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A presença da concessão florestal transformou o distrito de Moraes Almeida num lugar de oportunidades
Foto: Serviço Florestal Brasileiro.
O distrito de Moraes Almeida é o maior centro de pujança econômica do município de Itaituba, no Pará. O lugarejo foi criado em 1982 para ser um centro de apoio ao garimpo, com a construção da Transgarimpeira. A mineração se transformou, desde então, no primeiro pilar do desenvolvimento local. O segundo foi o madeireiro, que se consolidou com as concessões florestais.
Os contratos de concessão florestal da Floresta Nacional de Altamira foram assinados em 2015. Duas empresas adquiriram o direito legal de fazer o manejo sustentável em uma área de 362 mil hectares. A RRX Mineração e Serviços e a Patauá Florestal hoje, com as atividades de produção em pleno vapor, são responsáveis pela geração de renda, direta e indiretamente, de quase 3 mil moradores de Moraes Almeida. Esse número representa quase 30% dos 10 mil habitantes da região.
O farmacêutico bioquímico, Ubiratan Augusto Fagundes Filadelpho (40), cresceu junto com o distrito. Chegou aos 8 anos de idade, acompanhando o pai, Antonio Filadelpho Junior. O chefe da família trabalhava com o empresário e um dos fundadores do distrito, Gustavo Prudente de Moraes Almeida. Gustavo de Moraes Almeida e Jesuíno Mendes foram convidados pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para fundarem o distrito para ser um apoio da atividade de mineração na região.
Da sua fundação até 1988, a região foi próspera. Com o fechamento do garimpo de Serra Pelada e da Transgarimpeira, Moraes Almeida quase acabou. Foi então que, sem escolas e infraestrutura, Ubiratan Filadelpho teve de voltar a São Paulo para estudar. Do ensino regular à graduação em Farmácia Bioquímica, sempre desejou regressar ao Pará.
Ao chegar, em 2001, percebeu a carência do local e decidiu abrir um laboratório de análises clínicas. Decisão tomada, recusou o convite de um professor orientador da Universidade de São Paulo (USP) para ingressar no mestrado. Um tempo depois, o empreendimento se tornaria o Laboratório e Farmácia Filadelphia.
“Moraes Almeida é uma terra de oportunidade. Vi a necessidade de abrir o laboratório, depois a farmácia e hoje vejo a necessidade de abrir um mini hospital. O crescimento local foi significativo com a chegada da concessão florestal, em 2015”, disse Ubiratan.
Crescimento local
O empresário lembra que quando retornou de São Paulo já havia algumas madeireiras, mas sempre com as inseguranças da atividade em áreas particulares. “Posso falar que existe uma Moraes Almeida antes das concessões e outra Moraes Almeida depois das concessões. Tudo mudou por aqui. Mudou a garantia e a tranquilidade econômica que o comerciante tem para trabalhar, que antes não tinha. Vou além, nenhum município próximo, como Trairão, Novo Progresso, Castelo dos Sonhos e nem a nossa sede Itaituba, tem a tranquilidade financeira que as empresas concessionárias nos dão hoje e vão nos dar pelos próximos 25 anos”, afirmou.
Ubiratan afirma que após o início das atividades da concessão florestal, o seu lucro melhorou muito. O faturamento da empresa triplicou como triplicou a quantidade de funcionários. De 5 funcionários que a farmácia tinha, hoje são 15 e todos com a carteira assinada. Além disso, o empresário se orgulha de ter o Selo Verde – uma certificação dada a atividades empresariais que apresentam menor impacto ao meio ambiente.
Essa segurança permite que Ubiratan faça planos futuros. “Moraes está crescendo muito e só temos um posto de saúde no distrito, que funciona de forma precária. Tenho um projeto de construir um mini hospital particular aqui. Já tenho todo o projeto modelado e estou buscando parceiros para executar esse sonho”, declarou.
A trajetória da engenheira agrícola e ambiental, Rafaela Troian Donatti Alves (26), é parecida com a do Ubiratan. Chegou ao distrito com os pais e irmão, quando tinha 6 anos. Os pais ficaram no local e se consolidaram no ramo alimentício. Rafaela saiu de Moraes Almeida aos 14 anos para estudar. Voltou pós-graduada em Segurança do Trabalho.
