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SEMANA DA MULHER 2023
Especialistas debatem como os cuidados com a família afetam a vida laboral da população feminina
“Somos estimuladas, até inconscientemente, a sempre produzir, trabalhar e vamos deixando numa gavetinha e falamos pouco o quanto é valioso e importante o cuidado, seja ele individual, com os outros, com as pessoas próximas do trabalho, nossos familiares, as pessoas de nossa comunidade. Estamos na chave do cuidado o tempo todo e não nos vêm à consciência que isso é fundamental para qualquer sociedade”
A fala da secretaria-executiva do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), Cristina Mori, abriu a palestra “Crise dos cuidados: quem cuida de quem cuida?”, que faz parte da Semana da Mulher 2023, promovida por diversos ministérios do governo federal em comemoração ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Cristina Mori lembrou que o afeto e o cuidado são temas que não estão presentes nas mesas no dia a dia das atividades laborais e, para além disso, são renegados a algo não importante e que não deve ser trazido para o mundo do trabalho.
“Sem esse colchão de afeto e cuidado, todo o resto na verdade não existiria. Porque não somos robôs, não somos máquinas e não funcionamos de maneira mecânica, somos seres vivos, temos uma vida orgânica. Toda a realização humana, a criatividade, as coisas que a gente coloca para funcionar em sociedade, se a gente não tiver o suporte do cuidado nada disso é possível”, afirmou. Para a secretária-executiva, iniciativas como a Semana da Mulher 2023 contribuem para “tentar mover o mundo para um lugar que a gente considere mais justo e igualitário”.
Segundo a assessora de Participação Social e Diversidade do MGI, Daniela Guaraiebi, o cuidado tem centralidade na agenda da economia feminista. “Quando tratamos desse tema estamos falando não só da vida das mulheres, mas da capacidade de reprodução e da qualidade da vida de toda a sociedade brasileira”, apontou.
Combate às desigualdades
A doutora em Desenvolvimento Econômico e mestre em Economia Política Marilane Oliveira Teixeira – primeira palestrante do dia – destacou que o Dia da Mulher precisa sim ser celebrado, porém sem esquecer que as lutas contra as desigualdades continuam vivas. Segundo ela, é necessário abrir espaço na sociedade para compartilhar o quanto ainda pode-se avançar no tema dos cuidados, que foi historicamente tornado invisível, e é muitas vezes tratado como uma tarefa que faz parte da natureza das mulheres.
De acordo com Marilane, a questão dos cuidados não estava na centralidade das gestões anteriores: “É um tema que ultrapassa os limites do espaço doméstico, é muito mais amplo e precisa ser tratado como política pública”. Para ela, a vulnerabilidade e a interdependência são parte de todo ser humano e o trabalho de cuidados é responsabilidade de todos: das famílias, da sociedade, do poder público e do Estado.
“Cuidados em todas as dimensões, afazeres domésticos, de saúde, educação, assistência social são considerados femininos devido aos papéis que foram atribuídos às mulheres pela sociedade, como se as mulheres fossem frágeis e não tivessem capacidade de assumir certas posições que compõem o espaço dos homens. Todas essas atividades e atribuições sempre foram vistas como atividades menores. No entanto, a pandemia da Covid-19 evidenciou o quanto esses trabalhos são essenciais para assegurar a vida”, completou.
A pesquisadora falou da necessidade de mudar a condição desse tipo de trabalho, tão desfavorecido e desqualificado no âmbito da sociedade. “Essa lógica de que esse trabalho é mais bem-feito por mulheres e que os homens não têm habilidades para isso é um mito que temos que combater permanentemente, porque não há verdade alguma nisso”.
Marilane diz ser imprescindível a implementação de políticas públicas para melhorar as condições de trabalho remunerado das mulheres, como instalações e equipamentos adequados para receber idosos, de forma a respeitar sua cidadania, e creches, onde suas crianças possam ficar enquanto elas trabalham.
