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MEDICAMENTO
Entenda como a cetamina pode ser usada em tratamento de depressão severa
A comunidade científica internacional reconhece a cetamina e derivados como uma das maiores revoluções em saúde mental das últimas décadas. O Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), tem, inclusive, um Ambulatório dedicado à cetamina, tamanha a importância do medicamento.
O debate sobre uso da substância foi exposto após a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, na última semana, em Manaus (MA), cuja causa está associada a uma possível overdose da substância. Mas, afinal, uma substância que pode levar à dependência e é usada como anestésico pode também ter seu uso em tratamento clínico e eficaz?
Para jogar luz ao debate sobre essa substância considerada multifacetada, foi consultada a psiquiatra Valéria Pereira Silva, do ambulatório de Infusão de Cetamina do HU-UFSC.
A medicação Cloridrato de Cetamina foi sintetizada em 1962, nos Estados Unidos. A droga, inicialmente, foi desenvolvida para uso anestésico e mostrou, ao longo do tempo, ser uma droga bastante segura, de rápida ação, com poucos efeitos adversos. Desde a sua aprovação, vem sendo amplamente usada em todo o mundo para fins anestésicos. “Desde o início de sua utilização como anestésico, já se observava que pacientes submetidos ao uso tinham menos ansiedade e depressão. Em 2020, o psiquiatra Bermam e cols. publicaram um trabalho sobre os efeitos da cetamina na depressão e, desde então, a droga foi amplamente estudada para essa finalidade, comprovando sua eficácia e superioridade no tratamento de quadros depressivos mais graves e resistentes às medicações convencionais, benefício em pacientes com ideação suicida e no tratamento de pacientes com dores crônicas”, explica a médica.
Em 2019 a cetamina foi aprovada pelo FDA para uso no tratamento de depressões resistentes. FDA (Federal Drug Administration) é o órgão governamental dos Estados Unidos que faz o controle dos alimentos (tanto humano como animal), suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano. A cetamina também está presente na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Hoje sabemos que o sistema glutamatérgico está relacionado com a fisiopatologia da depressão e que a cetamina atua modulando esse sistema e melhorando os quadros depressivos de maneira mais rápida e mais potente quando comparada aos antidepressivos de uso oral”, saliente Valéria.
Além do uso no tratamento da depressão resistente aos medicamentos orais, a cetamina em psiquiatria também pode ser usada em pacientes com ideação suicida, com bons resultados, e também no tratamento de pacientes com quadros de dor crônica. Além disso, a cetamina segue sendo amplamente utilizada em centros cirúrgicos, como droga anestésica.
“O uso da cetamina para o tratamento da depressão é feito por aplicação intranasal ou por infusão, que pode ser endovenosa ou subcutânea. Todas essas formas de aplicação devem ser realizadas em ambiente hospitalar ou em clínicas apropriadas, com monitorização do paciente durante todo o procedimento”, afirma a psiquiatra.
No HU-UFSC o ambulatório de infusão de cetamina atende pacientes oriundos exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) e que atendam os critérios para esse tipo tratamento, ou seja, pacientes com diagnóstico de depressão maior grave e que sejam hiporresponsivos aos tratamentos antidepressivos orais atualmente disponíveis.
Rede Ebserh
O Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Rede Ebserh) desde março de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.