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Alocução do Ministro Ernesto Araújo na inauguração do Instituto Conservador-Liberal
Alocução do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, na inauguração do Instituto Conservador-Liberal, em Brasília (08/12/2020)*
Boa noite. Tudo bem?
Eu estava me lembrando de um texto que escrevi em outubro de 2018, na época da campanha, quando ninguém me conhecia – acho que agora algumas pessoas me conhecem –, e eu dizia justamente que as pessoas tinham de se mobilizar pela campanha do então candidato Jair Bolsonaro. Eu dizia algo assim: “Acorda, liberal! Sai da cama, conservador!” ou vice-versa. Por quê? Porque eu estava vendo que existia uma evidente proposta liberal-conservadora, e eu via pessoas, conhecia amigos que se diziam liberais-conservadores que falavam: “Ah não, estou com dúvida”. Cada vez mais eu me convenço que nessa aliança está o futuro do Brasil e o futuro do mundo também, na aliança liberal-conservadora.
Também pensei um pouco sobre o conceito de Estado-nação e em como o lado nação nesse conceito vem sendo enfraquecido. Isso também é um problema. Nós temos de reforçar esse conceito nos dois lados, e pensar da seguinte maneira, talvez um lema: menos Estado, mais nação. Menos Estado: liberalismo, capitalismo, iniciativa individual, uma sociedade construída a partir do indivíduo e não do Estado. E mais nação: tradição, história, cultura, fé, religião, família, tudo isso é nação.
O que acontece quando se enfraquece a nação e fica somente com menos Estado, ou seja, só com o liberalismo? O liberalismo não se sustenta. É isso que a gente viu, talvez, nos últimos trinta anos de globalização. Talvez, não. Certamente. A ideia de que se pode gerir o mundo só pela economia, só com eficiência econômica, só com a liberalização. E hoje temos uma crise desse modelo. Por quê? Não porque tenha faltado eficiência, mas porque as pessoas se esqueceram do lado da nação, da essência nacional da própria civilização judaico-cristã, que foi a civilização que criou o capitalismo, mas, ao mesmo tempo, é uma civilização imbuída dessa dimensão nacional. Esse esquecimento civilizacional produz, hoje, esse mundo indiferente ao conceito de liberdade, que é onde eu queria chegar.
Liberdade é o conceito que une as duas pontas: liberal e conservadora. Às vezes esquecemos que “liberalismo” vem de “liberdade”, mas o conservadorismo também tem, na sua essência, a liberdade. Hoje, ninguém fala de liberdade nas discussões internacionais. Eu tenho repetido isso. Ninguém fala de democracia nessa questão do Great Reset. Nada de Great Reset; não vai ter Great Reset, nós temos que lutar contra isso. Por quê? Porque o Great Reset não é reset nenhum; é continuar essa globalização sem liberdade, sem democracia; essa globalização puramente na esfera econômica, que acabará construindo um mundo distópico, um mundo de controle social, que já está acontecendo. A pandemia da COVID-19 é um acelerador desse mundo que está sendo preparado há 30, 40, 50 anos, esse mundo de controle social no qual há uma ilusão cada vez maior de liberdade econômica, que não está amparada em uma liberdade política nacional profunda.
E por que isso é importante? Um conceito-chave que estamos tentando mudar no Itamaraty, no que estamos fazendo, é um conceito que existia mais ou menos difuso, não formulado, de que a política externa não tem que se meter com a política interna, que elas não têm nada a ver uma com a outra. A política externa seria uma dimensão diletante, digamos; você vai lá, fala umas coisas que tem de falar. É uma política genérica, do tipo “Ah, nosso país quer paz, prosperidade, etc.” Mas, não; qualquer política tem que ter uma relação com o destino da sua comunidade, com o destino da polis, por isso é política. E a política externa tem de fazer parte disso.
A política externa tem de fazer parte da transformação do Brasil que os brasileiros querem e que esse nosso projeto, do Presidente Bolsonaro, quer. Então, pela primeira vez, eu acho que em muito tempo, estamos tentando mudar. E muita gente acha que você pode mudar o Brasil sem mudar a relação do país com o mundo. Vemos pessoas dizerem “ah, não, que horror a época do PT”, mas querem que nós façamos uma política externa igual à política externa do PT. Não faz o menor sentido.
Então, isso de trazer a política interna, o Brasil, para a política externa é o grande esforço que precisamos fazer. Por quê? Porque é parte do esforço de transformação nacional. Para isso, nós precisamos desses conceitos. Transformação para onde? Para essas duas colunas do templo, digamos, a liberal e a conservadora, que têm de se juntar. De novo, só o liberalismo não vai sustentar a liberdade. Você precisa da raiz conservadora, da raiz que vem justamente do chão, da raiz que vem do sentimento das pessoas.
Hoje, há dois tipos de democracia no mundo, e estamos tentando justamente criar uma coalizão democrática – estávamos fazendo isso com o governo Trump –, criar uma coalizão das democracias liberais e conservadoras, digamos assim, as verdadeiras democracias: Brasil, Estados Unidos, Japão, Índia, Austrália, democracias que são feitas a partir da nação. As democracias europeias são pós-nacionais, são democracias que já não acreditam nessa coisa do sentimento, da tradição. Precisamos trazer isso para essa coalizão. Essa coalizão que vai nos ajudar a promover, no mundo, o nosso processo de transformação interno. E que a dimensão mundial nos ajude a promover o processo de transformação interno.
Se ficarmos parados, o Great Reset vai nos invadir: o controle social, a alocação dos recursos de acordo com uma lógica das elites, uma lógica do establishment. Isso é o que está sendo preparado se não agirmos. Portanto, essa dimensão externa é absolutamente fundamental para a transformação interna.
Estou muito entusiasmado com a criação do Instituto Conservador-Liberal. Acho que isso realmente é a essência daquilo que precisamos fazer, essa união, essa aliança, a convergência absoluta desses dois conceitos. O vocabulário americano, inglês, criou essa ideia de que “conservadorismo” e “liberalismo” são opostos. Isso é um dos grandes males do nosso vocabulário. Não, eles não só são compatíveis, como são gêmeos, são partes da mesma estrutura civilizacional, da mesma estrutura de pensamento.
Muito obrigado a todos.
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* Assista ao discurso aqui.