“Quarenta e dois milhões de mulheres estão fora da força de trabalho no Brasil e um terço delas justifica isso pela responsabilidade de cuidar de suas famílias. Queremos assegurar que haja reconhecimento por parte dos homens que essas tarefas devem ser compartilhadas com eles”, concluiu Marilane Teixeira.
Cuidado é inerente à condição humana
A coordenadora-geral de Articulação Intersetorial e Interfederativa da Secretaria Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Carolina Tokarski, afirmou que “todo ser humano precisa cuidar e ser cuidado. Por isso, é injusto que apenas uma parcela da população, composta pelas mulheres, seja responsável pelo trabalho de cuidados”.
Segundo Carolina, para a construção de políticas e sistemas integrados de cuidado é necessário o acesso a serviços públicos de qualidade a todos; a profissionalização, a capacitação e a regulação dos serviços de cuidado e do trabalho doméstico remunerado; a promoção de uma cultura de corresponsabilidade entre homens e mulheres, famílias, Estado e mercado – incluindo os empregadores; além do avanço na expansão da cobertura e da garantia de financiamentos adequados.
Segundo ela, o momento atual é de reconstrução e transformação e o novo governo está comprometido com a criação de uma Política Nacional de Cuidados, iniciada por meio de ações concretas que se desmembraram em três institucionalidades como a Secretaria Nacional de Cuidados e Família (MDS); da Coordenação-Geral de Cuidados, na Secretaria Nacional de Autonomia Econômica do Ministério das Mulheres; e da Assessoria Especial de Promoção da Igualdade no Trabalho, no Ministério do Trabalho e Emprego.
Entre os passos que já vêm sendo dados para a elaboração dessa política está a articulação para a criação de um grupo de trabalho interministerial coordenado pelo MDS e Ministério das Mulheres, com a participação de outros 14 órgãos; a definição dos públicos-alvo prioritários; o estabelecimento de espaços de diálogo e consulta com a sociedade civil; e o intercâmbio de experiências com outros países no âmbito das políticas e de sistemas de cuidado.
Confira a programação da Semana da Mulher, que tem transmissão ao vivo pelo Youtube
8/3 (quarta-feira)
10h –
Palestra “Os Pilares da Autoestima”
Palestrante: Rowânia Araujo
11h – Transmissão do Evento do Dia Internacional da Mulher da Presidência da República
14h – Palestra “Interseccionalidades, autoestima e imagem pessoal”
Palestrante: assessora especial do ministro da Fazenda, Fernanda Santiago
15h – Palestra “A Mulher no orçamento: o relato de uma experiência Técnica e pessoal” ( on-line )
Palestrante: Clara Marinho
9/3 (quinta-feira)
10h –
Mesa-Redonda “Mulheres indígenas no serviço público”
Participantes:
Integrantes do MPI, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai/Ministério da Saúde)
11h – Palestra “Mulheres e soberania alimentar”
Palestrante: Michela Calaça
15h – Palestra “Os desafios do combate e prevenção ao assédio”
Palestrante: Mayra Cotta
16h – Palestra “Violência política contra as mulheres”
Palestrante: Ilka Teodoro
17h – Palestra “A Mulher, o direito à saúde e à saúde digital”
Palestrante: Ana Estela Haddad
17h às 18h30 – Bate-papo on-line sobre representatividade das mulheres na tecnologia e a importância dos programas de fomento ao empreendedorismo feminino
Link de acesso à transmissão: rebrand.ly/MeetupEmpreendedorasTec
10/3 (sexta-feira)
10h –
Lançamento do Livro
“Trajetórias da Burocracia na Nova República – Heterogeneidade, desigualdades e perspectivas (1985-2000)”
Presenças confirmadas:
ministras Esther Dwek e Simone Tebet
Palestrante:
Michela Calaça
14h – Palestra “Combate à violência contra a mulher”
Palestrante: Delegada da Polícia Civil
16h – Palestra on-line “Quanto custa o respeito? Conheça os direitos da personalidade e as consequências do assédio moral e sexual”
Palestrante: Professora Leila Loureiro