Fique de Olho - Newsletter 01/2022
Oportunidades para alimentos plant-based no Reino Unido
Bruno Capuzzi, Analista de Acesso a Mercado, ApexBrasil Europe
Patrícia Steffen, Analista de Acesso a Mercado, ApexBrasil
Os alimentos plant-based são produtos à base de plantas com objetivo de substituir a proteína de origem animal, procurando reproduzir o sabor e a textura dessa última. Em sua preparação, muitos deles utilizam produtos orgânicos, com produção sustentável, e matérias-primas selecionadas e de qualidade – o que aumenta o apelo junto ao consumidor. O uso da tecnologia tem sido um aliado na produção desses alimentos substitutivos.
A categoria de alimentos atende não só aos consumidores que procuram uma dieta vegana, mas também aos adeptos de uma alimentação mais saudável. Além disso, há uma crescente preocupação dos consumidores com o bem-estar animal e questões ambientais em relação à produção de laticínios e carne. Segundo dados do Euromonitor, mais de 42% da população mundial teria algum tipo de restrição a produtos de origem animal.
Entre as categorias de produtos plant-based, a indústria de substitutos ao leite de origem animal é uma das maiores, com vendas globais no valor de US$ 19,48 bilhões em 2021, e até 2026, a previsão é que as vendas cheguem a US$ 37 bilhões. O mercado também se estende a iogurtes, queijos, sorvetes, cremes e leite condensado[1].
Além do mercado para substitutos de lácteos, a indústria de produtos de origem vegetal em substituição à carne é significativa. As vendas globais desses produtos representaram US$ 7,7 bilhões em 2021, com projeções de alcançarem US$ 16 bilhões em 2026[2].
O mercado tem atraído expressivas cifras de investimentos internacionais, no Brasil e no mundo. Uma pesquisa do Good Food Institute (GFI) revela que as empresas globais de proteínas alternativas receberam US$ 3,1 bilhões em investimentos em 2020. No ano anterior, esse valor havia sido de US$ 1 bilhão e, em 2018, US$ 694 milhões[3].
O Reino Unido: um mercado de grande potencial
Pesquisas de mercado apontam tendência de crescimento das dietas vegetarianas, veganas e flexitarianas[4] no Reino Unido. Um estudo recente da Ipsos Mori (2022) mostrou que quase 46% dos britânicos com idades entre 16 e 75 anos consideram reduzir a ingestão de produtos de origem animal “no futuro”[5].
A pesquisa indica, ainda, que 48% dos adultos britânicos já consomem produtos alternativos ao leite animal em sua dieta, sendo as opções mais populares o leite de amêndoa (22%), leite de aveia (20%) e leite de coco (17%). Além disso, 58% dos adultos consumiriam pelo menos um produto à base de plantas, com objetivo de substituir a carne em sua dieta. As alternativas mais populares entre os adultos foram carne vegana, como Quorn (29%), e pratos elaborados com legumes, como macarrão de grão de bico ou hambúrguer de feijão (28%).
A demanda do Reino Unido por alternativas ao consumo de carne e laticínios cresceu 10,2%, em 2020, para cerca de US$ 1,072 bilhão[6] em 2020 no varejo. A previsão é que as vendas cheguem a US$ 1,912 bilhão. Isso apresenta uma oportunidade para produtos congelados, produtos refrigerados, e produtos estáveis que aguentem transporte de até 4 semanas atendendo às condições de vida na prateleira. Além disso, há também uma demanda significativa por uma variedade de marcas e produtos inovadores.
Além das preocupações com a saúde, questões éticas de bem-estar animal desempenham papéis importantes para que os consumidores britânicos se interessem cada vez mais por dietas vegetarianas, veganas e flexitarianas. Ademais, a sustentabilidade ambiental tem se tornado um fator de elevada importância na sociedade civil, com ampla cobertura da mídia devido à pegada de carbono das cadeias produtivas. Nesse contexto, cidades com alta concentração percentual de estudantes, como Brighton e Bristol[7], possuem maior disponibilidade de produtos veganos e vegetarianos nas cidades, em comparação com regiões rurais onde o setor agrícola desempenha um papel maior e os consumidores têm uma dieta mais tradicional.
Grandes empresas frigoríficas também estão investindo nessa categoria de alimentos. Em abril de 2021, a empresa norte americana, Beyond Meat, lançou seus produtos em 445 lojas de varejo em todo o Reino Unido, enquanto a cadeia de varejo Iceland dobrou sua oferta à base de plantas em janeiro de 2021. Além disso, as cadeias de serviços de alimentação estão aproveitando a crescente demanda por carnes alternativas, com a popular cadeia de restaurantes casuais, Nando’s, lançando produto substituto à carne de frango à base de plantas em outubro de 2020. No Reino Unido, os canais de vendas não baseados em loja (non-store-based) apresentam-se como os mais promissores e podem ser melhor explorados[8].
