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Alimentação Escolar
Países latino-americanos promovem ações de educação alimentar para combater o desperdício de alimentos nas escolas
América Latina. "É imperativo aprofundar a reflexão sobre os impactos dos desperdícios, especialmente no contexto da pandemia que estamos vivendo", disse o embaixador Ruy Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), na abertura do Diálogo sobre Desperdício de Alimentos nas Escolas: Desafios e Possibilidades, promovido pela Rede de Alimentação Escolar Sustentável (Raes), em 27 de abril. O diretor destacou a parceria do Brasil com a FAO, na cooperação trilateral Sul-Sul implementada há mais de 12 anos, afirmando que a alimentação escolar representa uma alternativa concreta para combater a fome e a pobreza e promover o desenvolvimento econômico e a inclusão social.
A Raes foi criada em 2018 pelo Governo do Brasil, representado pela ABC/MRE e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), e tem o apoio da FAO no âmbito do projeto Consolidação dos Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe. Atualmente, a rede é composta por 21 países da região.
O diálogo virtual foi assistido por mais de 2.200 espectadores ao vivo, incluindo gerentes e técnicos governamentais de países da região e outros interessados no assunto. O evento promoveu o intercâmbio de experiências entre países para a construção de conhecimentos e boas práticas relacionadas com a mitigação do desperdício de alimentos em ambientes escolares. Assista à gravação do evento: parte 1 e parte 2.
Na abertura, o presidente da FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, disse que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) se tornou um canal para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e pode contribuir para o avanço dos programas de alimentação escolar na América Latina e no Caribe. Segundo Ponte, o Pnae é um programa que auxilia mais de 40 milhões de estudantes com refeições escolares todos os dias: "São mais de 50 milhões de refeições servidas diariamente", disse ele.
Por sua vez, Rafael Zavala, representante da FAO Brasil, enfatizou a "necessidade de estatísticas mais claras sobre o desperdício de alimentos nas escolas" para um melhor planejamento das ações. O representante destacou a importância de priorizar o consumo de alimentos frescos, comprando-os da agricultura familiar e adaptando as dietas às tradições locais. Sobre a Raes, ele disse que ela "pode servir como agente de mudança no Brasil e nos países da região".
Perdas e desperdícios na região
João Intini, diretor de Políticas e Sistemas Alimentares do Escritório da FAO para a América Latina e o Caribe, apresentou um cenário regional de perdas e desperdícios. De acordo com Intini, é importante saber quais recursos ambientais, pessoais e econômicos são investidos na produção de alimentos. Ele também disse que este seria um ponto de partida para a conscientização sobre seu valor, sua contribuição para a saúde e as repercussões para o meio ambiente. "As perdas e desperdício de alimentos são uma oportunidade para mudar o padrão de consumo, para voltar a consumir alimentos frescos e saudáveis". Ele também defendeu a tecnologia, a criatividade e a cooperação para mitigar o problema.
Visão geral dos desperdícios de alimentos e do ambiente escolar
A coordenadora regional do projeto de Consolidação dos Programas de Alimentação Escolar na América Latina e Caribe, Najla Veloso, apresentou algumas reflexões sobre o desperdício de alimentos e sua relação com o ambiente escolar. Najla disse que o desperdício no ambiente escolar ocorre em vários espaços, tem uma responsabilidade compartilhada por vários atores e que a questão está relacionada a questões ambientais, sociais, culturais e econômicas.
Najla destacou a importância do planejamento para prevenir ou mitigar o desperdício nas escolas, destacando como uma das soluções a otimização do uso de resíduos orgânicos e não orgânicos produzidos durante a preparação e consumo dos alimentos. "A melhor prevenção é ter menus adequados e saudáveis de acordo com os hábitos alimentares de cada país", disse ela.
A experiência brasileira
Karine Santos, coordenadora-geral do Pnae no Brasil, apresentou as ações implementadas pelo FNDE para reduzir o desperdício de alimentos nas escolas, com base na política de alimentação escolar do país. Segundo a coordenadora, "a alimentação escolar tem um grande impacto na sociedade", destacando a universalidade do programa brasileiro, que atinge mais de 150 mil escolas em todo o país. Como uma das estratégias de educação alimentar e nutricional, Karine comentou a ação desenvolvida nos livros pedagógicos distribuídos nas escolas públicas de ensino fundamental, que têm mensagens sobre alimentação saudável na quarta capa da publicação.
