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Paris 2024
A menina de Samambaia que vai usar as raquetes para defender o Brasil em Paris
Foto: Willian Meira/MEsp
Em agosto, Daniele Souza embarca para a França. Na bagagem, leva suas raquetes, as petecas, as lições de seus técnicos, o amor de sua família e um tanto de coragem, suficientes para representar o Brasil nas quadras de badminton dos Jogos Paralímpicos. A gente sabe que esse já é um grande feito, e pode até ser mais, se vier com medalha. Mas esse é o fim da história. O começo... Esse a gente faz questão de contar a partir daqui.
O primeiro grande desafio de Daniele aconteceu ainda no Hospital Regional de Taguatinga, onde ela nasceu. Uma infecção hospitalar tomou conta do seu corpo e deu início a uma longa luta pela sobrevivência daquela menininha. Vencer essa etapa foi a primeira das muitas vitórias que, ela nem fazia ideia, ainda viriam pela frente.
Aos 11 anos as sequelas da infecção a colocaram definitivamente em uma cadeira de rodas. Foi um momento difícil. Dani entristeceu e ficou tímida. Chegou a pensar que sua vida estava encerrada. Mas a dúvida e o sofrimento que lhe tomaram de assalto não contavam com a determinação de seus pais, seu Nonato e dona Tereza. Nem mesmo a Daniele tinha noção da força motriz contida na mente e nos braços de sua mãe, que lhe dava apoio para ir e vir de qualquer lugar em sua cadeira de rodas, mostrando a ela que a vida seguia. E assim, afastava de vez qualquer medo ou vontade de desistir.
Foi assim, inicialmente, com a cadeira de rodas empurrada pela dona Tereza que ela descobriu o esporte. Foi matriculada, contra a própria vontade, no Centro Olímpico de Samambaia, cidade que ama e onde vive desde que nasceu. Alguma coisa dizia para a dona Tereza que era ali que a filha descobriria um novo caminho para dar mais sentido à vida. E foi mesmo.
Hoje, quando relembra a sua história, Daniele reconhece que no início não queria saber de esporte. Mas não demorou muito para se apaixonar, ao perceber a alegria de treinar entre os atletas do parabadminton. “Primeiro eu experimentei o tênis adaptado para pessoas em cadeiras de rodas. Mas não gostei muito de ficar várias horas no sol. Aí, fui convidada a conhecer o parabadminton. Me apaixonei na hora, mas guardei pra mim. Não queria confessar que estava gostando do esporte. Só que não deu pra esconder por muito tempo. Era o esporte dando uma virada na minha vida”, diz ela, com um sorriso no rosto.
O esporte tem mesmo essa característica. Daniele não está sozinha em sua constatação. Há milhares de exemplos espalhados por todo o Brasil de pessoas com deficiência que não sabem o que fazer de suas vidas, atravessadas pela exclusão social provocada pelo capacitismo. Elas acham que o fato de ter algum tipo de deficiência é fator impeditivo para serem reconhecidas e respeitadas em sua autonomia. Muitas delas só conseguiram vencer esse jogo do preconceito social quando se dedicaram a algum tipo de atividade esportiva.
Os dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad revelam que existem no Brasil 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Isso significa 8,9% da população com 2 ou mais anos de idade. Mais da metade são mulheres e o maior percentual de pessoas com deficiência, 5,8 milhões, está no Nordeste. A pesquisa mostra também que as pessoas com deficiência estão menos inseridas no mercado de trabalho, nas escolas –, e, por consequência, têm acesso à renda mais dificultado.
Por isso, a história de vida da Daniele Souza ganha mais relevância. Ela é a prova de que o esporte pode ser uma ferramenta de inserção, de inclusão social. Mostra que é possível respeitar as pessoas pelas suas capacidades e não, discriminá-las pelas deficiências.
Suas conquistas nas quadras não deixam dúvidas, estamos diante de uma campeã. Daniele foi medalha de ouro no parabadminton simples feminino e prata nas duplas femininas WH1-WH2 nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; bronze no individual nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019; prata no individual no Pan-Americano da modalidade de 2018, no Peru.
Como dissemos lá no início, em agosto ela embarca para a França. Seu Nonato e dona Tereza ficam aqui na torcida. Enquanto a Daniele vai usar a técnica e a coragem tão características de sua vida para mostrar o valor dessa gente brasileira. A medalha? Pra ela vai ser um detalhe. Certeza, mesmo, é de que a menina tímida de Samambaia, hoje aos 31 anos de idade, se transformou em uma mulher valente e determinada. É ela quem nos diz: “Eu sou o Brasil em Paris!” Alguém se arrisca a duvidar?
Assessoria de Comunicação - Ministério do Esporte