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Alocução do Ministro Ernesto Araújo na abertura do curso “O Brasil no Agronegócio Global”
Alocução do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, na abertura do curso “O Brasil no Agronegócio Global” (19/10/2020)*
Bom dia. Quero saudar os organizadores do curso “O Brasil no Agronegócio Global”. Quero saudar o Presidente do Insper, Marcos Lisboa; o Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, Ministro Roberto Goidanich; o Professor Marcos Jank, e todos os demais organizadores.
Quero saudar de maneira muito especial a Ministra Tereza Cristina, com quem tenho tido o verdadeiro privilégio de trabalhar na vertente internacional da promoção do agronegócio brasileiro e cuja liderança – assim como todos os brasileiros e, sobretudo, todas as pessoas do agro – tanto admiro.
O tema do evento – o Brasil no agronegócio global – não poderia ser mais atual. O êxito do agronegócio brasileiro é inegável. O setor respondeu, em agosto, por mais de 50% das exportações do Brasil, contribuindo de forma significativa para o equilíbrio das contas externas e garantindo, ao mesmo tempo, a segurança alimentar não só do Brasil, mas de boa parte do mundo.
A despeito da pandemia, e da recessão que a acompanha em todos os países do mundo, em agosto o nosso agronegócio exportou valor 7,8% superior ao do mesmo mês de 2019 – uma performance realmente incrível. As exportações de soja cresceram 25%. As vendas externas do açúcar mais do que dobraram. Os índices de ganho de produtividade, graças à aplicação de pesquisa e inovação na agropecuária do Brasil, também saltam aos olhos. Somos o terceiro maior exportador mundial do agronegócio e o país com maior saldo comercial na área do agro.
Esses resultados advêm do esforço contínuo do setor privado, mas também em função da atuação externa do governo do Presidente Jair Bolsonaro. O sucesso do Brasil é fruto da inovação e do aumento da produtividade. Soubemos materializar as vantagens comparativas naturais do país em ganhos econômicos e em geração de comércio e de emprego. E é preciso que não só os brasileiros saibam, mas que todo o mundo saiba disso.
Nosso setor agrícola sofre do protecionismo de vários países e de um hiato regulatório na Organização Mundial do Comércio. O sucesso do agro brasileiro acaba por levar vários governos a adotarem medidas restritivas ao comércio agrícola internacional. Como pretexto, alguns utilizam barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias, porém mal disfarçam a sua intenção de proteger setores poucos produtivos através da contenção de importações oriundas do Brasil.
Hoje está cada vez mais claro que o agronegócio brasileiro necessita da atuação internacional do governo para promover e defender seus interesses – abrindo mercados e, ao mesmo tempo, combatendo os ataques injustos e desleais que são feitos à imagem desse setor, que são ataques à imagem de todo o Brasil, baseados em fatos inverídicos e manipulados e em uma visão completamente superficial da realidade brasileira.
O Brasil também necessita do agronegócio para atrair divisas ao país e promover a retomada do crescimento, o que faz com que a nova política externa do governo do Presidente Jair Bolsonaro, que estamos implementando, e os interesses do agro brasileiro sejam plenamente convergentes.
Desde o início da minha gestão à frente do Itamaraty, temos procurado, com todo empenho, adaptar-nos e fortalecer-nos para essa tarefa. Já em janeiro de 2019, criamos o Departamento de Promoção do Agronegócio, para atuar nas áreas de política comercial, promoção da imagem e promoção comercial do agro. Em agosto de 2020, concluímos o estabelecimento de mais de 40 setores de promoção do agronegócio nas embaixadas, consulados e missões do Brasil no exterior.
O maior trunfo de que dispomos, no entanto, é a coordenação e a integração de esforços entre o Itamaraty, incluindo a Apex-Brasil, e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Nós estamos irmanados em estreita articulação com o setor privado e com o Congresso Nacional na promoção do agronegócio brasileiro. Temos clareza da natureza estratégica de planejar e atuar em conjunto nessa tarefa. Nossa cooperação resultou na abertura de mercados para dezenas de produtos e na habilitação de centenas de estabelecimentos exportadores brasileiros. Onde, em governos anteriores, e muitas vezes exteriores aos interesses brasileiros, havia interesses distintos, que não dialogavam, agora, unidos, buscamos, por ângulos distintos, um mesmo interesse nacional.
O Itamaraty, portanto, está trabalhando em coordenação com o MAPA, por exemplo, para explorar a possibilidade de maior e melhor acesso a mercados para os nossos produtos agrícolas nas negociações comerciais internacionais, notadamente por meio do MERCOSUL. O mesmo também no âmbito da OMC, onde temos liderado debates sobre a reforma dos subsídios agrícolas no seio do chamado Grupo de Ottawa, grupo de membros da OMC que tem buscado novas ideias para a modernização da Organização.
A pandemia gerou impactos no nosso trabalho regular desde março, como todos sabemos, mas soubemos nos adaptar e nos reinventar. Na promoção comercial, com o adiamento ou cancelamento de praticamente todas as feiras setoriais, apostamos no desenvolvimento da inteligência comercial e em atividades virtuais de promoção. Mantivemos a comemoração do Dia Internacional do Café e do Dia Internacional do Algodão, por exemplo, com o engajamento ativo da rede de postos do Itamaraty no exterior e amplo uso das mídias sociais.
