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Minha história com o HU-UFSC
“Nossa inspiração é a nossa história”
O repórter fotográfico Antonio Carlos de Oliveira Mafalda, 74 anos, já cobriu a Guerra das Malvinas, acompanhou grandes líderes europeus, participou de eventos de Estado no Japão, conheceu praticamente todos os estados brasileiros e cobriu quatro Copas do Mundo, mas nunca esteve preparado para ouvir de um médico, em 2013, que estava com câncer e sua única chance seria ser bem-sucedido em um transplante de fígado. O mesmo médico, porém, deu um caminho: “A solução está no quintal de sua casa”.
Esse quintal era o Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC/Ebserh), em Florianópolis, onde o gaúcho Mafalda morava há alguns anos. Com um serviço de transplante hepático em funcionamento desde 2011, o Núcleo de Transplante Hepático já contava com uma equipe multidisciplinar que acolheu o fotógrafo. Desde então, ele se tornou um dos maiores incentivadores da doação de órgãos e um símbolo da luta pela vida associada a um serviço de excelência em Santa Catarina.
Hoje, é difícil andar com Mafalda pelos corredores do HU, onde é acompanhado até hoje, sem que ele seja parado para abraços calorosos. “Essa acolhida carinhosa aconteceu desde o primeiro momento em que pisei aqui e continua até hoje e eu procuro retribuir divulgando este trabalho e incentivando a doação”, explicou Mafalda.
Tudo começou em 2013. Durante um trabalho no Japão, sentiu dores. Ao voltar para o Brasil, ele procurou atendimento médico e logo foi encaminhado para São Paulo, onde ouviu aquele diagnóstico. “O médico era professor de vários médicos aqui do HU e disse que aqui eu ia encontrar os serviços de que precisava”. Fez os exames e, nove meses depois, estava na mesa de operação para receber um novo fígado.
“Apesar de ser uma pessoa conhecida, com vários contatos, percebi de imediato o trabalho ético e sem favoritismos que essa equipe desenvolvia. Minha confiança cresceu cada vez mais no contato com estes profissionais do HU e com os demais pacientes”, relatou Mafalda, que contava com o apoio da esposa, das filhas, do genro e de um amigo para se tratar após o transplante.
Durante o período de espera, porém, Mafalda estreitou os laços com os profissionais do HU e com os demais pacientes e tem uma história que gosta de lembrar: “Havia uma mocinha de 16 anos e que estava precisando de um transplante e eu falei para todos que se eu, que estava em sua frente na fila, recebesse um fígado, cederia a vez para ela. Por conta disso, sua família ficou minha amiga. Ela recebeu o fígado antes e tocamos a vida, mas com certeza eu imaginava que ela teria prioridade e gostaria que todos, jovens e idosos, tivessem o privilégio de receber um órgão quando precisassem”.
O período de recuperação é sempre cheio de dúvidas e incertezas para quem faz um transplante, mas não para Mafalda, que aproveitou aqueles momentos para fortalecer suas esperanças e buscar uma forma de renovação. “Sempre fui autodidata e comecei a ler bastante e nesta fase li os livros do fotógrafo David DuChemin, que me inspirou a buscar um propósito na vida e ajudar as pessoas que passavam por histórias com a sua". “Eu tenho de fazer algo por vocês”, pensava.
Hoje, com 74 anos, proprietário de uma agência de fotografia, Mafalda fala sobre transplantes em entrevistas e palestras. Faz questão de contar sua história. Recentemente, participou do projeto Cicatrizes, fotografando atletas transplantados, que foi apresentado numa exposição em São Paulo e em breve virá para Santa Catarina. Sua meta, hoje, é fazer trabalhos fotográficos e, com isso, se autofinanciar para continuar contando sua história.
“Eu não posso parar e não quero que as pessoas parem. Temos que seguir em frente e nossa inspiração é nossa história”, ensina o veterano, antes de pegar a máquina fotográfica e orientar o jornalista sobre o melhor local para tirar uma foto sua e ilustrar esta matéria.