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Alocução do Ministro Ernesto Araújo na abertura do Diálogo Trilateral Brasil-EUA-Japão
Alocução do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, na abertura do Diálogo Trilateral Brasil-EUA-Japão, 10/11/2020*
Bom dia a todos,
Subsecretário Keith Krach,
Embaixador Teiji Hayashi,
É um grande prazer recebê-los aqui em Brasília. Não quero tomar muito de seu tempo neste trabalho tão importante. Gostaria, apenas, de compartilhar algumas ideias antes do início desta muito significativa reunião inaugural do Diálogo Brasil-Estados Unidos-Japão. Estou muito feliz por recebê-los aqui. É uma honra para o Brasil, é uma honra para o Ministério das Relações Exteriores.
Agradeço às delegações japonesa e norte-americana por terem viajado nestes tempos difíceis e por estarem presentes aqui. Percebemos como é importante ter encontros face a face. Estes tempos de pandemia nos mostraram a importância de coisas que costumávamos considerar garantidas. E esta é apenas uma delas. Então, muito obrigado por estarem aqui.
Gostaria, apenas, de compartilhar com os senhores que, para mim, este é o começo da realização de um sonho. Desde o início de nosso trabalho nesta gestão, há quase exatamente dois anos – e mesmo antes da posse do Presidente, quando fui nomeado – estávamos formando nossa equipe e começando a pensar no que queríamos fazer ou em como implementar as ideias do Presidente em política externa. Abrimos – mentalmente – o mapa do mundo e vimos que havia algo errado. Não devemos pensar o mundo em termos de países em desenvolvimento, de um lado, e de países desenvolvidos, do outro, como, pelo menos aqui no Brasil, nós, diplomatas, aprendemos desde o jardim de infância. Quero dizer, isso faz parte de como o mundo parece ser, mas é uma imagem antiga, e temos que fazer outra coisa, porque o Brasil está mudando.
O Brasil está em um processo de transformação muito profunda. E nós não queremos apenas crescer, desenvolver nossa economia para ser um país em desenvolvimento que finalmente se desenvolva. Mais do que isso, queremos ser um país democrático, uma sociedade democrática em sentido muito profundo. E queremos ser um país democrático que ajuda, com todas as nossas forças, com tudo o que temos, a moldar o mundo a favor da democracia, a favor da liberdade. Estávamos convencidos então – o Presidente Bolsonaro acredita nisso profundamente – e ainda estamos convencidos de que podemos ajudar a fazer a diferença no mundo, que precisamos de democracia e liberdade em casa e no mundo e que o Brasil pode ser uma força para isso.
Quando olhamos para o mapa-múndi com aquele novo olhar, imediatamente vimos o Japão e os Estados Unidos como parceiros--chave nessa empreitada – e é isso que nos propomos alcançar.
Nos últimos tempos, especialmente neste ano, pelo menos para mim, ficou mais claro que esse tipo de déficit democrático é um problema fundamental, não apenas em termos de sua prática, mas em termos de como falamos, como movemos países e instituições em todo o mundo. É muito raro ver as palavras “democracia” e “liberdade” mencionadas em fóruns internacionais. É muito raro ver esse tipo de elã, esse tipo de sentimento de liberdade e democracia presente nessas discussões – nem mesmo as palavras são mencionadas, muito menos o sentimento mais profundo por trás delas.
Acredito que isto é o que temos que nos propor a mudar: pensar o mundo, pensar as relações internacionais, pensar a estrutura de poder no mundo – a tecnologia, a economia e outras questões – do ponto de vista desse sentimento e dessa prática da democracia, que é tão fundamental para nossos três países e para nossas três sociedades. Precisamos colocar a democracia e a liberdade novamente no centro do mundo, nas discussões mundiais, na discussão dos mecanismos e das iniciativas para abordar os problemas que todos enfrentamos.
Precisamos de novas geometrias para isso, e este triângulo, dentro desse novo tipo de geometria, é, de nosso ponto de vista, fundamental. Não quero levar o crédito por isso porque acho que a ideia original deste triângulo veio do Japão, mas ela faz muito sentido para nós e estamos muito entusiasmados com isso desde o início.
Tivemos diálogos bilaterais extremamente produtivos, como sabem, com ambos os países. O Presidente Bolsonaro visitou os Estados Unidos e o Japão. Manteve conversas extensas com o Presidente Trump e com o então Primeiro-Ministro Abe. Eu pessoalmente tive o prazer, a honra de conversar muitas vezes com o Ministro Motegi e com o Secretário Pompeo, é claro. E, cada vez mais, estamos convencidos de que não é apenas uma questão de nossos interesses bilaterais muito fortes e promissores, além de nossas tradicionais relações econômicas e sociais e em outros campos, mas é uma questão de trabalhar com essa esfera de valores e estarmos juntos neste esforço de remodelar o mundo. Isso é muito mais fundamental agora, com a pandemia de COVID-19 e todas as suas ameaças e desafios.
Claro, essa é uma questão de saúde acima de tudo, mas ela não deve servir de pretexto para um tipo errado de remodelação do mundo. Não deve ser um pretexto para substituir as soberanias nacionais por algum tipo de esquema burocrático internacional. Não deve ser um pretexto para moldar as sociedades na direção de sociedades de controle total. Isso é algo que começa a pairar sobre nós e que, acredito, devemos abordar. Então, aqui estamos com toda a nossa dedicação a este processo.
Acho que temos de ser ambiciosos. Temos de ser realistas, é claro, sobre o que podemos alcançar, mas, a partir das discussões que ocorreram, a partir da Declaração Conjunta que estamos prestes a publicar, vemos que não se trata apenas de questões específicas, mas também de uma visão. Acredito que precisamos trabalhar a partir desse tipo de visão que nos une, e é a partir daí que podemos alcançar resultados concretos na economia, na tecnologia e na prosperidade, na governança, nos direitos humanos, no meio ambiente, seja o que for, é a partir desse tipo de perspectiva comum que temos de trabalhar.
Acredito que esta reunião provou que não estamos fugindo das grandes questões. Não estamos fugindo das responsabilidades que nossos países têm no mundo. É prova de que defendemos a justiça e a liberdade, tanto em casa quanto no mundo.
Cada dia traz consigo novos desafios. Todos estão pensando em como será o mundo. Acredito que podemos começar a passar este tipo de mensagem: que temos um direcionamento comum e que podemos não apenas trabalhar entre nós três, mas talvez também começar a nos unir a outros países, a nos unir a outros grupos, por assim dizer, em torno desses valores. Este triângulo é algo muito forte, e tenho certeza de que a mensagem que estamos enviando aqui hoje vai ressoar muito alto em todo o mundo.
Muito obrigado, e que tenham um bom dia de trabalho.
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* Fonte: Ministérios das Relações Exteriores.