Sobre a questão do desperdício alimentar nas escolas, a coordenadora do Pnae apresentou dados de uma pesquisa sobre o desempenho dos nutricionistas do programa nesse tocante. Sessenta e cinco por cento dos nutricionistas responderam que a questão faz parte de sua rotina e planejamento. Sobre perdas e desperdícios, 68% dos profissionais de nutrição classificaram como baixos e 38% não sabem como estimar o percentual de desperdícios. A medição de perdas e desperdícios nas escolas foi feita através do monitoramento e pesagem dos alimentos restantes e restos limpos, aplicação de teste de aceitabilidade e observação visual, entre outros.
Visão geral das ações da FAO
O oficial de Nutrição da FAO Mesoamérica, Israel Ríos, apresentou uma visão geral das ações da FAO para combater a pobreza e a desnutrição na região, destacando que entre 20 e 40% das crianças em idade escolar na América Latina são obesas ou têm sobrepeso, e enfatizando a importância das refeições escolares para garantir uma alimentação saudável. Ríos disse que é importante que os problemas da fome e da desnutrição sejam tratados a partir dos sistemas alimentares, fazendo com que a cadeia de abastecimento favoreça a disponibilidade e a produção de alimentos saudáveis, promovendo também ambientes alimentares saudáveis e sustentáveis. De acordo com o oficial, dietas saudáveis custam 60% mais do que aquelas que só atendem às necessidades essenciais. "É necessária uma ação urgente para apoiar a mudança a fim de disponibilizar dietas saudáveis", disse ele.
Ríos disse que, para a FAO, o apoio da Cooperação Brasil-FAO na alimentação escolar gerou "uma revolução nos programas de alimentação escolar da região", afirmando que houve avanços em termos de política de alimentação escolar com base no Direito Humano à Alimentação. Ele também destacou a importância da Raes como um espaço para compartilhar experiências, lições aprendidas e promover o diálogo entre os países.
A inclusão da gastronomia
Jaime Tohá, diretor da Junta Nacional de Ajuda Escolar e Bolsas de Estudo do Chile (Junaeb), e Juan Pablo Mellado, chef consultor da FAO e diretor do Laboratório Gastronômico da Junaeb, apresentaram a iniciativa de incluir a gastronomia como uma estratégia para reduzir o desperdício de alimentos nos PAEs do Chile, Guatemala, Colômbia e República Dominicana. De acordo com Tohá, o programa de alimentação chileno já contribuía no aspecto nutricional e de inocuidade, mas faltava a gastronomia, o que levou à criação do Laboratório Gastronômico há quatro anos. Com esta iniciativa, houve um aumento na aceitação dos alimentos pelos estudantes. O laboratório reconhece as realidades alimentares dos territórios e dos povos nativos e tem a alimentação como veículo de socialização e educação.
Mellado apresentou o projeto piloto implementado pela FAO em três países, o que incluiu critérios e técnicas gastronômicas nos cardápios escolares. Técnicas como o uso de especiarias e ervas aromáticas para realçar sabores e a preparação de refrescos com ingredientes naturais, especiarias e melhores práticas sanitárias, entre outras, foram introduzidas. O impacto demonstrado pelo piloto foi um aumento na aceitação do cardápio e uma diminuição nas perdas e no desperdício de alimentos nas escolas. "Investir em gastronomia promove benefícios em termos de otimização do uso de recursos públicos", disse o chef chileno.
Este diálogo regional foi a primeira atividade promovida pela Raes em 2021 e iniciou discussões sobre a questão dos desperdícios alimentares em ambientes escolares no âmbito da rede. Para este ano, o projeto Consolidação de Programas de Alimentação, que promove a Raes, realizará outros seis eventos virtuais sobre temas já identificados e que são relevantes aos programas de alimentação escolar na América Latina e no Caribe.
Fonte: Jornal Digital Centroamericano y del Caribe.