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Resíduos da concessão florestal geram energia sustentável e renda
Foto: Serviço Florestal Brasileiro.
Concessão florestal é a permissão legal para uma pessoa jurídica fazer o manejo florestal sustentável. Com isso, o concessionário pode extrair produtos madeireiros e não madeireiros e ainda oferecer serviços de turismo dentro de uma Floresta Nacional (flona). A menina dos olhos do manejo florestal sempre foi o beneficiamento da madeira, que produz uma quantidade de resíduos imensa, dentro da floresta e na serraria.
Dentro das áreas concedidas, a extração do tronco obedece rigorosas normas que garantem o menor impacto possível no local, para que a floresta permaneça saudável e de pé. Retirado o tronco, parte comercialmente mais aproveitada, sobram galhos, folhas e raiz. Esses resíduos ficam no local de extração. Como a floresta é quente e úmida, tudo se decompõe rápido, servindo como material orgânico e favorecendo a ciclagem de nutrientes.
Na serraria, cada metro cúbico de madeira que entra gera 50% de resíduo. Assim, diariamente são geradas montanhas de serragem, filetes e cascas, após os cortes dos troncos e beneficiamento da madeira. Essa sobra, que normalmente é incinerada, pode virar biomassa e fonte de energia termoelétrica.
Viabilidade econômica
Pensando nisso, o Serviço Florestal Brasileiro encomendou um estudo sobre a viabilidade econômica de implantação de uma indústria termoelétrica dentro da Flona de Altamira. Além desse estudo, o Projeto Gestão Florestal para a Produção Sustentável da Amazônia e o Laboratório de Produtos Florestais do SFB vão produzir um manual para implantação de uma usina termoelétrica, assim como, orientações de como obter financiamento para custear o empreendimento.
Segundo o coordenador-geral de Monitoramento e Auditoria Florestal, José Humberto Chaves, o investimento na construção de termoelétricas pelas empresas da concessão florestal compensaria em longo prazo.
“O custo de construção de uma usina termoelétrica é muito alto. No entanto, ele se paga com o tempo, tendo em vista que os contratos com essas empresas duram 40 anos. Além disso, seria uma alternativa de energia sustentável para os municípios do entorno, gerando ainda mais emprego, mão de obra qualificada para a manutenção dessa atividade, enfim, ofertando mais um meio de renda dentro do ciclo da madeira”, disse.
Madeflona
A empresa Madeflona Industrial Madeireira tem a concessão florestal de quatro Unidades de Manejo Florestal (UMFs) das Flonas de Jacundá e Jumari, em Rondônia. Essa área totaliza 137.2 mil hectares de manejo sustentável.
O resíduo da serraria da Madeflona era incinerado em forno específico até 6 anos atrás. De lá para cá, ela aprendeu a transformar o que era lixo em biomassa. A serragem é vendida para a geração de energia de uma fábrica de cerâmica da região. A parte sólida (cascas e filetes) vira bullets, que são vendidos para as indústrias termoelétricas ou que possuem térmicas da região.
O engenheiro florestal e administrador da Madeflona, Evandro Muhlbauer, disse que foi necessário um investimento inicial em torno de R$300 mil para a construção do depósito para acondicionamento do material.
“A nossa produção até o mês de novembro foi de 8,5 mil m³ de biomassa sólida e 8 mil m³ de pó de serra. Somente a venda dos resíduos sólidos pagam 40% da folha de pagamento da indústria. Além disso, empregamos 10% da equipe de logística que estaria dispensada neste período de entressafra, que vai de dezembro a maio, para fazer a distribuição dos paletes”, informou Evandro.
Para o administrador, não é interessante no momento a construção de uma usina termoelétrica própria, uma vez que 95% dos resíduos da indústria de beneficiamento da madeira extraída têm destino certo. Ao todo, 10 empresas do entorno das flonas dependem dessa biomassa. São indústrias de laticínios, secadoras de soja, termoelétricas, dentre outras, que compram o material para alimentar suas caldeiras. “O aproveitamento dos resíduos madeireiros é mais um ciclo econômico e social que nós agregamos na Madeflona”, afirmou.
Patauá
O aproveitamento da exploração madeireira feita pelas cinco empresas, que compõem o Grupo Patauá Florestal, é feito em três níveis. Os cortes mais nobres dos troncos viram as lâminas ou deckings, que são as partes mais rentáveis. O que sobra desses cortes é vendido para a Tramontina, que utiliza na confecção de cabos dos talheres. A Patauá fornece 50% desses acabamentos de toda produção da Tramontina.
O segundo subproduto, filetes e cascas, é vendido para uma siderúrgica do Mato Grosso. O terceiro, toda a serragem que sobra das cinco indústrias de beneficiamento é transformada em biomassa e usada na geração de energia para alimentar todas elas. Além disso, o grupo Patauá criou um braço, a Patauá Eco, responsável pelos projetos sustentáveis. O projeto dos sonhos está em fase final: a construção de uma usina termoelétrica.
Segundo o sócio Oberdan Perondi, “a construção da usina termoelétrica da Patauá Eco está em andamento. Com isso vamos aproveitar 100% do quem vem da floresta”.
“As empresas que compõem o grupo Patauá são autossuficientes na produção de energia elétrica. Com a usina termoelétrica pronta teremos a capacidade de produzir 3 megawatts/mês. Quantidade necessária para alimentar o distrito de Moraes Almeida, apenas com a utilização de todos os nossos resíduos”, declarou Oberdan.
A Patauá administra 210 mil hectares de concessão florestal de duas UMFs da Flona de Altamira, no Pará, desde 2015.
Bonificação
O Serviço Florestal Brasileiro tem incluído nos últimos editais de contratação das empresas de concessão florestais itens que bonificam o aproveitamento dos resíduos madeireiros em alternativas sustentáveis.
Além disso, para subsidiar as empresas concessionárias com alternativas viáveis, o SFB e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, há três anos, desenvolveu um estudo para avaliar o potencial de aproveitamento dos milhares de metros cúbicos de resíduos madeireiros produzidos nas indústrias de beneficiamento de madeira daquelas empresas.
Para José Humberto Chaves do SFB, “o tema sustentabilidade tem hoje um apelo social e ambiental muito forte. Entendemos que as empresas concessionárias poderiam receber algum tipo de financiamento para o uso dos resíduos da concessão florestal na produção de energia limpa. Seria uma opção sustentável em substituição à energia poluente a ser usada pelas próprias empresas e estendendo para a região do entorno”.
A biomassa oriunda dos resíduos florestais é uma alternativa sustentável para as usinas termoelétricas, tem baixo custo de aquisição e as emissões não contribuem para o efeito estufa.