O Brasil como exportador de alimentos plant-based
Como se sabe, o Brasil é um grande produtor de diversos tipos carnes (bovina, frango e suína), e é o maior exportador de carne bovina. Com esse mercado já consolidado, há um grande potecial para tornar-se, também, fornecedor de proteínas à base de plantas , e algumas empresas brasileiras já voltam os olhos para o mercado externo.
No sistema harmonizado (SH) de classificação aduaneira não existem, até o momento, códigos específicos para produtos plant-based, e o código utilizado para registrar dados de comércio é a subposição SH6 “2106.90 - Outras preparações alimentícias”. De acordo com dados do TradeMap, o Reino Unido é um importador líquido dos produtos contidos nesse código. Em 2021, o país foi o quinto maior importador mundial, com US$ 1,45 bilhão em importações, o que representou montante 21,53% menor do que o de 2020 (US$ 1,85 bilhão). Apesar da queda em 2021, a média importada foi de US$ 1,84 bilhão ao longo dos 4 anos, o que demonstra estabilidade nas importações do país.
Na relação bilateral com o Brasil, o Reino Unido importou, nessa subposição (SH6), US$ 3,3 milhões em 2021, 24,27% a mais do que no ano anterior. Contudo, como as análises são realizadas com base no mencionado código SH6, é necessário cautela, uma vez que a posição engloba outros produtos que não pertencem à categoria plant-based. Como os substitutos de carne ainda são um produto relativamente recente, ainda há vários desafios pela frente em relação à regulamentação/classificação, inclusive o de dispor de código próprio, de modo condizente com a crescente relevância que assume na alimentação em vários países do mundo.
Regulamentação
De acordo com informações de workshop realizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e pela ANVISA, a maioria dos países não possui regulamentação específica para produtos plant-based. Alguns, contudo, constituiram grupos de trabalho avaliando a regulamentação do tema (Argentina, Índia, Japão e Singapura, entre outros), ou já publicaram guias de orientação[9].
No Reino Unido, apesar do aumento verificado no consumo de alimentos plant-based, ainda não existiria legislação para importação de alimentos dessa categoria. Entretanto, todos os alimentos precisam atender às legislações locais, independentemente da fonte alimentar. No caso do Reino Unido, o site food.gov.uk oferece informações sobre procedimentos para importação de produtos de origem vegetal e produtos vegetarianos - como certificados fitossanitários, restrições às importações e documentos necessários.
No que concerne à legislação, a descrição dos produtos deve indicar o que constitui o alimento, não obstante haveria dúvidas em relação às terminologias, no caso dos alimentos plant-based. No Reino Unido, termos como leite, queijo, manteiga e iogurte são protegidos e devem referir-se apenas a produtos de origem animal - o que dificulta a descrição de produtos plant-based substitutos aos lácteos. Já os substitutos às carnes têm menos problemas, e podem valer-se de termos como “alternativo” e “similar” para descrevê-los.
No Brasil, o Governo Federal vem avançando nas etapas necessárias para a regulamentação de alimentos plant-based. Em junho do ano passado, o MAPA publicou a Portaria nº 327/2021, com vistas a coletar subsídios para fomentar a discussão sobre a regulação desse tipo de produto[10]. Em março de 2022, foi divulgado o resultado da tomada pública - que é o primeiro passo para a regulamentação[11].
[1] Fonte: Statista.
[2] Fonte: Statista.
[3] Fonte: GFI - https://gfi.org.br/2021/05/07/2020-teve-investimento-recorde-de-us-31-bilhoes-em-proteinas-alternativas-mas-brasil-ainda-tem-espaco-para-crescer/
[4] Dietas flexitarianas são dietas que buscariam equilíbrio, privilegiando a alimentação vegetariana, mas admitindo o consumo eventual de carne.
[5] Fonte: Ipsos - https://www.ipsos.com/en-uk/almost-half-uk-adults-set-cut-intake-animal-products
[6] Fonte: Statista.
[7] Fonte: Fitch Solutions.
[8] Fonte: Statista.
[10] https://www.foodconnection.com.br/especialistas/vem-ai-o-marco-regulatorio-de-alimentos-%E2%80%9Cplant-based%E2%80%9D
[11] Fonte: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mapa-vai-regular-mercado-de-plant-based-para-garantir-concorrencia-justa#:~:text=O%20Minist%C3%A9rio%20da%20Agricultura%2C%20Pecu%C3%A1ria,animal%20e%20de%20origem%20vegetal.