Notícias
Desporto Escolar
Treinando em estradas do interior ou em pistas da capital, time do Pará acumula vivências nos JEB’s
O atletismo é uma das modalidades em que a diferença de condições de treinos é facilmente visível. Velocistas e fundistas de regiões mais estruturadas costumam ter à disposição pistas de qualidade, tênis adequados, cronometragem precisa, acompanhamento nutricional, acesso a academias e acompanhamento multidisciplinar. Outros, longe de centros urbanos, encaram treinos em estradas, em meio a carros e caminhões, penam para conseguir um calçado minimamente apropriado e se preparam na base do improviso, com professores voluntários.
A gente vem do interior de Acará, numa região a 15 quilômetros da sede do município. A gente vem aqui mais em busca de experiência, com o intuito de novos conhecimentos. A dificuldade é grande, mas depois que a gente consegue trazer um aluno de tão longe para vivenciar isso tudo, a gente fica lisonjeado e agradecido”
Walter Lins, técnico da equipe de atletismo do Pará
A delegação paraense nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) é exemplo disso. Onze meninos e meninas representam a Associação Esportiva e Cultural Integração (ASSEI). Eles estrearam na última quarta-feira, 9.11, na pista de certificação internacional da Universidade da Força Aérea (Unifa). Por lá treinaram atletas que disputaram os Jogos Olímpicos Rio 2016, no Rio de Janeiro. Uma estrutura que, para muitos, é longe da realidade a que estão habituados.
Walter Lins é retrato disso. O treinador acompanha crianças que dividem a estrada, o local de treino deles, com o fluxo de carros e caminhões. Em vídeo da preparação do time, ele aparece filmando os pupilos a partir do acostamento de uma rodovia em um veículo se deslocando lentamente enquanto os garotos correm na outra margem.
“A gente vem do interior de Acará, numa região a 15 quilômetros da sede do município. A gente vem aqui mais em busca de experiência, com o intuito de novos conhecimentos. A dificuldade é grande, mas depois que a gente consegue trazer um aluno de tão longe para vivenciar isso tudo, a gente fica lisonjeado e agradecido”.
Segundo ele, o trabalho é feito num mix de ação voluntária e paixão. “O trabalho é de coração, sem nada em troca. São coisas que a gente gosta mesmo. Eu, como professor da região, trabalho com os atletas, deixo muitas vezes de estar com a minha família, sou cobrado por isso, mas é o que escolhi para a minha vida”, disse Walter.
Um de seus atletas, que aparece correndo no acostamento no vídeo, é Dhemerson da Silva. Ele confessa que, num primeiro instante, achou que não tinha muito jeito para o atletismo quando uma amiga o convidou. Saiu de casa para experimentar mais pela curiosidade. Nas primeiras passadas, achou difícil, pensou que não conseguiria, mas devagarinho pegou jeito e gosto. Registrou a marca de pouco mais de oito minutos na distância de dois quilômetros e chamou a atenção dos técnicos para o seu potencial. “Agora não quero mais parar de correr”, resumiu.
Corridinha do Círio
O grupo paraense se divide entre os estudantes-atletas que se preparam no interior (Moju, Acará e Concórdia) e outros que treinam na capital e na região metropolitana de Belém (Ananindeua, Marituba e Coraci). “Belém até tem estrutura. Pista, lugares acessíveis, materiais, vitaminas, tênis… No interior é mais complicado. Por isso vale demais esse esforço para trazer toda a equipe aqui. A gente não pode deixar em branco essa oportunidade”, explica Diego Bernard, treinador e presidente da ASSEI.
Quando comecei não sabia nada. Só corria. Hoje em dia eu já sei as técnicas tudo, o jeito de fazer a corrida ser melhor”
Ryan Christian, atleta da equipe do Pará
Um dos atletas dele é Ryan Christian, de Belém, que deu as primeiras passadas na escola e ganhou motivação ao conseguir o título na Corridinha do Círio, uma das atividades paralelas conectadas à tradição religiosa do Círio de Nazaré na capital paraense. “Quando comecei não sabia nada. Só corria. Hoje em dia eu já sei as técnicas tudo, o jeito de fazer a corrida ser melhor”, orgulhou-se.
Outro patamar
Vice-presidente da Federação Paraense de Desporto Escolar (FPDE) e colaborador da ASSEI, Anadilson Silva avalia que a chance de trazer a delegação para uma competição como os JEB’s simboliza uma mudança de patamar, de horizonte, de perspectiva para todos.
“Aqui é o momento de realização de sonhos. Muitos dos nossos atletas estão aqui pela primeira vez. Treinaram para isso, estão deslumbrados com toda essa estrutura que os JEB’s oferecem. Vieram para dar o melhor de si”, afirmou o vice-presidente.
Ganhos em série
Mais do que ampliar horizontes, os treinadores enxergam no atletismo uma ferramenta de inclusão e de geração de novas perspectivas. “O atletismo trabalha a mente, areja o cérebro para atividades que você já faz ou quer fazer melhor, atua no desenvolvimento físico, no desenvolvimento motor, na autoestima. Traz benefícios até em situações como depressão e ansiedade”, detalhou Diego Bernard. “É um divisor de águas na trajetória de muita gente. Deveria ser mais difundido, e uma dessas formas de difusão está presente aqui nos JEB’s”, exaltou.
No primeiro dia de competições do atletismo na Unifa, a delegação paraense ficou aquém dos resultados que eles imaginavam. Nas semifinais femininas dos 80m rasos, Jislany do Carmo e Agatha Beatriz ficaram em 7º nas suas séries.
Nas semifinais masculinas da mesma prova, Aylan Frank e Ryan Christian ficaram na quinta colocação nas séries que disputaram. “Estou feliz por ter chegado aqui. Agradeço a Deus. Não foi o que eu esperava, mas vou treinar mais”, prometeu Aylan, de 14 anos. “Chegar aqui já é um grande passo e a tendência é melhorar”, completou Ryan, também de 14 anos.
Os JEB’s reúnem mais de 5,6 mil atletas de todas as Unidades da Federação para a disputa de 17 modalidades. As competições ocupam quatro sedes no Rio de Janeiro: Parque Olímpico da Barra, Universidade da Força Aérea, Centro Olímpico de Deodoro (basquete) e o Complexo Júlio Delamare, na região do Maracanã (natação).
Assessoria de Comunicação – Ministério da Cidadania