com o setor privado. Ontem conversei com muitos representantes da extremamente ativa e dinâmica comunidade comercial americano-brasieleira, lá na Câmara de Comércio dos EUA. Estou convencido de que esse é um dos mais importantes recursos que temos na relação comercial e econômica entre o Brasil e os EUA. A comunidade empresarial, como eu disse, é muito ativa; eles têm ideias excelentes sobre o que fazer para facilitar o comércio, facilitar a interação econômica, o investimento, e eles parecem estar (ao menos foi o que me disseram; eu acredito) muito entusiasmados com o que estamos fazendo no Brasil. Tive a oportunidade de falar sobre a nossa nova agenda comercial, que já nos trouxe dois importantes acordos comerciais novos, com a União Europeia e com a EFTA, e, de forma geral, a agenda de abertura comercial e de ter o Brasil como um país que se insere nas cadeias globais de valor de uma forma muito mais dinâmica.
Eu já mencionei a questão de liberdade religiosa. Conversei com o Embaixador Brownback [Embaixador Extraordinário para a Liberdade Religiosa Internacional], que é a principal autoridade para esse assunto nos Estados Unidos. É algo que toca muito os corações das pessoas no Brasil. Muitos brasileiros estão preocupados com a situação das minorias religiosas pelo mundo, muito especialmente minorias cristãs, mas não somente essas. Então esse é outro exemplo de como queremos fazer coisas importantes para a sociedade brasileira, para o povo brasileiro, afastando-nos de uma certa tradição, no Brasil, de ignorar os desejos do povo e fazer coisas que são, digamos, às vezes importantes para outros diplomatas, mas não importantes para pessoas comuns.
Então, acho que cobri, ao menos, muito do que discutimos nesses últimos dias, nas várias reuniões. Foi, novamente, uma agenda muito intensa que mostra, na minha opinião, o nível extraordinário de interação que temos hoje entre os dois países.
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* Fonte: Ministério das Relações Exteriores