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Na ponta dos dedos
Projeto EducaAção desenvolveu alfabeto em braile para acolher paciente cega
Uma paciente de 10 anos, internada no Hospital Universitário de Santa Maria para transplante de medula, teve contato – pela primeira vez – com o alfabeto em braile criado no hospital. A iniciativa foi da coordenadora, Jane Schumacher, e das acadêmicas dos Projetos EducaAção e Lúdico Pedagógico, que contou ainda com o apoio de colega da Radioterapia para impressão das peças.
Em tratamento contra Leucemia Linfoide Aguda (LLA), desde de 2021 no HUSM, Rebeca da Silva Machado, 10 anos, realizou em julho desse ano o transplante de medula. Durante a internação, sensibilizadas pela história da menina – que perdeu a visão em abril desse ano, em decorrência da doença – duas acadêmicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que atuam nos projetos, decidiram se empenhar ainda mais para acolhê-la. Pesquisaram na internet o modelo para imprimir o alfabeto em braile e buscaram apoio na Unidade de Hematologia e Oncologia – onde está uma das impressoras 3D do hospital – para dar vida as peças.
Foram três semanas de contato com a paciente, até a alta da garota. As visitas das voluntárias, do curso de Educação Especial, exigiram um grande controle para desinfecção – tanto das peças quanto das acadêmicas – para poderem desenvolver as atividades junto ao leito. Nas duas vezes por semana que iam ao leito precisavam usar máscara, prender o cabelo, higienizar as mãos e usar avental.
- A menina queria saber como éramos. Então, criamos o hábito de, a cada nova visita, fazer a audiodescrição de como estávamos vestidas. Um dia, ela pediu para tocar no cabelo da acadêmica Laura e ficou muito feliz em saber que era igual o dela – conta Leocinara Julião, acadêmica de Educação Especial.
Para introduzir a leitura em braile, as acadêmicas desenvolveram o chamado tapete sensorial, com objetivo de estimular a habilidade tátil. O tapete era um envoltório de plástico bem fino, que Rebeca pegava na mão. Dentro, eram colocados materiais como sagu, fibra para enchimento, feijão, linha, canjica, erva-mate para ela sentir as texturas e afinar o tato. Também foram usadas colheres plástica (como matéria de contagem usado como suporte na realização das contas) para ela fazer cálculos.
- Foi uma experiência única e muito gratificante. Ela não era alfabetizada em braile, mas estava sempre pronta para aprender. Ao invés de sairmos do setor cansada, saímos renovada e com vontade de buscar mais recursos para o aprendizado dela – afirma Laura Ferreira Padilha, acadêmica de Educação Especial.
As peças do alfabeto são parecidas com peças de lego, porém, com encaixes laterais. Cada uma remete a uma letra do alfabeto que muda conforme a presença e disposição de pequenos pinos que preenchem a superfície perfurada da peça.
- A quantidade de pinos e a posição que ele ocupa na peça corresponde a uma letra do alfabeto. A primeira palavra que formamos foi o apelido da irmã mais nova – que foi a doadora da medula: Lolo. Assim que tateou a primeira sílaba, percebeu que as letras se repetiam na próxima e já falou em voz alta a palavra formada – recorda Leocinara.
Rebeca já está em casa. Voltará ao hospital para consultas e seguir o tratamento.
- Não tivemos outras crianças com perda de visão no CTMO. Isso aconteceu por complicações do tratamento dela antes do Transplante. Esse projeto é de vital importância, pois inclui crianças com deficiência nas rotinas da unidade e no convívio social – acredita o médico hematologista Gustavo Brandão Fischer.