Notícias
G20
Desigualdade assume protagonismo na abertura do G20 financeiro, afirma secretário Guilherme Mello, da SPE
O tema da desigualdade assumiu, de maneira inédita, o protagonismo na plenária de abertura da reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20. Essa é a avaliação do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.
O encontro, que reúne representantes do alto escalão das maiores potências econômicas do mundo, começou nesta quarta-feira (28/2), em São Paulo, e os participantes da mesa tiveram a oportunidade de discutir assuntos que são prioridades da agenda proposta pelo Brasil, como tributação internacional mais justa e finanças sustentáveis.
De acordo com Mello, um dos debates iniciais foi sobre como é possível melhorar a mensuração da desigualdade e o uso destas métricas para o desenvolvimento inclusivo de países. “Tendo ferramentas analíticas mais apropriadas é possível sabermos de maneira mais clara quais caminhos precisam ser tomados”, explicou, reforçando que a sessão se deu em um ambiente “muito rico”.
Ao longo da sessão, contou o secretário, os ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais discutiram sobre as formas de sustentar um nível de crescimento robusto, com investimentos capazes de gerar empregos qualificados e que aumentem a produtividade da economia. “Este debate também incluiu as mudanças climáticas e o impacto deste fenômeno no desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Mello reforçou o discurso inicial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acerca da importância de criar uma "nova globalização” guiada por critérios socioambientais. Esta abordagem busca distanciar-se das práticas passadas de globalização, que frequentemente dependiam de explorar diferenças regulatórias, trabalhistas e fiscais entre regiões para maximizar lucros.
“Ao contrário, esta nova onda de globalização que queremos discutir nos ambientes internacionais passa por direcionar os investimentos, a produção tecnológica para as regiões onde terá uma menor pegada de carbono e onde estes investimentos terão um maior impacto socioeconômico”, explicou. De acordo com o secretário, esta não é apenas uma reflexão passageira, mas sim um tema central que emergiu na plenária inicial e que continuará a ser um ponto de foco ao longo do encontro do G20.
A questão do protecionismo também foi destaque ao longo da sessão plenária. Diversos países abordaram o tema, disse o secretário, enfatizando a importância de prevenir um retrocesso e um movimento de isolacionismo, especialmente por parte das economias principais, o que teria impacto desproporcional em outros países em desenvolvimento.
Outro tema que surgiu na sessão plenária foi o endividamento das nações. “É um tema muito importante para os países mais pobres que, em um cenário de aumento de juros nos países centrais, vêm encontrando crescentes dificuldades com a rolagem e pagamento dessas dívidas”, explicou o secretário.
Tributação de grandes fortunas
Mello também falou sobre a proposta a ser apresentada no G20 de implementar um patamar mínimo global de tributação sobre grandes riquezas. Segundo o secretário, essa ação representa um progresso significativo nos esforços da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para combater a evasão fiscal.
Mello explicou que, enquanto a OCDE está atualmente focada em estabelecer um mínimo de tributação sobre os lucros das grandes empresas através dos pilares 1 e 2, o Brasil introduz uma nova dimensão ao debate: um terceiro pilar voltado para a tributação da riqueza acumulada por indivíduos e famílias extremamente ricos.
“Como observamos, nas últimas décadas, existe concentração crescente da riqueza na mão de poucas pessoas, dos super-ricos ao nível global”, explicou. “Essa concentração da riqueza fragiliza o ambiente democrático dentro dos países e essa preocupação é compartilhada por um grupo grande de países com quem conversamos”, concluiu.
Confira a entrevista do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, após a abertura da reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20