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Gabriel Galípolo explica a moeda comum entre Brasil e Argentina
Para fortalecer e voltar a fazer avançar a histórica relação comercial entre Brasil e Argentina, os governos dos dois países estão aprofundando entendimentos para aprimorar o fluxo bilateral de negócios. Entre as medidas anunciadas nesta segunda-feira (23/1), durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comitiva à Argentina – da qual faz parte o ministro da Fazenda, Fernando Haddad –está a criação de uma moeda comum entre os dois países.
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A constituição de um grupo de trabalho que se dedicará a estudos voltados a esse fim faz parte de um memorando, assinado pelos presidentes Lula e Fernández, sobre o uso do Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para assegurar linhas de créditos de bancos privados e públicos nas operações de importação argentinas de produtos brasileiros.
“O ponto principal é a dificuldade de se aceitar Pesos no mercado internacional”, afirmou o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, em entrevista a um canal de televisão brasileiro nesta segunda-feira.
Sem substituição de moedas nacionais
Galípolo destacou que a nova moeda não substituirá as moedas nacionais – Real e Peso – e, portanto, não se enquadra no modelo do Euro, por exemplo. De acordo com ele, a Argentina enfrenta dificuldades para a aceitação do Peso no mercado internacional, em razão do processo inflacionário no país, e o Dólar, principal moeda de reserva cambial do mundo, pode restringir as transações do país sul-americano.
“O que acaba acontecendo hoje é que o comércio entre o Brasil e Argentina fica constrangido pela disponibilidade da moeda (Dólar) de um terceiro país, não participante desse comércio. Hoje nós temos no mundo um país que detém a sua moeda nacional como moeda internacional”, afirmou Galípolo. “Não me parece fazer sentido que a região esteja constrangida no seu comércio em função do resultado da política monetária de um terceiro país que não está participando”, disse o secretário, explicando que a autoridade monetária norte-americana determina sua taxa de juros em função de questões domésticas, como nível de inflação e atividade econômica. “Estamos buscando soluções para podermos superar esse tipo de constrangimento”, apontou.
Sobre a aprovação da criação do grupo de trabalho, o secretário-executivo comentou: “Seria difícil propormos algo mais rápido do que isso, sendo que temos pouco mais de 20 dias de governo, e esse é o primeiro encontro com a Argentina”.
A ideia é criar um clearing (saldo final) para o mercado do Brasil e Argentina, segundo Galípolo, para não depender da aceitabilidade do Peso e suprir a carência do parceiro de acesso a divisas, realizando operações em Reais para os importadores argentinos que demandarão bens e serviços do Brasil, com garantias.
Para o exportador brasileiro – assinalou o secretário –, o risco é de não receber os Reais, pelo problema de conversibilidade do Peso. “Estamos tentando superar isso, o risco do Peso para o Real, solicitando garantias para esse crédito para exportação brasileira e importação argentina, e pensando em sistemas de compensação nesse comércio”, exemplificou Galípolo. “Precisamos de uma unidade de conta e de um meio de troca. A moeda comum vai fazer o clearing, o saldo final desse comércio. É essencial. Se fizermos isso com o Dólar, estaremos sempre condicionados à política monetária norte-americana”, acrescentou.
Outro aspecto levado em conta é que a China vem assumindo um protagonismo que pertencia ao Brasil no comércio com a Argentina. “A China vem propondo soluções para a Argentina ao financiar a importação de produtos chineses. Estamos tentando construir soluções para o espaço que perdemos em função das restrições que a Argentina sofre hoje de acesso a uma moeda conversível”, enfatizou Galípolo.
Declaração conjunta
A Declaração Conjunta feita nesta segunda-feira, em Buenos Aires, pelos presidentes Lula e Fernández, registra que “em matéria de integração financeira e produtiva, coincidiram em avançar para o aprofundamento da relação bilateral, com instrumentos que aumentem e facilitem o comércio sem entraves, por meio da ampliação do uso do Sistema de Moeda Local (SML), incorporando o comércio de serviços e a implementação de linhas de crédito em Reais para dinamizar o comércio bilateral e facilitar os fluxos financeiros no sistema, aumentando a previsibilidade das transações.”
O documento ressalta ainda que os presidentes “acordaram iniciar estudos técnicos, incluindo os países da região, sobre mecanismos para aprofundar a integração financeira e mitigar a escassez temporária de divisas, incluindo mecanismos a cargo dos bancos centrais. Compartilharam também a intenção de criar, no longo prazo, uma moeda de circulação sul-americana, com vistas a potencializar o comércio e a integração produtiva regional e aumentar a resiliência a choques internacionais.”