Rafaela voltou para o lugar que aprendeu a chamar de seu. “Eu sempre quis voltar a morar aqui porque essa é a minha cidade. Foi quando tive a ideia de abrir uma loja que pudesse agregar minha profissão e uma carência na cidade. Então percebi que poderia fazer a diferença ao fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) para as empresas concessionárias. Desse estudo, abri a minha empresa em 2018, a Protege Engenharia em EPI”, relatou.
A jovem empresária avalia que as concessões florestais mudaram muito o cenário local. “Ainda é um lugar parado, sem muita infraestrutura, mas cresceu muito. A gente não conhece quase ninguém mais nas ruas”, avalia a empresária.
Potencial econômico
“Esse crescimento aconteceu com a chegada das empresas de concessão florestal. Nossa região tem potencial para receber empresas de todos os segmentos. Eu diria pro jovem empreendedor que Moraes Almeida é um lugar de muita oportunidade, muito propício em muitas áreas. E ao jovem que está buscando oportunidade profissional, que se qualifique. Pois, aqui falta mão de obra qualificada em muitas áreas e os salários são muito bons”, disse.
O gaúcho de Alpestre e sócio fundador da Construoeste Materiais de Construção, Ataíde Souza Pinto (60), se instalou em Moraes Almeida há 21 anos. Antes disso, morou na cidade de Sete Quedas, no Mato Grosso. Foi representante comercial e gerente de supermercado até decidir mudar de cidade e de vida e abrir sua própria empresa.
Moraes Almeida foi escolhida em função das atividades madeireiras e de mineração. No entanto, foi o estabelecimento das empresas de concessão florestal no local que fez a loja de Ataíde crescer significativamente em apenas 5 anos. Com esse crescimento, o empresário de teve de contratar mais que o dobro de funcionários. Hoje, a Construoeste tem 18 funcionários, todos com carteira assinada.
“Vi momentos péssimos em Moraes Almeida. Aqui era uma montanha russa, que só melhorou a partir do momento em que começou a funcionar legalmente a atividade madeireira. Houve uma estabilidade no comércio em geral. A atividade econômica gira em torno de atividades primárias. Se não existe atividade primária legalizada, a gente fica sem estrutura alguma para o restante das atividades. Aí não tem garantia de emprego, não tem garantia de renda e se vende não tem garantia de recebimento. Hoje está faltando é gente para trabalhar aqui no distrito”, afirmou Ataíde.
Emancipação
O crescimento econômico do distrito de Moraes Almeida e a distância de 300 km que o separa de Itaituba, município ao qual está vinculado administrativamente, mobilizaram os moradores a se engajarem numa ampla campanha para a sua emancipação. Empresários, moradores, políticos, funcionários das empresas de concessão florestal e das empresas mineradoras do local conseguiram levar o intento a plebiscito para a criação do município de Moraes Almeida. 49.9 mil eleitores de Itaituba, ou seja, 94,38% do total, votaram, no dia 15 de novembro, pela emancipação.
O processo de criação do município de Moraes Almeida irá para a Comissão de Divisão Administrativa da Assembleia Legislativa do Pará. Os deputados da Comissão devem elaborar um relatório contendo o estudo de viabilidade econômica do local e os limites geográficos. Em seguida, o texto será votado no plenário da Casa. Se aprovado, o documento deverá ser sancionado pelo governador Helder Barbalho.
O distrito de Moraes Almeida tem 10 mil habitantes, de acordo com o último levantamento populacional, feito em 2018. A área ocupa um pouco mais de 12 mil quilômetros quadrados e faz limites com Itaituba, Novo Progresso e Altamira. Para Ataíde de Souza, “a emancipação envolve todo um contexto de trazer o poder público para a região. Teremos uma outra realidade com a presença de serviços públicos que hoje não temos aqui. O desenvolvimento econômico que estamos vivendo aqui pede que sejamos elevados a município”.