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CENÁRIO
PIB sistematicamente acima das previsões sugere maior potencial de crescimento
Nos últimos três anos, o crescimento da atividade econômica brasileira superou tanto as estimativas de mercado quanto as do próprio governo. Partindo dessa constatação, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia (SPE/ME) investiga uma série de indícios de que há uma alteração na tendência de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que ainda não é capturada de forma plena pelos modelos de predição do mercado.
Segundo a 'Nota Informativa - Fundamentos para o maior crescimento econômico' , os modelos de projeção tendem a incorporar com grande defasagem essas mudanças estruturais que transparecem em alguns vetores, além dos erros de projeção, como a elevação na taxa de investimento, a maior participação de bens de capital nas importações, a realocação do emprego, seja pela elevação da participação do emprego formal ou pela maior contribuição de setores como tecnologia de informação e serviços técnico-profissionais, que têm maior produtividade.
Começando pelos erros de projeção, a SPE avalia que é possível que a diferença superior a dois desvios-padrão do valor realizado e da mediana projetada pelo mercado, por três anos consecutivos, indique alteração da tendência de crescimento, conforme indicado em artigos acadêmicos.
Para ilustrar essa diferença recorde entre o PIB projetado e o realizado, a SPE lembra que, em março de 2022, a projeção mediana para o crescimento do ano capturada pelo boletim Focus, do Banco Central, era de apenas 0,3%, contra prognóstico de 1,5% da SPE. Agora, a mediana de mercado é de 2,76%, já acima dos 2,7% estimados pela Secretaria.
Segundo a SPE, esses mesmos fundamentos para o crescimento ocorridos nos últimos anos estarão presentes em 2023, e tal constatação também serve de base para o prognóstico de crescimento superior à mediana do mercado de apenas 0,7%.
A diferença suscita discussões no mercado e na academia, e, como forma de contribuir para o debate, a SPE apresentou um cálculo mostrando que o intervalo de crescimento para o próximo ano está entre 1,4% e 2,9%, considerando o carregamento estatístico, o padrão histórico de crescimento e o crescimento mais forte no primeiro semestre – como tem ocorrido nos últimos anos.
“O primeiro argumento para a estimativa de crescimento do PIB superior às estimativas atuais de mercado baseia-se nas taxas de crescimento anualizadas recentes”, diz o documento. Nos últimos quatro trimestres, o crescimento anualizado do PIB foi de 3,2% – o maior observado desde setembro de 2013, com exceção dos períodos de retomada econômica. Se forem considerados os últimos três trimestres, a taxa de crescimento anualizado foi de 4,2%, a maior desde dezembro de 2012, excluindo os períodos de retomada. Os valores recentes não indicam um crescimento fraco para 2023.
Crescimento de longo prazo
A nota destaca o efeito do investimento no crescimento tendencial, período de transição para um novo estado estacionário: “A elevação da taxa de investimento e a maior participação da importação dos bens de capital em razão do PIB tendem a elevar o crescimento brasileiro.”
A taxa de investimento da economia brasileira cresceu de forma consistente nos últimos anos e atingiu 18,7% como proporção do PIB no segundo trimestre de 2022.
Conforme a SPE, o crescimento de longo prazo não é afetado pela elevação da taxa de investimento. No entanto, o aumento desse indicador proporciona maior crescimento no período de transição para o maior nível de produto por trabalhador.
As estimativas elaboradas no estudo mostram que uma ampliação do investimento de 14% para 18% eleva o crescimento do PIB em 0,7 p.p. no período de transição, em todos os cenários de crescimento da Produtividade Total dos Fatores (PTF), que variaram entre -1,5% e 1,5%. Além disso, é possível verificar que, se a taxa de investimento em relação ao PIB estiver entre 18% e 20% e o crescimento da PTF for de 0,0%, a elevação do PIB estará entre 2,0% e 2,4%. Estimando uma PTF de 0,5%, o crescimento do PIB fica entre 2,6% e 2,9%.
Além disso, há uma nova estimativa dos investimentos esperados via parcerias e concessões para 2023, com a adição de cerca de R$ 82 bilhões, o que representa uma elevação de aproximadamente 10% em relação à estimativa para 2022.
Os montantes previstos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) também devem ser considerados no volume de investimento atual. No PPI, a estimativa é de que a contratação de investimentos (2019 a 2022) nos setores de infraestrutura seja da ordem de R$ 1,3 trilhão, considerando valores a serem executados em todo o período de análise. A nota da SPE destaca, nesse contexto, a participação do volume das importações brasileiras de bens de capital em relação ao PIB, que tem se elevado e atualmente se encontra no máximo histórico da série.
Mercado de trabalho
O mercado de trabalho é outro aspecto que deve ser observado de modo atento nas estimativas de crescimento para 2023, pois segue em trajetória de recuperação. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, a taxa de desocupação recuou para 8,5% em agosto de 2022 – uma queda de 4,2 pontos percentuais na comparação interanual. A população ocupada, na série mensalizada e com ajuste sazonal divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atingiu cerca de 99,9 milhões de pessoas em agosto de 2022, registrando um patamar superior ao período anterior à pandemia.
A realocação do emprego – seja pela elevação da participação do emprego formal em detrimento ao informal, cujo produto por trabalhador é menor, seja pela maior contribuição dos setores nos serviços que apresentam maior produtividade por trabalhador (serviços de tecnologia de informação e serviços técnico-profissionais) – indica melhora do crescimento tendencial.