Precisamos ir além, precisamos ir muito além. A dimensão dos nossos desafios não diminui com o tempo. É preciso consolidar a imagem do Brasil como fornecedor estratégico e confiável de produtos seguros na agricultura, de alta qualidade e produzidos de forma sustentável. Nós somos uma potência agroambiental que garante a segurança alimentar de boa parte do planeta. Essa tem de ser a imagem do Brasil, porque essa é a realidade do Brasil.
Com esse objetivo em mente, seguiremos adaptando-nos e fortalecendo-nos. Isso significa, também, qualificar os homens e as mulheres que atuam na linha de frente na promoção do agro brasileiro a despeito das dificuldades impostas pela COVID-19. Exemplo de trabalho nesse sentido foi a II Reunião dos Adidos Agrícolas Brasileiros, de que participei em 14 de setembro a convite da Ministra Tereza Cristina.
Esse é o contexto em que também se insere este curso, de cuja abertura tenho a grande satisfação de participar. Resultado de importante parceria com a instituição de ensino superior Insper, cuja excelência é reconhecida, o curso foi deliberadamente pensado para servidores do Itamaraty, incluindo a Apex-Brasil, e do MAPA. Foram mais de cem interessados, entre os quais 40 foram selecionados para participar desta primeira edição. Oferecemos o curso “O Brasil no Agronegócio Global” aos funcionários lotados em Brasília desses três órgãos (Itamaraty, Apex-Brasil e MAPA), mas também aos diplomatas no exterior, aos funcionários dos escritórios da Apex-Brasil no exterior e aos adidos agrícolas que atuam nas embaixadas e em missões brasileiras. O curso, portanto, aproximará todos os agentes de política externa nas discussões em andamento no Brasil e, dessa forma, contribuirá para que as representações brasileiras possam melhor atuar nos cenários cambiantes dos mercados internacionais e melhor divulgar o estado da arte do setor agroprodutivo brasileiro em termos de segurança, sanidade, produtividade, estabilidade de fornecimento, sustentabilidade e inovação.
Neste curso, serão analisadas detidamente todas as agendas contemporâneas do agronegócio: as transformações do comércio agrícola mundial; a inserção internacional do agro brasileiro; estratégias e políticas para qualificar a presença brasileira, diversificando a pauta exportadora, agregando valor e enfrentando o desafio da comunicação. Serão tratadas as novas formas de protecionismo, bem como os desafios da promoção do comércio internacional em um mundo no qual as restrições à circulação internacional de bens e serviços voltaram a crescer.
Precisamos entender as novas estratégias do protecionismo, sobretudo o protecionismo pela mídia. A manipulação de informações através da mídia internacional para prejudicar o agronegócio brasileiro, com técnicas sofisticadas de distorção da verdade para construir uma opinião pública contrária, é um grande desafio. É preciso entender que esse protecionismo, além de atuar de uma maneira sub-reptícia, que não é a maneira clássica do protecionismo – ou seja, não da maneira econômico-comercial tradicional, mas por meio da difusão de falsas informações –, é também uma questão política. Esse processo de manipulação – essa criação de uma narrativa falsa sobre o Brasil, sobre o agro brasileiro – provém de grupos e correntes políticas no Brasil, e também no exterior, que não querem ver um Brasil forte, que não querem ver avançar o projeto profundo de transformação do país no qual o nosso governo está empenhado. Esse é, portanto, um desafio que vai além daquilo que nós estamos habituados na promoção do nosso agronegócio. Não se trata apenas de vencer barreiras fitossanitárias; trata-se de vencer barreiras mentais, barreiras também políticas, barreiras que se antepõem a esse novo Brasil que nós estamos tentando construir.
Um aspecto relevante do curso será a possibilidade de debate e intercâmbio entre seus participantes, os quais espero que proporcionem aos funcionários envolvidos a oportunidade de expandir suas visões sobre a agenda do agro e de gerar novas ideias. Com isso, a coordenação e integração de esforços do governo naturalmente se tornará mais fluida e mais rica.
Por fim, gostaria de agradecer o engajamento do Insper e, por intermédio dele, da academia brasileira nesse propósito mais amplo de pensar a agenda internacional e discutir maneiras de melhor promover e defender o agronegócio brasileiro – discutindo situações concretas, discutindo os desafios existentes, discutindo o novo cenário (que muda tão rapidamente no mundo) e indo muito além das falsas premissas e da superficialidade que infelizmente, muitas vezes, ainda prevalece quando se fala da nossa inserção internacional. É fundamental que esta reflexão se aprofunde e se consolide tanto para a boa atuação de todos nós que trabalhamos a promoção do agro, quanto pelo bem do nosso próprio país, porque o país se desenvolverá com base na percepção, na compreensão da realidade e dos desafios que nos impõem e dos trunfos que nós temos, e não a partir de uma coleção de estereótipos e de chavões como muitas vezes nós vemos no debate público.
Assim, congratulo os participantes e o corpo docente e desejo a todos duas semanas de muito trabalho de enriquecimento pessoal naquela que espero ser a primeira de muitas iniciativas conjuntas nessa área.
Muito obrigado.
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